Trabalhar o estanho na Academia Sénior da Guarda

Artesã Maria José Ferreira, 79 anos

A artesã Maria José Ferreira, de 79 anos, residente na cidade da Guarda, faz bordados, peças em estanho, tapetes de arraiolos e pinturas a óleo e é formadora na Academia Sénior da Guarda (que tem instalações no edifício da Escola do 1.º Ciclo do Ensino Básico Augusto Gil).
Maria José Ferreira dedica algum do seu tempo livre a fazer, em maior número, bordados (toalhas e naperons) de vários pontos (bainhas abertas e bordados tradicionais) e aplicações de estanhos (sobre vidro, madeira, tecido e cabedal). Das suas mãos já saíram duas peças, com motivos religiosos, que se encontram na Sé Catedral da Guarda e na capela da Casa Paroquial das Paróquias da Sé e de São Vicente, na Guarda.
A artesã contou ao Jornal A Guarda que sempre teve “muito jeito para trabalhos manuais. Sempre tive muito jeito para os bordados logo na escola. Depois, fui fazendo e nunca mais parei. O estanho surgiu há cerca de 25 ou 30 anos. Aprendi a dar os primeiros passos com uma senhora e depois fui aperfeiçoando a técnica”.
“Eu faço estas coisas para passar o tempo e para oferecer às pessoas amigas e aos familiares. Já estou reformada e vou ocupando assim o meu tempo. São estas coisas que me têm ajudado a viver ao longo de 39 anos, pois se não me tivesse agarrado ao trabalho, teria sido mais difícil superar a morte do meu marido”, afirmou a artesã e formadora.
Há cerca de 4 anos, Maria José Ferreira começou a dar formação, na arte de trabalhar o estanho, uma vez por semana, aos alunos da Academia Sénior da Guarda. Antes disso, durante cerca de 8 anos, deu formação nas áreas do estanho e dos bordados na Associação ADM Estrela, na Guarda, e em Famalicão da Serra. Também já deu formação de tricot em máquinas.
A artesã gosta daquilo que faz e se lhe dessem a escolher entre o estanho e o bordado, diz que “não escolhia”, porque gosta “tanto de uma coisa como de outra”. No entanto, assinala que “nos bordados estou sentada e nos estanhos é preciso uma mesa”. “As pessoas a quem ensino aderem mais ao estanho, porque o bordado está mais generalizado e praticamente toda a gente faz. Com o estanho é diferente, exige muita técnica”, referiu. Contou que as peças de estanho dão “muito trabalho” a fazer “e é preciso ter muita paciência”. Explicou que primeiro é preciso analisar o desenho do motivo que vai fazer (uma cruz, a imagem de Nossa Senhora, flores, etc.) e depois é necessário ampliá-lo ao tamanho que se pretende. “Depois passamos para o estanho e os decalcos levam muito tempo. O decalque é feito do avesso e depois é cheio com uma massa. Essa massa seca e depois tem que se recortar. Entretanto, como o estanho é claro, ainda leva um tratamento para não oxidar”, contou ao Jornal A Guarda. “O estanho dá muito trabalho mas confesso que me dá muito prazer”, disse, lembrando que fez uma cruz, que aplicou em madeira, que “levou muito tempo, porque tem muita coisa pequenina, muito pormenor”.
A mulher reformada dedica-se ao artesanato para ocupar os seus dias, admitindo que, se fosse para viver “não conseguia, porque o trabalho artesanal não compensa”. A artesã também reconhece que o interesse dos mais novos pelo artesanato poderia ser incentivado se na Guarda houvesse uma loja onde pudessem vender os seus produtos directamente ao público.
Maria José Ferreira lembrou que já fez exposições na Câmara Municipal da Guarda e tem recebido convites para expor fora da cidade, mas como não tem carta de condução, todos têm sido recusados.

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