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“Tenho a graça de ter levado aos altares dois beatos, uma leiga mestiça e um padre bem negro, filho de escravos”

Entrevista: D. Diamantino Prata de Carvalho, Bispo Emérito de Campanha – Brasil

Diamantino Prata de Carvalho nasceu, a 20 de Novembro de 1940, em Manteigas. Trabalhou na Casa Veritas, na Guarda, estudou em Gouveia e, mais tarde na Alemanha, na Bélgica, no Brasil e em Itália. Foi ordenado padre no dia 10 de Dezembro de 1972. No dia 25 de Março de 1998 foi nomeado sexto bispo da diocese de Campanha e recebeu a ordenação episcopal no dia 2 de Maio desse mesmo ano. Escolheu para lema episcopal “Servir com alegria”. Foi Bispo de Campanha entre 1998 e 2015.
A GUARDA: D. Diamantino como vê o regresso a Manteigas onde apresentou um livro sobre a sua vida?
D. Diamantino: Na verdade, eu contribui para o livro mas quem o apresentou foi um amigo de longa data, o Dr. Albino Leitão. Quem colaborou na escrita do livro foi a Dona Daniela Costa, mas a iniciativa, na verdade veio de um sobrinho meu, Rui de Carvalho. É uma obra a várias mãos, se bem que eu é que forneci o material, os dados, os episódios, os eventos e os acontecimentos da vida e da missão que eu exerci ao longo de oitenta anos.
A GUARDA: Oitenta anos ao serviço do Povo de Deus de muitas maneiras?
D. Diamantino: Comecei em criança a brincar de padre, aqui em Manteigas, no fundo da Enxertada (lugar de Manteigas), com as crianças da vizinhança, fazendo procissões, imitando o padre na celebração da Missa. Eu creio que a minha vocação nasceu por aí. Depois deu muitas voltas, andando para lá e para cá, até que encontrei o Seminário na Bélgica, eu morava na Alemanha naquela altura, que pertencia à Ordem dos Frades Menores, os Franciscanos lá me inscrevi, aceitaram-me e mandaram-me para o Brasil, há cinquenta e cinco anos atrás e lá estou até hoje.  
A GUARDA: Uma experiência bem diferente da que estava habituado?D. Diamantino: No Brasil é tudo diferente. Embora tenhamos a mesma língua, um pouco da mesma cultura, as tradições, mas a dinâmica é maior. Eu só tenho de dar graças a Deus porque fui para lá como missionário e sinto-me como missionário até hoje. Eu tive a graça de ordenar 69 padres para a Diocese, nos 17 anos 6 meses e 23 dias que fui Bispo e já ordenei mais dois religiosos depois de emérito. Como Bispo Titular também ordenei uns trinta presbíteros religiosos. Já passou da casa dos cem, as ordenações que eu efectuei. Também tenho a graça de ter levado aos altares dois beatos, uma leiga mestiça e um padre bem negro, filho de escravos. Eu sou feliz ao ver tudo coroado com tantas bênçãos de Deus e com tanta amizade que a gente foi adquirindo ao longo da vida. 
A GUARDA: Como recebeu a notícia de nomeação de Bispo?
D. Diamantino: Na verdade eu estava, como religioso obediente, a ser enviado para Angola. Eu mesmo me ofereci voluntariamente. E nesse meio tempo em que eu me dirigi ao Rio de Janeiro, para entregar a papelada necessária no Consulado Geral de Angola, nessa altura apareceu-me um padre com uma carta que me era endereçada. Ele tinha dito que era um pacotinho para um missionário em Angola mas, na verdade, era a minha nomeação para Bispo da Diocese da Campanha, que estava vacante há dois anos. Eu relutei em aceitar pois já estava enviado para Angola com a carta do meu Provincial. O padre disse-me que eu era obediente e serviçal e por isso disse-me para aceitar ser Bispo porque o nosso Prior maior é o Papa. 
A GUARDA: Como Bispo Emérito, como é que ocupa o seu tempo?
D. Diamantino: Sou capelão de um Mosteiro de Carmelitas Descalças. Cederam-me uma casinha na cidade de Três Pontas, onde fizemos a beatificação do padre Vitor. Celebro Missa para elas todos os dias às sete da manhã, tomo o pequeno-almoço com as externas e depois vou para casa. Atendo algumas confissões. Antes da pandemia ajudava na paróquia, na celebração da Missa ao Domingo, tanto de manhã como à tarde. Lá os padres não têm preguiça, eu celebrava duas missas de manhã e duas à tarde. Durante a semana tenho o compromisso com as carmelitas e depois às vezes ainda celebro mais uma missa nas novenas ou nas festas do padroeiro. Neste tempo de pandemia celebro só diariamente às sete da manhã. 
A GUARDA: Gosta de vir a Manteigas?
D. Diamantino: Costumo vir a Manteigas de dois em dois anos. Eles querem que eu venha todos os anos mas é muito dispendioso e depois, com esta idade, já não há tanta vontade para viajar. Venho sempre que posso para visitar a família. Ainda tenho irmãs aqui, em Manteigas. Tenho mais dois irmãos no Brasil. Gosto de vir a Manteigas, até para animar um pouco aqui a terra e também para conviver. Gosto de vir a Manteigas, é a minha terra. Aqui nasci há oitenta anos atrás.A GUARDA: E a sua passagem pela Casa Veritas, na Guarda, como aconteceu?
D. Diamantino: Fui para lá com treze anos e meio e saí de lá aos dezasseis e meio. Fui tipógrafo, aprendi a imprimir. Ajudei a irmã Joaquina no linotype, compondo os artigos para o Jornal A GUARDA, fazendo os trabalhos de tipógrafo. Quando fui para a Alemanha também fui fazer o mesmo trabalho nos Missionários de são João Baptista. Foi um trabalho bonito. Tive muita convivência com o monsenhor Mendes de Matos, como o cónego Afonso Sanches de Carvalho. Tive um bom relacionamento com as Irmãs Servas de Nossa Senhora de Fátima que até as levei para o Brasil, em 2002. Agora fugiram para Belo Horizonte. Estiveram na minha Diocese 15 anos e agora preferiram ir para Belo Horizonte que é capital do nosso estado de Minas Gerais. 
A GUARDA: O que é que gosta de fazer quando tem algum tempo livre?
D. Diamantino: Gosto de ler, de estudar um pouco via internet. Aos setenta anos fiz um curso de Direito Canónico, com exames escritos e orais e só não terminei a tesina. Eu queria fazer a tese sobre o processo de beatificação de um candidato, sobre a nossa beata Nhá Chica, mas como o Bispo não me dá tarefa nenhuma para as causas que ainda lá perduram então disse para quê estar com tanto esforço. Mas a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil aproveitou e faço parte da Comissão de Auxilio àqueles Bispos que têm causas de canonização.

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