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“O voluntariado é uma oportunidade de mudar o mundo com o dom da gratidão e da gratuitidade”

Entrevista: Rita Alves Rito – Voluntária na Juventude Hospitaleira

Rita Alves Rito é natural do Soito, concelho do Sabugal. Estudou no Sabugal e em Lisboa.
Nos tempos livres gosta de praticar desporto (correr, caminhar, jogar futebol, natação); gosta de fotografia e de criar conteúdo digital; voluntariado; catequese e grupos de jovens; ir a festas e bailes; estar com os amigos.

A GUARDA: Quem é Rita Rito e como tem sido o teu percurso de vida até agora?

Rita Rito: A Rita é uma menina que tenta fazer com que o mundo esteja melhor a cada dia que passa. Sou gestora, mas costumam dizer que sou a “mulher dos sete ofícios”. Estudei no Sabugal, fiz o ensino superior em Lisboa e por lá trabalhei durante alguns anos. Estive em missão em Moçambique e na Guiné Bissau, experiências que me moldaram como pessoa e como profissional. Trabalhei 3 anos no Soito e actualmente trabalho com as Irmãs Hospitaleiras em Condeixa-a-Nova.

A GUARDA: O Soito é, sem dúvida, o teu lugar de eleição e onde tens passado muito do teu tempo?

Rita Rito: Sou do Soito de coração e do mundo por missão! Já tive em diversos sítios mas os fins de semana são quase sempre passados no Soito, pois estou muito envolvida na comunidade e no associativismo. O mundo é a minha alegria mas a família e a minha terra são os locais onde começa a vida e o amor nunca acaba.

A GUARDA: O que leva uma jovem com um futuro desafiante pela frente a optar pelo voluntariado?

Rita Rito: O voluntariado é uma opção de crescimento… penso que é um desafio profissional que nos ajuda e nos enriquece! É um sítio onde é mais meigo errar e evoluir! É um sítio onde o que salva o mundo é o amor! O voluntariado é uma oportunidade de mudar o mundo com o dom da gratidão e da gratuitidade.
A GUARDA: Como apareceu a tua ligação às Irmãs Hospitaleiras?
Rita Rito: Eu tinha três tias consagradas e portanto desde sempre que ouço falar em hospitalidade. Entretanto participei nas actividades da Juventude Hospitaleira e fui entranhando o cuidado ao outro… Descobri a verdadeira realização pessoal e profissional!
Aqui encontrei a defesa de valores que fazem parte da minha vida, nomeadamente a valorização da pessoa sempre, em tudo e com todos, seguindo uma das máximas do fundador, São Bento Menni, que afirmava que “uma pessoa vale mais que o mundo inteiro; a vontade em fazer o bem, bem feito, sendo bons, procurando com alegria e criatividade ultrapassar os obstáculos.
Sinto que a persistência e o compromisso da entrega das irmãs é uma linha orientadora, onde a caridade cura através do tempo dedicado e da força alicerçada na confiança nEle! Actualmente, sou e vivo a hospitalidade!
A GUARDA: Como vês o trabalho que é realizado pelas Irmãs Hospitaleiras nas diversas casas que têm em Portugal?
Rita Rito: Olho, não só para o trabalho das Irmãs Hospitaleiras como para o trabalho de muitas instituições… acho que se faz MUITO e BEM!
Infelizmente, as pessoas que são assistidas estão sempre em condições de vulnerabilidade e sofrimento e o sucesso nunca pode ser o mesmo e por vezes é completamente desajustado das expectativas dos familiares e da sociedade. No entanto, acho mesmo que todos os colaboradores vivem atarefados e com horas preenchidas, conscientes em adoptar estratégias para estar bem e cuidar melhor! Acho que o sucesso se vive nas pequenas vitórias do dia-a-dia.
Apesar do estigma, sonho com a invenção de uma estratégia de 6 em 6 meses, todos fazermos analises de saúde mental e que depois disso pudesse haver também soluções para equilibrarmos o inconstante desequilíbrio da vida! Sonho com aquele dia em que dizer que “não estou bem” seja olhado com empatia pelo outro! Sonho com aquele dia que uma pessoa doente é cuidada de acordo com as melhores práticas clínicas, que tenha ao seu dispor uma equipa multidisciplinar disponível para cuidar da pessoa e não apenas da doença. Sonho com aquele dia que tratar as doenças mentais seja olhado com tanta naturalidade como tratar de um problema cardíaco! Sonho com o dia em que a pessoa não é olhada pela sua diferença, mas pelo que tem em comum.
Enquanto isso não acontecer… as Irmãs Hospitaleiras continuam com as portas abertas para acolher integralmente e valorizar a pessoa (e não a doença).

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A GUARDA: Participaste na Jornada Mundial da Juventude a acompanhar peregrinos especiais. Como foi essa experiência?

Rita Rito: Foi uma jornada de entrega e de serviço. Depois de 4 JMJ como peregrina, sinto que foi o culminar de permitir que outros vivessem esta alegria. A igreja não tem portas e nós temos um amor além fronteiras! Foram tocadas várias fragilidades e colocada a responsabilidade a cada um de se emocionar e de lutar também para as soluções acontecerem. Acredito que temos de estar prontos para os outros, para a empatia e escuta… ser um coração inquieto que não se entedia… uma pessoa que procura a felicidade e não a superficialidade… um coração reconciliado e grato! Trago das JMJ, muitos ensinamentos, entre eles: Sou uma vida inquieta e apressada, de serviço e de entrega, e assim quero continuar! Quero partilhar e viver acompanhada! Quero continuar a ser alegre… Alegria é missionária e tem que se descobrir! Procurar a alegria cansa! Quando estamos cansados, não temos ganas de fazer nada! E às vezes… quando caímos não quer dizer que acabou! Quando se quer desistir, o ideal é beber um copo de agua (ou coca cola), não permanecer caído e levantar(ou ser levantado)! E quando alguém cai ao nosso lado… temos de a levantar, pois só aí é permitido olhar uma pessoa de cima para baixo! Não há nada grátis a não ser o amor dEle!
Atrás de um êxito há sempre muito trabalho e treino e estas JMJ também foram um sinal claro disto! A vida não tem um curso… é preciso caminhar e aprender! Aquele ditado que quem corre por gosto não cansa… cansa igual mas traz uma realização que compensa! Traz amor sempre! E o amor é um presente para todos! O Amor é a estrela que guia o meu coração e ilumina o meu chão! Claramente que “esperamos, desejamos, ENVOLVEMO-NOS e conseguimos”!
Concluindo em relação à minha participação enquanto acompanhante de pessoas com limitações, acho que é a clara intenção do Papa, que isto seja para “todos, todos, todos!”. Quando tenho uma oportunidade que faz participar em algo único, a grande experiência é conseguir partilhar isto com mais pessoas, para que isto não fique só para mim, mas que seja posto a render! Acho que este serviço nas JMJ é a expressão clara de por os talentos em render, em prol de todos!

A GUARDA: No teu ponto de vista, como é que os mais novos olham para a Igreja?

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Rita Rito: Na verdade, não há uma única opinião para isto! A fé é vivida de forma única por cada um, seja criança, jovem, adulto ou idoso! Esta forma de viver por vezes também é influenciada pela fase da vida. A maioria das pessoas olha para a igreja como as quatro paredes ou como o pároco, tal como se olha para a maioria das entidades da sociedade. E acho que aquilo que tem de ser mudada é a visão das pessoas… Sair da bolha exige estar com comunidades, que são diferentes partes da mesma igreja!
As pessoas entram pelas “coisas” oferecidas e ficam pela Fé, o motor da igreja. É importante a insistência daqueles exemplos que nos acompanham e os compromissos que desafiam. Todos estes compromissos exigem e responsabilizam nos, sendo essencial reforçar as nossas raízes na oração… Acho que é cada vez menos frequente ficar off e rezar! Parar ver e agradecer! Rezar não pode nunca ser um hábito nem uma rotina mas sim algo que faz parte do meu dia porque traz sentido à existência. Rezar por hábito é mau! Rezar tem que ter sentido! A fé exige fidelidade (afectiva e efectiva) sendo que o mais importante é vive lá em diversas facetas e contextos.
No acompanhamento que faço dos jovens, tenho uma coisa certa… os jovens querem um lugar depois da formação catequética! A perspectiva dos jovens serem ouvidos muda consoante a realidade e a proximidade dos jovens. Os jovens não são ouvidos porque não há disponibilidade nos espaços. Esses espaços precisam de confiança e acolhimento. Há relutância à marca de ser católico, não está na moda nem é cool. Ser católico exige conhecimento. Outro dos pontos a melhorar é efectivamente os convites que são feitos. Insistir no convite aquele que tem o dom de fazer para assim conseguir se caminhar juntos com Ele. Jesus também chamou os discípulos e hoje em dia falta os insistentes convites diários para as responsabilidades.
Não há vínculos mas sim causas! Os jovens vivem a Espiritualidade! Os jovens precisam de uma dimensão que lhes dê alento, mas não se comprometem com a igreja (bando de padres corruptos e tudo mais)
Também acho importante que não exista uma igreja de massas… mas sim um facto de exigir se uma Igreja de um para um! Uma igreja focada nos processos e caminhos e não nos números e resultados. A Igreja não deve ser ao ritmo dos anos lectivos. Deve ser intergeracional!
Concluindo, penso que há cada vez mais católicos por opção e convicção deixando por parte a obrigação. Mas dentro destes católicos há medo da mistura e de fazer caminho com os outros! Os jovens perante os escândalos, não exigem respostas mas necessitam que a igreja continue a fazer caminho. A referência moral exige coerência! Os religiosos têm que continuar a ser próximos independentemente dos problemas sociais. As pessoas precisam de ser acompanhadas com caridade e fazendo um caminho de verdade. As pessoas são mais importantes que as ideias e as idealizações.

A GUARDA: Projectos para o futuro?

Rita Rito: Acho que o futuro se vai perspectivando e construindo! Se me render agora, ficarei onde estava quando comecei. E quando comecei, desejava desesperadamente estar onde estou hoje… por isso… tento a cada dia fazer o melhor

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