Entrevista: D. António Manuel Moiteiro Ramos, Bispo de Aveiro e vice-postulador da causa de canonização de D. João de Oliveira Matos
António Manuel Moiteiro Ramos é natural de Aldeia de João Pires, Penamacor, Diocese da Guarda. Frequentou os Seminários Diocesanos do Fundão e da Guarda, sendo ordenado sacerdote a 8 de Abril de 1982. Passou por várias paróquias da Diocese da Guarda entre as quais São Miguel da Guarda, Sé e São Vicente. Tem licenciatura em Teologia e doutoramento em Teologia Pastoral.
Em 3 de Setembro de 2005 foi nomeado Assistente Geral da Liga dos Servos de Jesus, uma Associação Pública de Fiéis, fundada, em 1924, pelo bispo-auxiliar da diocese da Guarda, D. João de Oliveira Matos.
Foi nomeado bispo-auxiliar da Arquidiocese de Braga a 8 de Junho de 2012 pelo Papa Bento XVI. No dia 4 de Julho de 2014 foi nomeado Bispo de Aveiro pelo Papa Francisco. É vice-postulador da causa de canonização de D. João de Oliveira Matos.
A GUARDA: O que é que falta para que o antigo Bispo Auxiliar da Guarda, D. João de Oliveira Matos seja beatificado?
D. António Moiteiro: No processo que levará à beatificação e canonização falta uma graça, a que a Igreja chama milagre, que comprove a santidade do Servo de Deus, D. João de Oliveira Matos. Já estão reconhecidas as virtudes em grau heróico, foi em Junho de 2013. Agora é necessário, que esse reconhecimento público pela Igreja seja também acompanhado por uma graça, um milagre. É como que o selo de Deus na santidade que a Igreja reconhece ao Servo de Deus.
A GUARDA: Mas foi apresentado um milagre pela Diocese da Guarda?
D. António Moiteiro: Sim, foi apresentada uma graça, que não foi reconhecida em Roma. No caso que foi apresentado, os médicos, em Portugal, apontaram no sentido de uma graça que acabaria por não ter o reconhecimento dos médicos de Roma.
A GUARDA: O que é necessário fazer para se alcançar o desejado milagre?
D. António Moiteiro: A questão do milagre é uma questão de fé daqueles que o pedem. Se o pedirmos com muita fé, com a certeza de que Deus não nos falha, de que Deus está sempre presente e acompanha a nossa vida, Deus não fica insensível aos nossos pedidos. As graças extraordinárias, chamadas milagres, que conheço de algumas causas de canonização foram alcançadas fruto da fé daquele que pediu. Faltando esta fé profunda de que Deus me pode ajudar, é evidente que eu não estou em condições de receber a graça que Deus me dá.
A GUARDA: Mas o processo está bem encaminhado?
D. António Moiteiro: Podemos dizer que a santidade do senhor D. João, quanto às virtudes, está reconhecida. Agora o culto público, que vem pela beatificação, ainda que sendo local, só acontece após o milagre e é isso que nós estamos à espera.
É preciso reforçar a oração e é muito importante que cada um de nós faça o propósito de renovação interior para que a graça (milagre) possa também ser alcançada.
A GUARDA: Podemos dizer que o senhor D. João marcou profundamente a Diocese da Guarda?
D. António Moiteiro: No meu ponto de vista, o Senhor D. João de Oliveira Matos marcou muito a Diocese da Guarda fruto de uma intuição que teve enquanto visitador diocesano, de 1920 a 1923, como Bispo Auxiliar. A intuição era esta: ele à medida que fazia as visitas pastorais dava conta de que a Diocese da Guarda, tinha um bom húmus, tinha a vida cristã, mas precisava de alguém que, deixem passar a expressão, soprasse a cinza e viessem novamente as brasas ao de cima, e foi o que ele fez com a Liga dos Servos de Jesus.
É bom sabermos que 25 anos depois da Liga ter sido fundada, tinham passado, pelas Casas da Liga, homens e mulheres leigos, a fazer retiro, mais de 30 mil pessoas.
A GUARDA: Actualmente a Liga dos Servos de Jesus debate-se com a falta de vocações. No seu ponto de vista o que é que provoca esta situação?
D. António Moiteiro: A Liga dos Servos de Jesus sofre da crise vocacional que atinge toda a Europa, agravada aqui, na nossa diocese, pela questão da natalidade e pela questão da falta de gente nova. Para além disso, eu também penso que essa crise se acentua pela falta de um dinamismo espiritual.
As vocações sejam elas para a vida matrimonial, como para a vida de consagração, só se entendem a partir da fé.
Porque é que hoje os casais não querem receber o sacramento do matrimónio? Porque faltam razões de fé. Porque é que não se lançam as pessoas numa aventura de vida religiosa, de vida consagrada? Porque faltam razões de fé. No meu ponto de vista essa é a questão fundamental.