Entrevista: Irene dos Santos Fonseca – Coordenadora Geral da Liga dos Servos de Jesus
Irene dos Santos Fonseca, Coordenadora Geral da Liga dos Servos de Jesus, é natural de Cabreira do Côa, concelho de Almeida.
Estudou no Colégio da Cerdeira, em Lamego e em Coimbra.
Tem poucos ‘tempos livres’ e quando existem gosta de visitar as famílias mais desfavorecidas. Também gosta de ler e passear…
A GUARDA: A Liga dos Servos de Jesus está a terminar as comemorações do centenário da fundação. O que é a Liga e como apareceu?
Irene Fonseca: Estávamos no ano de 1924, dia 11 de Fevereiro. O bispo auxiliar da Guarda, D. João de Oliveira Matos, tendo encontrado almas de grande valor humano e espiritual, face a uma sociedade tão descristianizada e com muitos problemas, resolveu, com um grupo de almas generosas e por ele convidadas, fundar uma espécie de Associação, que desse resposta a esses mesmos problemas.
Assim nasceu uma “Pia Associação” capaz de evangelizar, de reparar, procurando sempre a santificação dos seus membros, celebrando, louvando Deus, sem deixar de servir as pessoas nos diversos níveis. Posteriormente, essa associação recebeu o nome de Liga dos Servos de Jesus.
Esta Liga dos Servos de Jesus aparece também com o fim de renovar a vida cristã, nas famílias, na diocese e na Igreja.
Fazendo-se portadora deste carisma também a Liga, em todo o tempo, procura seguir o seu Fundador o qual “confiado na Providência divina, desprendido de si mesmo, na fidelidade à Igreja e na caridade para com os irmãos, se devotou com intuição profética à renovação da vida cristã, a fim de instaurar o reinado de Cristo”.
No fim de um retiro, na Lageosa do Mondego, a Liga dos Servos de Jesus passa a marcar presença em muitas paróquias da nossa diocese: Por vontade do nosso Fundador, nunca ela atua sem o consentimento dos párocos locais. De imediato se expandiu para outras dioceses que solicitaram ao senhor D. João a sua presença.
A GUARDA: Quais os lugares onde está a implantada e quais as actividades que desenvolve?
Irene Fonseca: Neste momento, a Liga dos Servos de Jesus (servos internos) quase que se encontra circunscrita à diocese da Guarda, muito embora os servos externos possam estar presentes noutras dioceses. Os Servos Internos encontram-se como comunidades em Guarda, Manteigas, Rochoso, Ruvina, Cerdeira do Côa, Celorico, Fundão, Covilhã, Orca, Fátima e Buarcos – Figueira da Foz.
Para além das atividades religiosas e nos diferentes sectores da pastoral e liturgia, evangelização e catequese assume e colabora com vários serviços sociais. Refiro-me aos colégios e outros serviços sociais: lares de crianças e jovens, ‘creches’, ‘Jardins-de-infância’ e ‘Atls’; terceira idade, (apoio domiciliário, centro de dia) e Lares de idosos. Apoiamos ainda o seminário e paço episcopal.
Os Servos externos, nos lugares onde residem e no seu modo de vida, dão testemunho do carisma e espiritualidade da Liga.
A GUARDA: Quais as principais iniciativas realizadas para assinalar o Centenário da fundação?
Irene Fonseca: De harmonia com o Programa estabelecido pela Comissão do Centenário, fomos percorrendo muitas das paróquias da diocese da Guarda. Combinávamos com os respetivos párocos e, no momento mais adequado, falávamos aos fiéis do nosso Fundador e das diferentes atividades a que nos dedicamos. Em todas as paróquias fomos muito bem-recebidas. Houve esforço para divulgarmos o nosso centenário por toda a diocese.
No Outeiro de S. Miguel foram realizados três conferências específicas. Estiveram a cargo do bispo de Aveiro D. António Moiteiro, do Bispo de Viseu, D. Luciano dos Santos e do Reverendo senhor Padre José Manuel Martins de Almeida, pároco de Celorico da Beira. Houve uma Ação de Formação para todos os nossos funcionários. Esta esteve a cargo do senhor padre Alfredo Neves.
Já anteriormente, no mês de Agosto, se tinha realizado um encontro dos antigos alunos das nossas diversas casas, integrado no mesmo espírito do centenário. Estiveram presentes nesse encontro cerca de uma centena de antigos alunos e suas esposas. Todas estas ações se realizaram no auditório do Outeiro de S. Miguel.
Também as paróquias da Sé e de S. Vicente e Celorico da Beira realizaram encontros específicos para quem quis participar.
Todas as quintas-feiras, as adorações na capela de S. Pedro, julgo que umas vinte, foram marcadas pela espiritualidade do nosso Fundador. Numa delas estive presente também.
A paróquia da Orca e a do Fundão também promoveram adorações nesse sentido.
Foi inaugurada e ainda está a decorrer até ao mês de Agosto a exposição sobre a Liga e o Servo de Deus D. João. Esta exposição encontra-se no espaço diocesano ExpoEcclesia. Este evento foi difundido e transmitido pelos diferentes ‘media’. O vosso Jornal ‘A Guarda’ muito contribuiu para a divulgação dos nossos diversos eventos. O nosso Obrigado. No dia da inauguração o espaço foi pequeno para tanta gente.
Por indicação de última hora, dia 11 de Fevereiro, domingo, pelas 15.00 horas, houve Eucaristia seguida de Adoração. Estiveram presentes o Senhor D. Manuel Felício e o Senhor D. António Moiteiro.
A GUARDA: O ponto alto do programa será no dia 18 de Fevereiro. O que está previsto e quem pode participar?
Irene Fonseca: Haverá eucaristia solene, na Sé da Guarda, às 16.00 horas. Convidamos toda a diocese a associar-se e a participar dando Graças a Deus por toda a ação da Liga. No final da eucaristia, no Outeiro de S. Miguel, far-se-á um breve momento musical. Será executado pelas nossas crianças. No fim, haverá uma singela refeição no espaço do ginásio do Outeiro de S. Miguel. Para esta e por motivos logísticos, torna-se necessária inscrição. Neste ponto alto, gostaríamos de abranger a diocese inteira e todo o povo de Deus. Infelizmente sentir-nos-emos muito limitados. Fica a nossa intenção. Pedimos que não deixem de se associar a esta intenção. Registamos a nossa profunda gratidão a toda a diocese, amigos e benfeitores por tudo quanto fazeis pela Liga dos Servos de Jesus.
A GUARDA: Cem anos depois da fundação ainda há lugar para a Liga dos Servos de Jesus?
Irene Fonseca: Este foi o tema brilhantemente desenvolvido pelo senhor Padre Martins.
A Liga terá sempre a durabilidade que Deus queira. Assim nasceu, assim se mantém e assim se manterá. De facto, o seu carisma: Amar, Servir e fazer Jesus reinar ainda não se encontra realizado. Pedimos sim, a Deus ‘almas apaixonadas’ que o queiram levar mais além. E, tal como D. João encontrou essas almas, outras almas existem já e que devem ser convidadas e desafiadas a esta causa. Não nos cansaremos de as provocar no bom sentido e de as convidar para esta missão. Deus fará o resto se for essa a Sua Vontade.
A “renovação da vida cristã, e a instauração do reinado de Cristo” é de todos os tempos. Na recitação da oração ensinada por Jesus o – Pai Nosso – lá encontramos estas petições. Ao recitá-lo tocamos também em parte da essência do nosso carisma.
A GUARDA: Podemos dizer que a Liga se soube adaptar aos novos tempos?
Irene Fonseca: Já não sei precisar a data, mas num dos encontros diocesanos onde a liga marcou presença havia um lema que dizia “A Liga faz suas as intenções da Igreja”. Tal como a Igreja se adapta e evangeliza em todos os tempos, assim também nós, nos fomos adaptando a esses tempos. Ao longo destes cem anos, a Liga dos Servos de Jesus procurou sempre a melhor resposta para as diferentes circunstâncias e problemas.
Nem sempre o conseguimos, mas com a Graça de Deus, julgo termos chegado a bom porto. Nem sempre pudemos agradar a todos, mas com a colaboração de muitos a nossa missão tornou-se mais profícua e mais significativa.
A GUARDA: Como Coordenadora Geral qual o seu maior desejo em relação ao futuro da Liga dos Servos de Jesus?
Irene Fonseca: Desejo que a Liga continue a desempenhar a sua missão numa fidelidade a Deus que a suscitou e ao seu Fundador, que por ela se deu todo.
Que em todos os tempos, a mesma Liga seja renove com o aparecimento de vocações e que os servos externos deem testemunho revelando-se fiéis aos seus deveres de estado, no seu modo de pertença à Igreja.
Que em todos os elementos da Liga sejam visíveis as virtudes que o Senhor D. João implementou e sempre nos pediu. Entre elas: A oração e intimidade com Deus, a simplicidade, o trabalho, a discrição, a humildade, o serviço e em tudo a Caridade e a conversão. Como pano de fundo a alegria.
A GUARDA: O que nos pode adiantar sobre o processo de canonização do fundador, D. João de Oliveira Matos?
Irene Fonseca: Temos um novo Postulador, Monsenhor Fernando Matos.
Não foi aceite, como ‘milagre suficiente’ para a beatificação do Senhor D. João, a Graça que apresentámos em tempo oportuno. Por isso, continuamos a pedir a todos vós que peçais as graças de que necessitais, a Jesus Cristo, através do senhor D. João.
Se for para maior glória de Deus, muito gostaríamos de celebrar o Sr. D. João, já venerável, nos nossos altares.
Para nos ser mais fácil esta missão deixamos a oração com que se pede a mesma beatificação:
Senhor, Pai Santo e fonte de toda a santidade, Vós suscitaste no vosso Servo Venerável D. João de Oliveira Matos o desejo ardente de Vos servir como Pastor zeloso da vossa glória e da salvação dos homens. Inteiramente confiado na vossa Providência, desprendido de si mesmo, na fidelidade à Igreja e na caridade para com os irmãos, ele devotou-se com intuição profética à renovação da vida cristã, a fim de instaurar o reinado de Cristo. Dignai-Vos, pois, Senhor, dar-nos a conhecer a heroicidade da sua virtude e a glória que goza no céu, concedendo-nos as graças que Vos pedimos por sua intercessão. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, que é Deus convosco, na unidade do Espírito Santo. Ámen.
Centenário da Fundação da Liga dos Servos
de Jesus no Espaço ExpoEcclesia
A exposição temporária “Centenário da Fundação da Liga dos Servos de Jesus – Obra herdeira do Pensamento e Espírito de D. João de Oliveira Matos” está patente ao público, no espaço ExpoEcclesia, na Guarda, até Agosto de 2024.
A mostra foi inaugurada dia 1 de Novembro de 2023 e acontece no âmbito do centenário da Fundação da Liga dos Servos de Jesus.
As obras que integram a exposição são provenientes das diferentes Casas da Liga dos Servos de Jesus, da Paróquia Santa Maria de Celorico da Beira – Espinheiro e do Paço Episcopal da Guarda e estão enquadradas em três núcleos: D. João de Oliveira Matos – Vida e Alma; Liga dos Servos de Jesus – génese, nascimento, identidade, crescimento e acção; e advogados e especiais protectores da Liga dos Servos de Jesus.