Entrevista: Jerónimo Jarmelo, Pseudónimo de Jerónimo dos Santos Pereira, escritor e autor do livro “7 Cartas para Salomé”
Jerónimo Jarmelo, pseudónimo de Jerónimo Pereira Santos, nasceu em Castanheira, concelho da Guarda. Fez o ensino secundário nos seminários do Fundão e Guarda, frequentou a Faculdade de Letras de Lisboa, área de clássico-românicas e teve uma curta experiência como professor, no ensino secundário. Deixou o ensino e ingressou na Banca, onde exerceu cargos superiores.
Nos tempos livres gosta de ler, ver cinema, ir a concertos, ver algum teatro e, acima de tudo, viajar. As viagens ao estrangeiro já lhe foram muito úteis para escrever alguns dos romances; mas também adora percorrer e apreciar o nosso belo país.
A GUARDA: Acaba de lançar mais o livro “7 Cartas para Salomé”. O que o motivou a escrever este livro?
Jerónimo Jarmelo: Este é o meu 10º livro -7º Romance. Com efeito, para além destes 7 Romances também publiquei 2 livros de Poemas e 1 Livro de Contos.
Tratando-se de um Romance social, a que, originalmente, atribuíra o título de “O Princípio da Aparência” quis, através dele, mostrar quão forte é a carga da aparência, do chamado “faz-de-conta”, que envolve a vida de muita gente.
A GUARDA: Quais os temas e a mensagem que pretende fazer passar com este novo livro?
Jerónimo Jarmelo: Esta obra pretende, através das diferentes personagens, mostrar como muitas pessoas levam vidas absolutamente paralelas, para não dizer falsas. Como diz a sinopse, “nada nem ninguém é o que parece”. Por outro lado, pretende mostrar realidades fora do comum que escapam ao olhar do cidadão menos atento
Entrevista: É verdade que “cada pessoas é várias pessoas”?
Jerónimo Jarmelo: “Cada pessoa é várias pessoas”. É uma afirmação basilar, neste meu Romance, e que, de algum modo, resume a essência do mesmo. Na verdade, cada um de nós representa um papel diferente em função do meio em que nos encontramos, das pessoas com quem convivemos, quiçá até em função do estado de espírito do momento. Para a minha família eu represento uma pessoa, que não será a mesma que os meus amigos vêem, nem os meus alunos e, seguramente, será diferente para cada um dos muitos leitores que me seguem. Em termos práticos, todos nós somos “actores”, em cada um dos nossos dias.
A GUARDA: Já venceu alguns Prémios Literários. Fale-nos um pouco destas distinções?
Jerónimo Jarmelo: Como bem diz, já tive o grato prazer de vencer alguns prémios literários. O mais importante, não só pelo seu valor institucional mas também pecuniário, foi sem dúvida o Prémio Literário de Ficção Almada 2017. Contudo, também me deu muito gosto ter ganho, curiosamente no mesmo ano, o Prémio Nacional de Conto e ser 2º classificado no Prémio Nacional de Poesia. Confesso que conseguir estes galardões, entre centenas de candidatos, foi um regalo para a minha auto-estima.
A GUARDA: O que o levou a enveredar pelo mundo da escrita?
Jerónimo Jarmelo: Já disse isto várias vezes, em entrevistas, noutros meios de comunicação social. O facto de ter completado 7 anos, no Seminário (5 no Fundão e 2 na Guarda) criou em mim 3 “vícios”: a música, a leitura e a escrita. Na universidade, limitei-me a aperfeiçoar e dar continuidade aos dois últimos. Por força da minha actividade profissional e respectivas responsabilidades, enquanto quadro directivo na Banca, limitei-me a escrever peças avulsas sem grande continuidade, por falta de disponibilidade mental e temporal. Contudo, o sonho da escrita foi permanecendo e ganhando força. Logo que consegui reformar-me, aos 60 anos, pude, finalmente, passar para o papel 2 Romances que andavam a “chocalhar” no meu cérebro. Publiquei ambos, nos 2 anos seguintes. O mesmo aconteceu com as obras que se lhes seguiram. Dei assim concretização a um preceito da autoria da grande romancista francesa, do século XIX, George Sand: “Nunca é tarde para seres aquilo que sempre desejaste ser”.
A GUARDA: Mesmo a viver longe da sua aldeia, nunca esqueceu a terra onde nasceu. Como descreve a sua ligação à Castanheira, no concelho da Guarda?
Jerónimo Jarmelo: Um dos meus sonetos fecha com o seguinte verso: “Sou de granito, vertical – beirão”! Quer isto dizer que, ao longo da minha vida, nunca me deixei assimilar, nem aculturar. Mantenho e manterei orgulhosamente a minha essência beirã/guardense. Mantenho casa, na Castanheira, e aí regresso sempre que me é possível. Esse é o meu “chão”, como costumo afirmar, e a Guarda a minha cidade de coração. Três dos meus romances (“As Ninfas do Índico”, “Filho de Ninguém” e “O Filho do Pecado”) têm forte ligação à Castanheira, à Guarda-cidade e região, aí decorrendo vários dos principais episódios. O meu livro de contos tem o sugestivo título de “Contos da Terras Altas”. Trata-se de 10 contos baseados na minha vivência na aldeia e nas figuras típicas que fazem parte do meu imaginário de infância.
A GUARDA: Costuma acompanhar a vida cultural da cidade da Guarda?
Jerónimo Jarmelo: Costumo acompanhar a vida cultural da Guarda, embora não tanto como gostaria. Sempre que me desloco à BMEL, trago o máximo de informação possível. Felizmente que a internet nos facilita muito a vida, também a esse nível. Gosto de acompanhar o excelente trabalho do TMG e do Museu Municipal; neste, procuro ver as exposições aí patentes, quando visito a nossa cidade.
A GUARDA: Vai apresentar ‘7 Cartas para Salomé’ na Guarda?
Jerónimo Jarmelo: Sempre que publico uma obra, faço questão de ofertar 2 exemplares à BMEL, para o seu acervo. Verdade seja dita que esta excelente instituição cultural me tem convidado a apresentar, no seu magnífico espaço, cada nova publicação minha. “7 Cartas para Salomé” não é excepção e, no passado dia 4 de Março, aí fiz o Lançamento inicial deste romance, tendo contado com a prestimosa presença da vice-presidente e vereadora da cultura, Dra Amélia Fernandes, o que muito me prestigiou.