“Com José de Lemos, na Câmara da Guarda, a cidade ganhou mais arborização, e sem custos para a Câmara”

Entrevista: Manuel Peres Sanches, autor do livro “Guarda – Cidade Republicana com José de Lemos”

Manuel Peres Sanches, autor do livro “Guarda – Cidade Republicana com José de Lemos”, é natural de Aldeia da Ponte, concelho do Sabugal.
Estudou no Seminário do Verbo Divino (Tortosendo, Guimarães, Fátima), Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA) – Lisboa.
Nos tempos livres gosta de ler, e de cuidar da horta
A GUARDA: O que o motivou a escrever o livro “Guarda – Cidade Republicana com José de Lemos”?

Manuel Sanches: Numa curta nota de rodapé de um livro, publicado em 1946, surpreendeu-me a notícia de que JOSÉ DE LEMOS tinha nascido em Aldeia da Ponte, e na Guarda tinha sido um prestigioso político e conceituado comerciante. Fui na senda de José de Lemos. Investiguei, em jornais, livros, revistas, arquivos. Descobri um homem notável, e com ele uma cidade da Guarda, em efervescência, entre 1865-1914, o tempo vital de José de Lemos. A Guarda do seu tempo, cidade pequena, mas com uma intensa actividade comercial, cultural, assistencial, politica, estudantil.

A GUARDA: Foi uma surpresa gratificante saber que José de Lemos era natural de Aldeia da Ponte?

Manuel Sanches: Sim, muito gratificante! José de Lemos, um republicano de excelência, que levou à prática valores republicanos, muito nos honra, em Aldeia da Ponte, nossa terra-natal, na Guarda.

A GUARDA: Quais as principais fontes de informação de que se serviu, para escrever este livro sobre José de Lemos?

Manuel Sanches: Jornais da Guarda, principalmente. O COMBATE sobressai, já que José de Lemos era um dos seus suportes financeiros. E tinha a sua publicidade também, na AURORA ACADEMICA, no JORNAL DO POVO. Consultei livros e revistas. Esclareço que tenho no livro 16 páginas de bibliografia.

A GUARDA: Podemos dizer que José de Lemos foi uma referência para muitas pessoas do seu tempo?

Manuel Sanches: José de Lemos era muito estimado, pelas pessoas do seu tempo. Mesmo por quem divergia dele, no campo político. Era um exemplo a seguir. Como escreveu, o seu amigo fraterno José Augusto de Castro, Director d’O COMBATE.

A GUARDA: De que maneira é que este republicano se motivou e motivou outros para a higienização, para a arborização e para a jardinagem da cidade da Guarda?
Manuel Sanches: José de Lemos aderiu, muito novo, aos valores republicanos. Era um amante da árvore e da floresta, das artes criativas, da música, do teatro. Com José de Lemos, na Câmara Da Guarda, a cidade ganhou mais arborização, e sem custos para a Câmara. Lemos pediu sementes e árvores, a amigos. E estes seguiram-no, para a criação do jardim público. Aqui, dinamizou sessões de música. Note-se nos pelouros que assumiu, como Vogal e Presidente da Câmara: Arborização e Fontes. A higienização da cidade foi uma outra prioridade, dele e de Amândio da Costa Alves, vice-Preidente da Câmara. Naturalmente, apoiados por amigos republicanos, e com a força e a convicção das palavras escritas d’O COMBATE. Era forçoso que a higienização devia merecer atenção. O tratamento da tuberculose trouxe muitos doentes à cidade mais alta de Portugal, e ao seu Sanatório. Mas a cidade sofria o atraso sanitário, sem esgotos, sem retretes públicas, sem urinóis. A cidade era uma imundice. O vento varria a imundice, de rua em rua. Lemos, e a sua equipa, vão colocar canos colectores de esgotos, em algumas ruas, urinóis em locais de movimentação de pessoas, sentinas públicas. Para além de serem semeados pinhais, em torno da cidade.
A GUARDA: Considera que o nome José de Lemos está bem atribuído ao jardim público do centro da cidade da Guarda?

Manuel Sanches: Naturalmente! Ao (primeiro) jardim publico foi atribuído o nome JARDIM JOSÉ DE LEMOS, em 1914, após a morte de José de Lemos, em sua homenagem. Muito ele se empenhou, muito ele fez pelo Jardim, e até contribuiu, financeiramente.

A GUARDA: Mas tem percepção que a maior parte das pessoas não associa o jardim ao homem que foi José de Lemos?

Manuel Sanches: No JARDIM JOSÉ DE LEMOS, será que existe algo que nos diga QUEM FOI JOSÉ DE LEMOS? Nada, nada nos diz. Não há uma estátua, não há uma data.

A GUARDA: O livro também destaca outras personalidades da Guarda?

Manuel Sanches: Este meu novo livro refere muitas personalidades republicanas que tiveram papeis destacados, em acontecimentos ocorridos na Guarda. Como, na fundação do Centro Republicano, na Fundação do Partido Republicano Português, na implantação d’A República na Guarda, nas jornadas de republicanização em aldeias do distrito da Guarda. Saliento, aqui, do meu concelho do Sabugal: Arnaldo Bigotte, José de Lemos, Francisco Pinto Balsemão. Mas dedico, no livro, breves notas a: Afonso Costa, o maior vulto para a implantação d’A Republica, que estudou na Guarda; Anúplio de Lemos, diplomata, filho de José de Lemos; Carolina Beatriz Ângelo, a muito notável médica; Joaquim Lapas de Gusmão, escritor e fotojornalista de guerra, de Aldeia da Ponte; Luís Derouet, Da Imprensa Nacional; Virgílio Balha e Mello, primeiro Comandante dos Bombeiros da Guarda.

A GUARDA: Para além deste livros que outros livros tem publicados?

Manuel Sanches: Publiquei «1908-1909 “FRADES JESUITAS” CORREM PORTUGAL PELA MUITA TINTA DOS JORNAIS». Este livro, e o livro «GUARDA, CIDADE REPUBLICANA, COM JOSÉ DE LE MOS» são tentativas de compreensão do que foi o fim de um regime, o monárquico, e o começo de um regime, o republicano.

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