Entrevista: Maria da Conceição Lopes Jorge Gil – autora do livro ‘O meu (con)viver com o cancro’
Maria da Conceição Lopes Jorge Gil, autora do livro ‘O meu (con)viver com o cancro’, é natural de Videmonte – Guarda.
Estudou na Escola Secundária Afonso de Albuquerque, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra –Licenciatura em Engenharia Química, Instituto Politécnico da Guarda- Profissionalização em Serviço e Universidade da Beira Interior- Mestrado no Ensino da Química e Física do 3º Ciclo e Secundário Nos tempos livres gosta de ler, ouvir música, viajar, passear no meio da natureza.
A GUARDA: Como surgiu a ideia da publicação do livro ‘O meu (con)viver com o cancro’?
Maria Gil: Após ter o diagnóstico de cancro da mama, a dor e a angústia sentidas levaram-me a uma reflexão profunda sobre os objetivos da minha vida. Um dia, como terapia, decidi exteriorizar esses sentimentos através da escrita, projetando o que me ia na alma, escrever para não esquecer. Entendi que seria importante partilhar o meu testemunho que retrata a vida de muitas pessoas que, infelizmente, passaram ou estão a passar pelo mesmo sofrimento.
A GUARDA: O que a levou a partilhar com os outros a sua história de vida?
Maria Gil: Passar a mensagem de que a vida nos prega partidas, mas que, acreditando e lutando, também nos proporciona surpresas agradáveis. Como diz o Papa Francisco, devemos substituir o medo pelos sonhos. Com esta partilha pretendo também sensibilizar a comunidade para o problema do cancro e do sofrimento dos doentes e das famílias que passam por este drama. Os doentes oncológicos merecem ser compreendidos, acompanhados e acarinhados por quem os rodeia. Por vezes um sorriso, um olhar ou um abraço pode fazer a diferença.
A GUARDA: Qual a grande mensagem que pretende transmitir com a edição deste livro?
Maria Gil: Pretendo transmitir uma mensagem de Esperança, Solidariedade e Gratidão. De Esperança para todas as pessoas que têm um diagnóstico de cancro, de Solidariedade porque a aquisição deste livro vai ajudar muitos doentes oncológicos e de Gratidão para com todas as pessoas que me ajudaram nesta etapa tão difícil.
Este livro pretende relembrar que, enquanto lágrimas de desânimo caem silenciosamente pela face de cada um de nós, temos de ganhar coragem e força para continuar, recomeçar se for preciso, persistir em ser feliz. Nunca devemos desistir.
A GUARDA: Teve uma série de apoios para a edição do livro. Foi complicado conseguir essa ajuda?
Maria Gil: Tive a sorte de me ter cruzado com alguns empresários generosos, sensíveis e solidários para com esta causa e ter tido o privilégio do apoio incondicional das Juntas de Freguesia da Guarda e de Videmonte. Graças a estas ajudas foi possível concretizar este sonho.
A GUARDA: A receita da venda do livro reverte, na totalidade, a favor do Núcleo Regional do Centro da Liga Portuguesa Contra o Cancro. Porquê esta opção?
Maria Gil: Durante o período de tratamentos, além da família, tive uma ajuda extraordinária dos voluntários da Liga Portuguesa Contra o Cancro. Este livro é um gesto de gratidão para com esta Instituição e creio que é a melhor forma de ajudar outros doentes oncológicos. Estamos tão habituados a pedir e receber, que nos esquecemos de agradecer e de retribuir.
A GUARDA: É difícil (con)viver com o cancro?
Maria Gil: É possível viver com o estigma do cancro, mas o mais importante para seguir em frente é acreditar, pois a vida é um espetáculo imperdível.
É muito difícil ter o diagnóstico de cancro. Fica-se apavorado. Inicialmente quando temos o diagnóstico é muito difícil, todas as pessoas têm terror de um diagnóstico de cancro.
A nossa vida fica virada do avesso, temos medo, pensamos nos filhos e no sofrimento que se avizinha. Quando iniciamos os tratamentos estamos focados nas etapas que vão sendo ultrapassadas, com uns dias bons e outros menos bons. Quando terminamos os tratamentos vem a ressaca, o cansaço e a ansiedade pelo dia de amanhã mas, apesar da fragilidade da nossa condição humana, sentimos que conseguimos subir montanhas, que valeu a pena todo o sofrimento.
A GUARDA: A prevenção é importante ou nem por isso?
Maria Gil: A prevenção é fundamental. Tem de haver maior consciencialização para a necessidade do rastreio. A luta contra o cancro começa na prevenção. Não devemos ter medo de vigiar o nosso corpo. Devemos estar atentos e pedir ajuda se suspeitamos que algo não está bem. O cancro é uma doença silenciosa e nem sempre é detetado a tempo. Quanto mais informados estivermos, melhor controlo teremos com a nossa saúde.
A GUARDA: Que mensagem gostaria de deixar a quem é confrontado com esta doença?
Maria Gil: Gostaria de transmitir uma mensagem de Esperança. É importante que as pessoas não se isolem, que aprendam a partilhar as suas emoções, recordar as memórias felizes, viver o presente como o mais importante da nossa vida. É fundamental saber enfrentar os desafios e as dificuldades da vida, ser fortes e resilientes, deixar brilhar a luz da esperança nos caminhos da vida. Nunca desistir de lutar. A felicidade não é um dom, mas uma conquista e a vida deve ser celebrada em toda a sua plenitude.
Fale abertamente sobre a doença oncológica; só assim a palavra “cancro” deixará de assustar; só assim deixaremos ter medo de vigiar o nosso corpo e de fazer rastreios; só assim, quem enfrenta uma doença oncológica saberá que é possível pôr a doença no seu lugar e dar continuidade à sua história de vida.