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“Camiño de Santiago” de bicicleta

Paulo Coelho percorreu

Os Caminhos de Santiago têm de facto uma história com centenas de anos, mas só a partir do século XXI é que passou a ser moda rumar a Santiago de Compostela. Embora em Portugal tenhamos tradição de caminhar a Fátima, os peregrinos e os seus caminhos, seus objectivos e até o tempo que se leva a percorrer é bastante diferente.
A minha experiência como peregrino tem sido sempre como ciclista, pois é mais fácil organizar uma semana para percorrer qualquer dos caminhos disponíveis, sinalizados e preparados para receber caminheiros, ciclistas ou cavaleiros.
O meu primeiro Caminho de Santiago partiu da Sé do Porto em 2007 para fazer em 3 dias pelo Caminho Português com o Tiago Lages, amigo das mais diversas aventuras, com quem iria partilhar um trajecto algo difícil com as bicicletas de BTT, carregadas com alforges por estarmos entregues a nós próprios e sem apoio. Para fazer qualquer dos Caminhos de Santiago, não é essencial fazê-lo com espírito religioso, de penitência ou devoção, embora se sinta uma energia positiva partilhada por todos quantos se cruzam pelos trilhos carregados de história. Ficamos de tal forma fascinados com todo esse ambiente que depressa nos comprometemos a fazer planos para realizar outros Caminhos. Tendo decidido fazer o Caminho Português como mais uma aventura, depressa me preparei para realizar um dos Caminhos mais utilizados, o Caminho Francês que comecei em Saint Jean Pied de Port nos Pirinéus para concluir em 7 dias. Foi aí que comecei a viver o verdadeiro espírito do Caminho, pois cruzava-me com muitos peregrinos vindos de todo o mundo que caminhavam sem pressas, num momento de devoção, introspecção, reflexão em busca de si próprios. Fiquei com a clara sensação que o Caminho de Santiago é para se fazer a pé mas para isso é preciso ter tempo, e como dizia um responsável de um Albergue de Peregrinos no Caminho do Norte que fiz em 2011, o verdadeiro Caminho é o que fazemos a partir da nossa terra, com todos os seus percalços e desafios. Dessa maneira resolvi que o próximo Caminho para Santiago de Compostela seria desde a Guarda, que realizei em Dezembro de 2014 na bicicleta de estrada em 2 dias com 380 kms percorridos. Ainda assim temos sempre muitas formas de o fazer e, por isso, um dos próximos trajectos do meu verdadeiro Caminho vai ser a partir da Sé da Guarda com a BTT podendo utilizar o traçado que está agora preparado no Concelho da Guarda para poder ligar com os trajectos do Caminho Torres que vem de Salamanca em direcção de Lamego para aí se encontrar com o Caminho do Interior.
Os Caminhos de Santiago têm algo de mágico que apaixona qualquer aventureiro das caminhadas e das bicicletas. Acima de tudo precisamos de tempo para o percorrer, meditar connosco próprios e encontrar o nosso verdadeiro caminho. Um Caminho que nunca damos por terminado, porque cada dia é um dia e, desta forma, temos a humildade e gratidão de viver cada um. Buen Camino.
(Paulo Coelho – empresário e praticante de BTT)

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