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“A maioria dos visitantes mostrou-se surpreendida com a qualidade artística do património religioso espalhado pelo território diocesano”

Entrevista: Joana Pereira – Comissão de Inventariação e Museologia – Coordenação do Espaço ExpoEcclesia

Joana Pereira, da Comissão de Inventariação e Museologia e da Coordenação do Espaço ExpoEcclesia, é natural da Guarda.
Estudou na Universidade de Coimbra (Licenciatura em História da Arte 1999-2003), e na Universidade Nova de Lisboa (Mestrado de Museologia 2011 – 2013).
Nos tempos livres que gosta de fazer “tanta coisa”, mas que tem “falta tempo”.

A GUARDA: A inauguração do espaço ‘ExpoEcclesia’, na capela do Antigo Seminário e Paço Episcopal, na cidade da Guarda, foi assinalada com a abertura da exposição ‘Mulier, Mater, Magistra’ (Mulher, Mãe, Mestra). Qual o balanço desta exposição?

Joana Pereira: A exposição Mulier Mater Magistra teve dois objectivos: o de congregar no mesmo espaço bens culturais do maior número possível de paróquias da Diocese da Guarda e abordar a temática da Mulher desde o “princípio bíblico até à actualidade”.
Para o cumprimento do primeiro objectivo foi determinante o investimento da Diocese da Guarda e das paróquias na realização do Projecto de Inventário do Património, móvel e imóvel, da Diocese da Guarda, em curso desde 2007. Este trabalho permitiu identificar, localizar o património e realizar o pedido de empréstimo às paróquias, legitimas proprietárias do património exposto. Salvo duas excepções, as paróquias, responderam positivamente ao convite e cederam temporariamente as suas peças.
Entre 13 de Julho e 30 de Novembro de 2022 passaram pela ExpoEcclesia 1700 visitantes, 200 dos quais estrangeiros e os restantes nacionais. O número de visitantes duplicou no segundo trimestre em relação ao primeiro. Registámos uma grande afluência das comunidades paroquiais que vinham propositadamente ver a “sua peça”; os professores e alunos dos Agrupamentos de Escolas da Sé, Afonso de Albuquerque e Trancoso, assim como creches e jardins-de-infância públicos e privados agendaram visitas; as Universidades Sénior; Centros Sociais e Paroquiais e Lares de várias freguesias também marcaram presença.
A temática foi considerada pertinente e necessária. Jovens raparigas visitaram a exposição atraídas pela temática da mulher e mostraram interesse em saber mais sobre o seu papel ao longo dos séculos possibilitando evangelizar por via da arte. A maioria dos visitantes mostrou-se surpreendida com qualidade artística do património religioso espalhado pelo território diocesano afirmando que existe um desconhecimento do mesmo e que a realização de exposições temporárias é uma via para a sua divulgação.
Assim, e considerando que contribuímos para o estudo histórico-artístico e religioso do património da Diocese da Guarda e que o mesmo foi utilizado na perspectiva da nova Evangelização consideramos que é uma iniciativa que deve ter continuidade.

A GUARDA: E da experiência virtual sobre a História da Diocese da Guarda, numa atmosfera imersiva, através do recurso a multimédia?
Joana Pereira: Na sala de projecções multimédia 360º recorremos às novas tecnologias para apresentar a História da Diocese da Guarda e o património cultural (material e imaterial) que se encontra espalhado pelos quinze concelhos do território diocesano.
Constatámos que quer os jovens quer os menos jovens estão despertos para esta linguagem e acreditamos que esta aposta seja uma via que contribuirá para uma melhor aprendizagem e valor do património colectivo na perspectiva da nova evangelização. As crianças do pré-escolar e primeiro ciclo, assim como os idosos disfrutam muito do momento; os jovens e adultos constatam que existe “muita riqueza patrimonial na Diocese da Guarda”.

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A GUARDA: O ‘Roteiro das Beiras e Serra da Estrela – Pegadas de Fé’ foi outra das apostas da ExpoEcclesia. Como é que este Roteiro está a ser valorizado?
Joana Pereira: O “Roteiro das Beiras e Serra da Estrela – Pegadas de Fé”, editado pela Comunidade Intermucipal das Beiras e Serra da Estrela, e a Projecção multimédia 360º estão relacionados. Ambos são um convite à saída para o território da Diocese da Guarda e à contemplação do património no local para o qual foi originalmente criado.
O roteiro está disponível em quatro línguas (espanhol, francês, inglês e português) na ExpoEcclesia e também nos respectivos edifícios classificados.
Tal como já foi anunciado é também nossa intenção, desde a primeira hora, colaborar com as paróquias que são o motor para o bom desenvolvimento e futuro deste projecto. Pretendemos preparar pessoas das paróquias no campo histórico-artístico e articular com elas a abertura regular dos templos, permitindo ao visitante o acesso ao seu interior.

A GUARDA: “Diálogos” foi outra das exposições que já passou pela ExpoEcclesia e que envolveu várias dioceses. Foi uma experiência positiva e para repetir?

Joana Pereira: Sim, foi positiva e é para repetir experiências semelhantes.
A exposição “Diálogos – na beleza das obras contemplamos a beleza do Criador” foi uma exposição itinerante interdiocesana de grande importância. A realização desta iniciativa em parceria com as Dioceses de Aveiro, Guarda, Lamego e Viseu ocasionou a ampliação do acesso à fruição dos bens culturais da Igreja, bem como a troca de experiências e o confronto de especificidades e identidades entre o património do vasto território, no quadro de uma mesma Igreja. Este trabalho teve efeitos positivos nomeadamente, na articulação de competências técnicas e científicas e na utilização de recursos financeiros que sabemos serem muito limitados.  

A GUARDA: O tempo de Natal na ExpoEcclesia ficou marcado por uma exposição de presépios que foram elaborados por várias instituições da região. Como surgiu esta ideia e quem envolveu?

Joana Pereira: Esta iniciativa foi encetada em 2015 no âmbito de uma proposta que formulei ao Senhor Bispo D. Manuel Felício no sentido de serem convidadas várias instituições da Diocese para trazerem à ExpoEcclesia presépios concebidos por elas. Os objectivos desta iniciativa são dar a conhecer o trabalho que diariamente é desenvolvido por instituições de cariz social, religioso, pedagógico, etc.
Desde então têm sido várias as instituições e pessoas envolvidas no projecto. Na primeira edição esteve presente o Estabelecimento Prisional da Guarda (EPG). A coordenação da realização do presépio coube a Judite Pereira, Voluntária do EPG, e as (os) reclusas (os) participaram no trabalho. O presépio foi realizado no interior do EPG. Foram vários os dias que passámos “lá dentro”, o que me marcou profundamente.
No ano 2016/17, o Instituto de Emprego e Formação Profissional da Guarda (IEFP) foi a instituição convidada e esteve envolvida Maria de Jesus Cruz, Técnica Superior, e os alunos do curso Artesão/a as Artes do Têxtil. Foram também convidadas Escolas de 1º Ciclo dos Agrupamentos de Escolas Afonso de Albuquerque e da Sé e Creches e Jardins de Infância públicos. Na montagem da exposição estiveram envolvidas várias pessoas: Nuno Filipe dos Santos Gonçalves, Assistente técnico do IEFP, Rogério Leal Brás, colaborador da Diocese da Guarda, e Jorge Barreira Pires, Artista Plástico.
Este ano, a Diocese retomou a iniciativa, dedicando a sua atenção às pessoas com deficiência ou necessidades especiais dirigindo o convite à Associação Socioterapêutica de Almeida (ASTA), uma instituição que luta diariamente para a integração social, humana e económica dessas pessoas.
Na realização do presépio estiveram envolvidos os monitores e os jovens da ASTA. Paralelamente, foram convidadas as Escolas de 1º Ciclo dos Agrupamentos de Escolas Afonso de Albuquerque e da Sé e Creches e Jardins de Infância públicos e privados. Os presépios das escolas foram realizados pelas crianças e pelos seus educadores.
A museografia e montagem da exposição dos presépios foi coordenada por mim com a colaboração de Rogério Leal Brás, colaborador da Diocese da Guarda, Jorge Fortunato e Tiago Gonçalves, voluntários, a quem agradecemos.

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A GUARDA: Quais as próximas propostas do espaço ExpoEcclesia?

Joana Pereira: Pretende-se implementar uma prática museológica dinâmica, participativa e expansiva. Por um lado, a ExpoEcclesia continuará a apresentar exposições temporárias e por outro, temos traçado um programa específico onde se perspectiva criar uma rede ancorada na ExpoEcclesia que agregue as igrejas e as entidades de caracter museal dispersas pelo território da Diocese da Guarda. Assim, perspectiva-se que a ExpoEcclesia, enquanto âncora, direccione a sua acção no âmbito do património material e imaterial religioso. Os seus campos temáticos reportar-se-ão: à história e vida da Igreja e das suas comunidades tendo por referência e principal contexto o território diocesano; ao património histórico-artístico e religioso tendo por referência o seu valor histórico, artístico, antropológico, cultural e religioso.
A ExpoEcclesia tem por vocação estudar, investigar, inventariar, expor, promover a conservação, interpretar e difundir os testemunhos materiais e imateriais religiosos com vista a contribuir para a salvaguarda, construção e transmissão da memória das comunidades e da pastoral na perspectiva da nova evangelização. A ExpoEcclesia pretende também apoiar as igrejas e as entidades de caracter museal tendo em vista a valorização do património in situ e a difusão de boas práticas, com preocupações de ordem social, pedagógica e evangelizadora.

A GUARDA: Podemos dizer que a ExpoEcclesia já entrou na rotina cultural da cidade da Guarda?

Joana Pereira: Vamos ver… É sobejamente conhecida a expressão “o caminho faz-se caminhando” e nós queremos caminhar e trabalhar norteados por princípios definidos pela Igreja Católica em matéria de património.

A GUARDA: No ano em que Portugal acolhe a Jornada Mundial da Juventude, o espaço ExpoEcclesia tem alguma iniciativa pensada para os jovens?

Joana Pereira: Como podia deixar de ter?! É um acontecimento que nos enche o coração.
Sabemos que a “Jornada Mundial da Juventude (JMJ) é um encontro dos jovens de todo o mundo com o Papa. É, simultaneamente, uma peregrinação, uma festa da juventude, uma expressão da Igreja universal e um momento forte de evangelização do mundo juvenil”. Concorrendo para aqueles objectivos pretendemos que a ExpoEcclesia seja um espaço de encontro de fé, cultura, juventude e diálogo entre jovens e o Bispo, os jovens e os Párocos, os jovens e os Catequistas e dos jovens entre si. Partindo da temática da JMJ «Maria levantou-se e partiu apressadamente» (Lc 1, 39) e dos seus patronos estamos a trabalhar num projecto. Permita que falemos dele noutra ocasião.

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