Entrevista: Rodrigo Costa – Presidente da Associação Cultural e Recreativa de Vila Mendo
Rodrigo Costa, Presidente da Associação Cultural e Recreativa de Vila Mendo, é natural de Vila Fernando, Guarda. Estudou na Escola de Santa Zita (1º Ciclo), Escola de Santa Clara (2º Ciclo), Escola Secundária da Sé (3º Ciclo e Secundário), Universidade da Beira Interior – Licenciatura em Ciências do Desporto, Universidade da Beira Interior – Mestrado em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário Nos tempos livres gosta de conviver com os amigos, praticar desporto e viajar.
A GUARDA: A Associação Cultural e Recreativa de Vila Mendo vai promover a Festa do Chichorro. Quais os objectivos desta festa?
Rodrigo Costa: A Festa do Chichorro traz à memória a prática ancestral da matança do porco que era feita por todo o concelho, assumindo um papel de primeiro relevo na alimentação das pessoas, tão importante para a sobrevivência das famílias ao longo do ano. Em Vila Mendo não era diferente e, por isso, decidiu-se institucionalmente, recuperar essa tradição, dando maior ênfase a esta iguaria: o Chichorro. É uma forma de apelar à cultura popular, evitando que se percam as tradições que faziam parte do dia-a-dia das nossas gentes.
Além disso, é mais uma oportunidade para juntar em Vila Mendo os dali provenientes, bem como as restantes pessoas que gostam da nossa terra.
A GUARDA: Como nasceu a ideia de um evento à volta do chichorro?
Rodrigo Costa: Inicialmente esta festa foi promovida por sócios da ACR de Vila Mendo, que propuseram a compra de um ou dois porcos, para serem alimentados ao longo do ano e que, posteriormente, serviriam para nos deliciar. Com o decorrer do tempo e com a evolução de todo o processo, com o crescente conhecimento e interesse de outros participantes, a festa foi evoluindo, até ao ponto em que estamos agora. Deixou de se realizar a matança do porco, por variados motivos, mas manteve-se a confecção do Chichorro e de outras iguarias igualmente tradicionais e que evocam o dia da matança do porco.
De referir que esta actividade já existe na ACR de Vila Mendo desde os seus primórdios. Esta direcção decidiu somente que seria da maior importância manter em prática os projectos que valem a pena e que colocam Vila Mendo “no mapa”.
A GUARDA: É uma iniciativa apenas da Associação ou envolve toda a comunidade de Vila Mendo?
Rodrigo Costa: Esta iniciativa, conforme já tive oportunidade referir, envolveu sempre a comunidade de Vila Mendo. A aldeia e as suas gentes, tanto os que residem na mesma – cerca de 35 habitantes – como os que residem fora, principalmente na cidade da Guarda, unem-se e fazem o melhor que conseguem tanto na estruturação e planificação, concretizada nos dias antecedentes, bem como participando activamente no dia dos eventos. Foi desde sempre um cuidado que a Direcção da associação teve em atenção. Esta é uma das actividades que melhor caracteriza a nossa Associação e que tem vindo a ser realizada há largos anos. No entanto, com o ganho de notoriedade, de fama e procura pelo chichorro a festa cresceu e neste momento vamos estar presentes, pelo segundo ano consecutivo nos Festivais de Cultura Popular, do Município da Guarda.
A integração nestes Festivais implica novos desafios e um público alargado, pelo que, além das gentes de Vila Mendo, contamos ainda com o apoio de outras associações do Concelho da Guarda. Essa cooperação é fulcral para garantir o bom funcionamento de todo o evento.
A GUARDA: Quantos sócios tem a Associação Cultural e Recreativa de Vila Mendo e quem pode ser associado?
Rodrigo Costa: A Associação Cultural e Recreativa de Vila Mendo conta neste momento com 302 sócios. Todo e qualquer cidadão poderá ser sócio da ACR de Vila Mendo.
A GUARDA: Quais os principais projectos da vossa Associação para este ano?
Rodrigo Costa: A ACR de Vila Mendo é uma associação juvenil, fundada em 2000. Está inserida na Federação das Associações Juvenis do Distrito da Guarda. Somos uma associação que pertence à Rede Nacional das Associações Juvenis e como tal, somos apoiados pelo Estado.
Para recebermos esse apoio, há a necessidade de apresentar um plano anual de actividades. O primeiro evento do ano será a Festa do Chichorro, dia 27 de Janeiro. Em Fevereiro, entre os dias 9 e 12 estaremos presentes nas “Tabernas do Entrudo” promovidas pelo Município da Guarda. Temos como ambição fazer regressar o Encontro Motard que irá para a sua 17ª edição e que já foi, em tempos, uma referência no meio motard. Temos ainda o “Vila Mendo on Tour” na sua 14ª edição, uma viagem anual pelo nosso Portugal com o intuito de proporcionar à comunidade em geral e aos jovens em particular o contacto com outras realidades culturais, dando a conhecer o património edificado e paisagístico do nosso país, pernoitando em Pousadas da Juventude. Já percorremos o país de norte a sul. A primeira viagem teve como destino a zona do Parque Natural Peneda – Gerês, tendo o grupo pernoitado na Pousada da Juventude de Vilarinho das Furnas. Outras viagens se seguiram, nomeadamente ao Porto, Braga, Lamego, Évora, Lisboa. Viajámos também para Santiago de Compostela.
No verão, promovemos o (A)gosto em Vila Mendo – damos conta que Vila Mendo, enquanto uma aldeia do interior de Portugal, viu os seus residentes diminuir de forma galopante, uns saindo para as diversas cidades de Portugal e muitos outros emigrando para outros cantos do Mundo. Assim, este evento serve um propósito específico: garantir que a nossa comunidade emigrante (e demais público), aquando da sua vinda à terra natal, sinta o apelo de ir até à sua Aldeia, e ali passe o seu tempo, ao invés de se deslocar até às zonas litorais do país e de aí passar a maioria das suas férias. Além de isso trazer benefícios para a economia local e regional, parece-nos que é especialmente importante fazer esse exercício, para garantir o convívio entre a comunidade “permanente” e os que estão fora e, mais especificamente, permitindo uma interacção intergeracional, que garanta a transmissão de saberes dos nossos anciãos.
Entre as variadíssimas actividades que a ACR promove ao longo do ano, falo apenas de mais uma – o espectáculo teatral “Identerioridades”. Este projecto teve a sua estreia em 2022 e continua a dar cartas. Estamos a planear um ciclo de apresentações para este ano de 2024. No ramo Cultural temos outros projectos em estudo.
Por fim, estamos já a preparar as comemorações dos 25 anos da nossa Associação – as “bodas de prata”, data memorável que acontecerá em 2025. Temos previsto realizar uma compilação de alguns momentos e registos de todos os anos de histórias e estórias com que já contamos no nosso Portefólio. Está também previsto para 2025 o lançamento do 3º Caderno de Memórias.
A GUARDA: Podemos dizer que a Associação tem um papel importante na dinamização da aldeia?
Rodrigo Costa: Esta é a pergunta mais fácil de responder de todas.
Certamente. A Associação é fundamental para a dinamização da aldeia. Não devemos esquecer que Vila Mendo é uma comunidade pequena, com um reduzido número de habitantes permanentes. E, por isso, a Associação tem um papel agregador, de chamar as suas gentes, seus amigos e curiosos.
Uma das pessoas que mais me influenciou pessoalmente, mas também associativamente – o meu primo Tiago Gonçalves – escreveu numa entrevista ao blog da nossa Associação o seguinte: “À Associação cabe-lhe ser o motor de tudo isto; ser o polo aglutinador das vontades e o pretexto para regressar mais vezes. A Associação é a nossa casa comum. Não há uma pessoa de Vila Mendo que não tenha uma casa, pois tem pelo menos a Associação, que é a casa de todos nós”. É nestas palavras que me inspiro, sempre! A vertente social será sempre a pedra basilar pela qual a nossa associação se rege. E é através destas palavras que se consegue perceber, perfeitamente a importância da Associação, tanto para a aldeia, como para a própria freguesia de Vila Fernando.
A GUARDA: Como avalia a política cultural da Câmara da Guarda?
Rodrigo Costa: Enquanto dirigente associativo, entendo que o apoio que tem sido dado à nossa Associação tem sido fundamental. Antes de mais, há que ver que o espaço onde está sediada a ACR, a antiga escola de Vila Mendo, nos foi cedido pela Câmara da Guarda. Portanto, há que compreender que a própria existência da Associação depende, em parte, da vontade que a Câmara teve de ver um projecto destes ali florir.
Ademais, existe um apoio constante que visa a própria difusão e promoção das aldeias do Município e da difusão da cultura, muito própria destes territórios. Assim, contamos com apoio da Câmara Municipal da Guarda em várias vertentes: na Festa do Chichorro – integrada, como já tive oportunidade de referir, nos Festivais de Cultura Popular, nos apoios financeiros dados às associações, nos funcionários competentes de que a câmara dispõe neste sector e que tanto contribuem para o crescimento deste tipo de entidades, na própria difusão dos nosso eventos e, naturalmente, através de um apoio administrativo eficaz e assíduo.