Maria da Conceição Dias, mais conhecida por Dona São, faz Cavacas de Pinhel, de forma artesanal, há mais de 30 anos, com base numa receita antiga que pertencia às freiras Clarissas que residiram na cidade.
A mulher, com 68 anos, contou ao Jornal A Guarda que aprendeu a fazer cavacas com uma tia, irmã do pai, “que vivia, em Souropires, com uns senhores que eram parentes distantes de D. Manuel II, o último Rei de Portugal. A receita foi dada a essa família pelas irmãs Clarissas que viviam no Convento de Pinhel. Como eu fazia bolos, um dia a minha tia perguntou-me se eu queria fazer cavacas. Eu disse que sim. Comecei a fazê-las e nunca mais parei”.
As cavacas são feitas com ovos frescos, farinha e açúcar e um preparado “que é segredo”. “São feitas a partir de uma pequena forma e depois a massa cresce. Estas são as verdadeiras Cavacas de Pinhel”, disse a doceira, referindo que o processo de confecção de cada fornada “leva à vontade duas horas, porque leva muita mão-de-obra”. “Só para as pintar, com um preparado de claras pasteurizadas e açúcar em pó, depois de estarem frias, levo uns 45 minutos”, referiu. Maria da Conceição Dias assegurou que o doce típico de Pinhel pode ser comido “por qualquer criança, sem problema, porque não leva fermento nem aditivos, é tudo 100% natural”.
A mulher confecciona cavacas durante todo o ano, mas a maior produção é por ocasião da Feira das Tradições (na altura do Carnaval), no Natal, na Páscoa e no Verão, quando o concelho acolhe os emigrantes. “Pelo Natal começo a vender em força 15 dias antes, porque são adquiridas pelas pessoas que vão para a França e para a Suíça”, revelou.
A Dona São também contou ao Jornal A Guarda que vende directamente ao público, nas suas instalações, e em feiras da região (Almeida, Vilar Formoso, Trancoso e Guarda), em Penedono e Belmonte, em Lisboa, no Porto e em Salamanca (Espanha). Na cidade da Guarda vende actualmente os doces na frutaria localizada junto da ponte, na Guarda-Gare. As Cavacas de Pinhel médias são vendidas a um euro a unidade e também vende, por 5 euros, caixas com 4 cavacas de maiores dimensões. Durante a Feira das Tradições de Pinhel é quando a procura do doce tradicional aumenta, referindo que, em média, costuma vender “para cima de mil” unidades. “É uma boa iniciativa da Câmara Municipal de Pinhel para promover as cavacas”, reconheceu.
Em relação ao futuro, se o negócio proliferar, a empresária, que actualmente produz cavacas com a ajuda do marido e de uma funcionária, tenciona “criar mais dois ou três postos de trabalho”. A doceira de Pinhel também acredita que a produção das cavacas vai ter continuidade familiar, por ter um filho que “sabe fazê-las”.