Tradição com inovação em Vila Garcia
A poucos quilómetros da Guarda, na aldeia de Vila Garcia, há um café que ganhou nova vida depois do confinamento provocado pela pandemia. A transformação do Café Pissarra foi obra da geração mais nova da família Pissarra mas sempre com a supervisão da avó Beatriz. Desde 1968, ano em abriu ao público, até agora, o espaço já sofreu alterações “meia dúzia de vezes” mas nunca com tantas mudanças. A ideia de transformar o estabelecimento num espaço mais aprazível e atractivo partiu das netas e rapidamente mereceu a aprovação da avó. “A minha neta, a Patrícia, tem muito gosto e com as ideias da Paula, da Bea e da Maria João o resultado final está maravilhoso e tem atraído muitas pessoas de fora, nomeadamente da zona da Guarda, do Sabugal e até mesmo de outros lugares”, explica com orgulho a avó Beatriz Pereira. E acrescenta: “Não tenho pena nenhuma do dinheiro que se gastou para o café ficar assim tão bonito”. Mais do que um negócio, o Café Pissara é um estabelecimento em que prima a simpatia e a entreajuda familiar. De forma organizada e sem atropelos, todos gostam de colaborar para ver a avó Beatriz feliz. O novo conceito do Café Pissara cativa pela beleza da simplicidade, com alguns elementos inovadores. Do antigo estabelecimento foram aproveitadas apenas as mesas, uma vez que fazem parte do mobiliário mais antigo da casa e “são uma relíquia, mesmo sem terem grande valor económico”. A reabertura aconteceu no dia 6 de Junho e a divulgação através das redes sociais, com a criação de uma página no Facebook, rapidamente projectou o Café Pissarra muito para além das fronteiras de Vila Garcia, pela diversidade de pequenos mas saborosos petiscos. Da oferta, sempre por marcação, faz parte uma variedade imensa de tostas (mista, cogumelos, presunto, alheira, cachorro…) e tábuas recheadas de queijo, doce, presunto e enchido. “Fico contente de ver aqui muita gente” desabafa a avó Beatriz que acha “muita piada” ao facto das pessoas não precisarem de faca e garfo para comer. Aos 91 anos de idade não resistiu à tentação de provar “as delícias” que vieram dar nova vida não só ao café mas também à própria aldeia. “Já provei, mas gosto mais da minha sopinha”, desabafou. Beatriz Pereira nasceu no dia 9 de Outubro de 1929. Aos 20 anos, casou com Álvaro de Andrade Pissarra (já falecido) com quem se dedicou ao negócio, não só do café mas também “à venda” e até ao negócio de motores de rega e de ferro velho, isto sem esquecer a agricultura, não fosse ela “filha do maior agricultor da aldeia”. “Trabalhámos muito. O meu Álvaro era alfaiate e andávamos por um lado e por outro nos mercados da região”, explicou. E acrescentou: “Já trabalhei tanto na minha vida…”.Criou nove filhos: o Carlos, o José Agostinho, a Ilda, o Alfredo, o António, a Deolinda, o Alberto, a Filomena e a Paula, e “só não estudou quem não quis”. E conclui: “A nossa vida dava um romance, mas um romance real”.Beatriz Pereira considera-se “uma mulher feliz”, não gosta de ouvir asneiras e só “pede a Deus e à Mãezinha do Céu” que não lhe deixe “perder a memória”.