No domingo passado, Jesus insistia para que acreditássemos n’Ele como Caminho, Verdade e Vida. Acreditando deste modo, o nosso coração não se perturba diante de nada e possuímos a paz que o mundo não pode dar. Mas só dizer que temos fé não basta, ao contrário do que pensam muitos católicos não praticantes e todos os praticantes nada católicos. Por isso Jesus prossegue hoje o seu ensinamento dando um passo mais, o passo decisivo para que alguém seja realmente cristão.
Não basta ter fé em Cristo, é preciso amá-l’O e cumprir os seus mandamentos. “Se me amardes, cumprireis os meus mandamentos”. E pouco depois o Senhor acrescentará: “sereis meus discípulos se fizerdes o que Eu vos mando”. E o que é que Ele manda? “que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei”. Ter fé em Jesus implica amá-l’O e amá-l’O implica cumprir a sua Palavra. Um santo, S. João Crisóstomo, comentava: “nisto consiste o amor: acreditar na pessoa amada e obedecer-lhe”. De facto, a fé e o amor a Deus, se são autênticos, devem reflectir-se numa vida de doação e entrega generosa aos outros. Por isso o mesmo S. João exorta-nos a “amar não com palavras e com a boca mas com obras e em verdade” (1Jo 3,18).
Amar a Cristo e cumprir a sua palavra, é condição para que Deus esteja connosco e em nós. Deus, que é em si mesmo Amor, só pode estar onde está o amor. Onde há caridade e amor aí habita Deus. É a promessa de Jesus no evangelho de hoje: Se me amardes (…) o Espírito da verdade babita convosco e está em vós (…) vós estais em Mim e eu em vós (…) e quem Me ama será amado por Pai”.
A Santíssima Trindade, eterna corrente de amor e de vida entre o Pai e o Filho e Espírito Santo, habita no coração dos que amam e os que amam habitam o coração de Deus: “estais em Mim e Eu em vós”.
Desde o Baptismo, os cristãos são templos de Deus. Somos iniciados numa vida de comunhão e amizade com Deus. Mas o Baptismo é apenas o início, como o são os outros sacramentos de iniciação, a Confirmação e a Eucaristia. Jesus e o Evangelho são o Caminho a percorrer, e ninguém pode ficar satisfeito por apenas se ter iniciado neste Caminho. Muitos se ficam por aí; outros desviam-se do caminho com o tempo. Para pertencer à Igreja basta o nome escrito no livro dos baptismos; para pertencer a Cristo é preciso ter o nome inscrito no “livro da Vida”.
Jesus usa o termo “Paráclito” para falar do Espírito Santo. Paráclito significa aquele que está ao lado de alguém, para o acompanhar, consolar e proteger. Realmente, cabe ao Espírito Santo, como Paráclito, guiar, proteger e vivificar a Igreja. Como confessamos no Credo, o Espírito é o “Senhor que dá a vida”, que faz com que Jesus viva em nós, faz-nos participar da própria vida de Deus, do amor entre o Pai e o Filho. Portanto, só está escrito no livro da Vida quem vive segundo o Espírito Santo.
Na primeira leitura vemos a preocupação dos apóstolos pelos novos cristãos da Samaria, porque ainda não tinham recebido o Espírito Santo. Só por isso vão de Jerusalém à Samaria. Penso que muitos cristãos ainda se perguntarão se o Espírito Santo é assim tão importante. A verdade é que se Jesus diz que só somos cristãos de verdade se nos amarmos como Ele nos ama, quem é capaz de amar como Ele? Quem pode viver como Ele? E morrer? Ninguém pode amar e cumprir a Verdade se o “Espírito da Verdade” não lha der a conhecer; ninguém pode viver a Vida de Cristo sem a presença do “Senhor que dá a vida”.
Só tem Deus consigo quem ama e cumpre a Palavra mas só pode cumprir a Palavra e amar quem tem Deus em si.