Todos temos a consciência, de que o interior de Portugal está a perder gente.
Este decréscimo populacional não é recente, já vem de há umas décadas, contra ele tem havido uma luta tremenda por parte dos autarcas, que muito se têm esforçado em enaltecer o sossego provinciano, os ares, as águas, mesmo as balneares, bem como a qualidade de vida.
Algumas cidades, nomeadamente as capitais de distrito, ainda vão mantendo a sua população concelhia, mas tudo à custa do tecido urbano que chamou a si os habitantes do campo e das aldeias que lhe são adstritas.
Tudo isto acontece porque a tão propagandeada qualidade de vida não existe aos níveis que são badalados, e para além do mais têm uma tendência para se agravar.
Comparando o interior com o litoral, é visível aos olhos de quem for sensato, a diferença existente, no acesso à educação, à saúde, bem como o preço do conhecido cabaz de compras. Podem-me argumentar que o campo dá de comer a quem o cultiva, no entanto, eu com conhecimento de causa, direi que essa versão nos tempos que correm, só tem veracidade em explorações de grande dimensão, ou seja, quando a atividade de que vos falo, for vista dentro do ramo empresarial. Nas parcelas de pequena dimensão estou certo e seguro de que por melhor qualidade que tenha o solo, a terra come sempre mais do que aquilo que produz.
Com o decorrer dos anos o Portugal profundo, está a passos largos a perder a sua maior fonte de receita, que é a proveniente das pensões da primeira geração de emigrantes, que acabam por cair, pois aos poucos, os que partiram em busca do pão mais branco vão sendo chamados ao descanso eterno. A segunda geração já não regressa com a mesma cadência, pois apenas passam por cá uma estadia efémera.
A inexistência de comércio a retalho nas nossas aldeias, implica frequentes deslocações às grandes superfícies, para se adquirir o que vem do litoral, onde o preço é acrescido pelo transporte, bem como pelas portagens que se vão sucedendo, à medida que se caminha para o interior. As deslocações a que me refiro, geralmente ficam bem caras, devido à falta de transportes públicos, uma vez que as redes vão desaparecendo e os horários diminuindo. Para garantir a rentabilidade do serviço, aumentam o título de transporte.
Quantas vezes não fica mais cara uma só viagem dentro de um concelho do interior, que um passe mensal que inclui vários meios de transporte nas regiões mais desenvolvidas do país.
Também há quem diga sem o menor pejo, que por aqui ninguém quer trabalhar. Ora esta referência acontece para quem necessita esporadicamente de um jornaleiro para serviço braçal. É por demais evidente que ninguém se pode governar dentro das mínimas condições humanas, sem uma garantia certa de sustento. E não é menos certo de que quem apresenta esse vício aos que por cá estão, não olha para o espelho, pois em causa própria defende bem a sua carreira e alega a própria tarimba.
Sou daqueles que digo que em terra de pobres ninguém é rico. Também vejo as parcelas de terreno, pelo menos na zona onde vivo, ocupadas e, por sinal, com o andar dos tempos, a registarem melhor cultivo. Mas à custa da mecânica e da tecnologia. A trabalhar no campo haverá cada vez menos gente, aliás, nem o valor alcançado pela produção, dá azo a que muita gente se sustente.
Precisamente no dia em que dou corpo a este meu texto, vi um agricultor aqui do meu concelho, que é Celorico da Beira, recusar a venda de umas dezenas de toneladas de batata à razão de dez cêntimos o quilo. Achei graça, pois não o vi desanimado, adiantava que já tinha ração mais que suficiente para dar às centenas de ovelhas que tem. Concordei com a saída que dá a esta sua produção, mas gostava de ver um iluminado chegar aqui e fazer algo, sem roubar o suor de ninguém.