Nunca pensei vir a escrever sobre este tema e muito mais quando já tenho percorrido quase três quartos de um século de vida.
Fui criado num tempo em que ao homem cabia a iniciativa de se apresentar como candidato perante a mulher com quem pretendia vir a constituir um lar. Ela por sua vez tinha o direito de escolher, aceitar ou não, conforme fosse a sua convicção.
Estes “pedidos de namoro”, assim se chamavam naquele tempo, nem sempre resultavam à primeira, por vezes havia mais que um candidato, sendo que aquele que era aceite, fazia criar nos restantes, aquilo que nós usávamos no nosso calão popular uma certa dor de cotovelo, que mais não era de que uma pequena mostra de ciúme passageira.
Quando todos acabavam por se arrumar, termo que se dava ao namoro já mais avançado, já ninguém sentia a efervescência das paixonetas então havidas.
Fui daqueles que respeitei enquanto pretendente a vontade da mulher ia até onde o “sim” deixasse e parava onde ouvisse o “não”. Podia valer-me do uso, mas nunca entrei no abuso por mais convidativo que ele fosse.
Fui assim durante duas candidaturas que tive na vida e em que me casei. O primeiro casamento fracassou ao fim de quinze anos por motivos de não darem certos os modos de ver as coisas de cada um. O divórcio foi a solução, muito embora eu esteja convencido de que não tenha existido uma terceira pessoa pelo meio.
Já o segundo, eu fiquei viúvo, na sequência de uma doença incurável, em que a morte me levou o melhor coração que conheci e com quem vivi com toda a serenidade durante quase trinta anos. Reconheço que não teria sido o melhor marido da vida, mas fiz o melhor que sabia e que estava ao meu alcance.
Aqui chegados, passo a falar da minha situação actual. Vivo a minha viuvez sem qualquer encargo financeiro ou familiar, muito embora com uma saúde bastante debilitada, pois sou um doente oncológico, além de outras doenças que me prejudicam a mobilidade e outras acções de natureza física. Todavia embora o cansaço seja constante, não sinto dores agudas que me causem mal-estar quando estou em ambientes sociais propícios à boa disposição.
Um dos temas que mais enalteço é a mulher, pois é ela em que eu vejo a maior maravilha do planeta. Sobre ela crio as minhas metáforas e trocadilhos, apenas para criar boa disposição, pois já não tenho estaleca para qualquer outro proveito.
Dentro destas condicionantes aparecem os que me entendem e que reconhecem o que me é possível e há outros e outras que levam a coisa mais a sério e que pensam que qualquer palavra ou gesto que saia de mim é válido como uma escritura notarial, nomeadamente quando as causas em questão revelam um estilo amoroso onde se possa antever qualquer romance.
É aqui que eu sinto o ciúme e como sujeito activo do mesmo pois sobre mim é que recai, vindo de mentes que de um pensar um tanto doentio, pensam que há sempre um interesse para lá da amizade ou da convivência.
Já a pessoa que sente o ciúme, tenta descontrolar a vida do sujeito activo, torna-se vítima e sem dizer mal dele pratica os atos mais tresloucados que ocorrem de momento, vitimizando se muitas vezes no choro que é a maneira mais prática de chamar a si a atenção normalmente onde o aglomerado de gente é grande, para que o tumulto do ciúme possa ser criado pelas pessoas que o presenciam. Escusado será dizer que eu aqui sinto-me terrivelmente mal quando sei que nada fiz para ter qualquer culpa.
Por vezes também aparecem eles furiosos mesmo destinados ao confronto. Só que aí tenho a calma suficiente para mostrar o que não valho e acaba por haver um entendimento, que às vezes até aviva a relação de amizade.
Aqui vos apresento situações que me têm causado algumas dores de cabeça, sem que tenha uma farmácia onde possa recorrer. No entanto estou certo que não sou capaz de alterar a minha maneira de ser, mas o tempo cura tudo e até me vai levar para também a questão acabar.
Vou ficar por aqui! Desculpai esta minha confissão e aqui voltarei com mais outra situação no primeiro dia de verão.
Até lá haja saúde.
Zé Albano