A cerca de um mês do encerramento do Ano Jubilar da Misericórdia
proclamado pelo Papa Francisco, mais do que um ponto de chegada de um ano cheio de palestras, sessões, celebrações e gestos sobre a misericórdia, estou convencido que o desejo do Papa é que ele seja mais um ponto de partida para uma Igreja renovada pela misericórdia e, como tal, portadora mais efetiva de misericórdia nas circunstâncias mais difíceis da humanidade, sobretudo, nas denominadas por si “periferias” existenciais, onde também se encontram as pessoas em situação de reclusão.
Tal processo exige uma conversão interior permanente norteada por alguns desafios pastorais a exercitar em cada dia, entre os quais se podem contar os seguintes:
Continuar a conhecer Deus, sempre mais e mais, como Pai de misericórdia, cujo rosto é revelado em toda a vida de Jesus Cristo e de que são um sinal expressivo as parábolas da misericórdia (parábolas da ovelha perdida, da moeda perdida e do pai e seus dois filhos – cf. Lc 15, 1-32);
Recorrer à celebração do Sacramento da Reconciliação onde Deus revela o seu poder misericordioso, sobretudo, no perdão e na absolvição e onde, experimentando a misericórdia, aprendemos a ser misericordiosos como Deus nosso Pai é misericordioso para connosco;
Aprender a não julgar e a não condenar, a perdoar e a amar sem medida, sem nunca pretender ser juiz de ninguém mas antes sinal de misericórdia;
Procurar testemunhar sempre a misericórdia, com gestos concretos de proximidade e de cuidado para com os mais frágeis, numa sociedade marcada por múltiplos conflitos, pela indiferença, insensibilidade, falta de humanidade e pela cultura do “descarte”;
Procurar sensibilizar os que nos rodeiam para a misericórdia que é fonte de novas relações, de solidariedade, de fraternidade e de um mundo novo;
Ajudar a que a comunidade tenha um novo olhar, um olhar de misericórdia em relação às pessoas reclusas, não as julgando, condenando ou marginalizando, mas olhando-as com o olhar de Deus clemente, compassivo e misericordioso;
Promover iniciativas junto das nossas comunidades, de gestos de abertura e de acolhimento em relação às pessoas em situação de reclusão, bem como gestos de solicitude e de apoio às suas famílias;
Ajudar a descobrir como a misericórdia é importante para a construção de uma sociedade melhor, mais humana, mais compreensiva, com mais coração, mais misericordiosa; e
Ter sempre em conta a prática das obras de misericórdia corporais e espirituais, encarando-as como um verdadeiro programa pastoral que devemos desenvolver como cristãos.
Tal como pediu e desejou o Papa, que o Ano Santo extraordinário tenha sido/esteja a ser ocasião “para viver, na experiência de cada dia, a misericórdia que o Pai, desde sempre, estende sobre nós. Neste jubileu, deixemo-nos surpreender por Deus” (MV 25). Através destes desafios do Jubileu e dele decorrente e a fomentar em cada dia em múltiplas situações existenciais, próprias e alheias, inclusive na prisão, Deus continuará a surpreender. Assim nós queiramos e nos deixemos surpreender por este Deus que é Misericórdia, que usa de misericórdia para connosco e que nos apela a ser misericordiosos uns para com os outros, ou seja, “Misericordes sicut Pater”…