Perante o apelo de Jesus “estive preso e fostes visitar-me” (Mt. 25, 36) e perante a certeza de que “tudo o que fizestes a um dos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes” (Mt. 25, 40), na cadeia encontramos alguém que está preso e que necessita de misericórdia. Apesar dos delitos, por mais graves que possam ser, Deus continua a amar os que estão privados de liberdade, pois, “o perdão de Deus para com os nossos pecados não conhece limites” (Papa Francisco, Misericordiae Vultus, 22). Na solidão da sua cela, a pessoa presa pode estabelecer uma relação especial com Deus sentindo-se acolhido e aceite, tal como é, pelo Deus da Misericórdia. Deus quer redimir, de um modo especial, aqueles que estão em situação de especial dificuldade, aqueles que experimentam o abandono nas suas vidas, aqueles que são rejeitados pela própria sociedade, pelas suas famílias e até, por vezes, pela própria Igreja.
A pessoa presa é “rosto de misericórdia” porque necessita de misericórdia, porque necessita de amor e de perdão. O grande objetivo deste ano jubilar, que já vai a meio, deve ser transformar esse rosto triste e derrotado, em rosto alegre e de esperança, mudança que a misericórdia de Deus pode fazer. É aí que entra a Igreja, através da Pastoral Penitenciaria, com a grande responsabilidade de levar essa misericórdia às prisões, aos presos e às suas famílias. Os assistentes espirituais e religiosos, bem como os colaboradores e voluntários da Pastoral Penitenciária devem ser, pois, rosto da Igreja e da Misericórdia divina, levando uma mensagem de perdão e de amor a todos os que aí se encontram.
A Pastoral Penitenciaria tem a missão de anunciar, testemunhar e transmitir a misericórdia de Deus sendo, assim, portadora de liberdade e de esperança na prisão. Mas para se ser mediador da misericórdia na prisão, é necessário que cada um tenha vivido também em si mesmo a experiência pessoal da misericórdia de Deus, que tenha experimentado na sua vida a misericórdia de Deus e que tenha consciência dessa experiência na sua vida. Para a Pastoral Penitenciaria, só aquele que teve ou que tem uma experiencia intensa da misericórdia de Deus para com ele, é que compreende o amor de Deus e tem capacidade para ser chamado a um compromisso eclesial na prisão; só o que foi perdoado é capaz de perdoar; só o que experimenta o perdão recebido é que sabe compreender e valorizar o sentido de uma vida cheia de quedas.
Perante a rigidez da prisão, marcada por um ritmo e um horário estrito, dominada por uma justiça de caráter marcadamente punitivo e legalista, a Igreja, no meio desta realidade, tem de tornar presente a “ciência” do amor e da misericórdia. Esta “ciência” implica respeito vital para com as pessoas, valorizando-as e dignificando-as. Esta “ciência” implica proximidade, envolvimento, partilha de tempo e de espaço. Esta “ciência” implica uma atitude de encarnação na vida da pessoa presa, acompanhando a sua história, os seus sentimentos, as suas dúvidas, as suas esperanças e os seus anseios. Esta “ciência” implica criatividade resultante da audácia e da generosidade. Esta “ciência” implica uma atitude de escuta ativa marcada pela aceitação incondicional da pessoa presa, por uma empatia capaz de se colocar no lugar do outro e por uma preocupação constante de coerência de vida.
Não é fácil transmitir a misericórdia divina na prisão. As pessoas que aí se encontram estão marcadas por histórias de fracassos, carências afetivas, deceções humanas, processos muito vindicativos, indiferença e rotina geradas pela prisão, etc.. Apesar de tudo, pela força da Palavra de Deus e pela força das relações humanas que ela implica, a Pastoral Penitenciaria acredita e luta por ser aí mediadora da misericórdia de Deus. Como? Experimentando a misericórdia de Deus, sendo misericordiosa e promovendo a misericórdia entre as pessoas privadas de liberdade. E assim acontecerá “ciência” em meio prisional, a “ciência” do amor e da misericórdia, capaz de abrir novos horizontes em vidas desfeitas, pois, todas são vidas únicas e insubstituíveis.
Paulo, voluntário prisional