As notícias do distrito da Guarda e da região interior centro

Variações – Oratório de Natal

Ludovina Fernandes

O Natal é mote para inúmeras composições musicais. Para partilhar trago um Oratório, que não sendo dos mais divulgados da História da Música Ocidental, tal como o exemplo do Oratório de Natal de Bach, é igualmente digno de se conhecer. Refiro o Oratório de Natal do compositor, Camille Saint-Saëns.

Oratório ou Oratória é um género musical de drama vocal que, há semelhança da Ópera, emergiu no período Barroco. Contudo difere desta, por não ter encenação e representação cénica, e ser de narrativa bíblica. Para este Oratório de Natal, Saint-Saëns retirou textos dos evangelhos de Lucas e João, bem como dos Salmos.

A textura instrumental é variada, com recurso ao órgão, harpa e orquestra de cordas. Nas vozes, inclui coro e cinco solistas; Soprano, Mezzo-soprano e Contralto que são tessituras da voz femininas – Tenor e Barítono, que por sua vez são tessituras masculinas.

A estrutura desta oratória é feita por dez movimentos musicais, de inicio com um prelúdio instrumental, seguido de nove momentos vocais. A duração da obra ronda os 40 minutos e pode ser vista, pela riqueza melódica e textual, como uma pausa contemplativa ou reflexiva na vida de um.

Ler também:  balanço(s)?

Camille Saint-Saëns nasceu em Paris, França, no ano de 1835 e morreu a 16 de dezembro de 1921 em Argel, capital da Argélia. Apesar de na época os recursos para viajar serem limitados, rudimentares e morosos, não impediu Camille Saint-Saëns de ser um viajante, curioso e social, o que se regista na diversidade multicultural, textura instrumental e de géneros musicais tão expostas nas composições. Com Portugal manteve uma relação de décadas, onde aprofundou relações sociais, como é exemplo para com a família real. Ao rei D. Luís dedicou a barcarolle “Une nuit à Lisbonne” Opus 63. E sob a encomenda de D. Manuel II, compôs a “Fantasia nº3” Opus 157 para órgão. Nestas passagens por Portugal, apresentou-se nos melhores teatros nacionais, como o de São Carlos em Lisboa e o de São João no Porto.

O decorrer de 75 anos de vida, foi marcado pela precocidade e talento musical, sendo considerado um prodígio na interpretação instrumental, tanto no órgão como no piano. Pela criatividade e inovação, marcou por ter sido o primeiro compositor a compôr música para cinema e da qual resultou em sua homenagem, o atual “Prémio Camille” – Prémio Europeu para melhor música de filme e compositor.

Ler também:  Padre Jardim Gonçalves — O testemunho de gratidão de um amigo!

Da originalidade e performance instrumental, resultaram manifestações de apreço de compositores contemporâneos. Franz Liszt, compositor húngaro que curiosamente também passou por Portugal, tinha por Camille uma enorme admiração.

Do vasto repertório musical que Saint-Saëns nos deixou, a obra mais divulgada talvez seja a Suite “Carnaval dos Animais”. Esta obra teve estreia no dia de Carnaval de 1886 e nela, o compositor, através de instrumentos, dá voz ao leão, burro, galinha, galo, cisne, canguru, elefante e tartaruga, sendo sem dúvida o cisne, o de maior destaque.

Também se aventurou na composição do género Operático, onde a ópera “Sansão e Dalila” é a mais célebre.

Em dezembro de 1857 Saint-Saëns foi nomeado organista titular da Igreja da Madalena em Paris, onde permaneceu durante duas décadas e aí aprofundou o conhecimento como instrumentista e compositor de obras para o órgão. De destacar a “Sinfonia nº3” em Dó Menor, Op. 78 com órgão. Um exemplo musical de excelência e que um dia poderá ser interpretada no novo órgão da Catedral da Sé, na Guarda.

A todos os leitores, as melhores saudações natalícias!

Notícias Relacionadas