O que é espantoso – e não é, já agora – é que nenhum dos candidatos que se apresentou à liça para Presidente da república
– se o leitor me consente, assim, com minúscula – nenhum dos candidatos, dizia, revelou preparação para Chefe de Estado.
Não se trata aqui de repetir o que, em citação do professor portalegrense António Jacinto Pascoal, disse no último artigo, que à campanha “faltou tudo menos imbecilidade”. De facto, a questão é, não obstante, muito mais grave. E a quem se sente com indefectível responsabilidade e denso entrosamento na sua Comunidade (afinal, reza o Esoterismo, “há uma essência especial que une as pessoas, coisas e mesmo emoções”) incumbe repeti-lo sempre: a República é um regime incapaz de se fundamentar a si próprio pela simples razão de que expulsou o Transcendente.
De outro ângulo: “a árvore vê-se pelos frutos”. De 10 a 26, também há que repeti-lo, os frutos foram os mais vexatórios (a contabilidade do Deve e Haver é inenarrável); do 25-IV até agora temos notícias como as dos RALIS, do Conselho da Revolução, da Casa Pia, da TAP, das falências bancárias, da defesa – senão mesmo apologia… – das aberrações sexuais, da mais insuportável incompetência na ribalta, crianças atiradas ao Tejo pelos progenitores, governantes, digamos…, a avacalharem a nossa heróica História e zarolhos perante a CPLP, um “Acordo Ortográfico” que é uma infâmia…É possível defender um tal regime!? Ou “não é nada connosco”?
É uma reflexão que se impõe. Um jornal tão insuspeito como o Público, perante o estendal de candidaturas, referia os “nostálgicos da Monarquia”. E, já agora, saberá tal jornal que, ao povo, uma Monarquia sai muito mais barata que uma República? Claro: mais que regimes importa a qualidade dos homens; e sabemos como, após o 5-X-1910, muitos monárquicos “adesivaram” (é o termo da época) ao novel regime. Acontece, porém, que um rei é preparado para o seu múnus desde há gerações e o candidato a PR pode vir sabe-se lá donde.
Bem entendido: quem escreve podia colocar-se na situação de dizer o que os outros gostam de ouvir. Mas isso seria uma traição à sua própria dignidade pessoal e gregária. O que nos rodeia é arrepiante? – Pois é. Só que talvez leve alguém a sair do seu instalado conforto e reflectir. O mundo não é para ingénuos e sermos profundos é o que nos incumbe.
Posta esta introdução vamos a outras questões. C. 42 anos após o 25-IV já se constituiu um escol apto a pensar o hic et nunc e o porvir? A tradição de marginalização das Letras, Humanidades e Artes não persiste? O Latim, o Grego e outras áreas das ditas Humanidades deixaram de ter a relevância que tinham? A Pátria deixou de pensar-se como algo de Sagrado, tal como a Família? A máxima informação possível é de somenos? Que tipo de Vida é que verdadeiramente nos importa se prezamos – acima de tudo – os nossos sentidos de confiança e de propósito? Afinal, decisões devidamente fundamentadas não ajudam às nossas felicidade e benevolência? A Revista Militar, a Brotéria, a Nova Águia (apenas três exemplos), longevas revistas portuguesas, a primeira a caminho do bi-centenário, a segunda dos jesuítas, a terceira do MIL (Movimento Internacional Lusófono) são, para assim falar, uma gota de água no oceano das nossas carências. E certa imprensa escrita que não se auto-desculpabilize pela diminuição de tiragens. Estas diminuem porque a sua qualidade é insatisfatória.
Não quero pôr em questão a dignidade dos candidatos, mesmo que uma pergunta se imponha: onde estava a sensatez de alguns? Todavia…
Guarda-20-II-2016