Quanto ao Doutor Salazar é-me imposição dizer o que segue,
citando mais uma vez o essencial Jeremias: “Maldito o homem que confia no homem e não em Deus”. Salazar, homo religiosus, não era, contudo, um homem perfeito. De facto, quando, v. g., trata os nossos compatriotas Bantos por “pretitos”… bom, sem comentários. Voltemos, porém, ao “maior estadista português de todos os tempos”, tal como foi dito pelos portugueses no concurso da TV, o qual o alcandorou ao lado de Churchill ou de Gaulle, topos dos seus respectivos países.
O homem comum é tão profundamente ignorante e alienado que nem pode, dele, pensar-se que possui algum saber humano, sobre o humano, nem, já se vê, esperar que cultive a memória ou sinta que o Presente é – quase em absoluto – mera extensão do Passado. Lembrar Goethe é um dever: “O que não for capaz de dar conta de três milénios de História vive ignorante o dia que passa”. Há, todavia, que remontar muitísssimo mais, precisamente até 39.000 a. C., momento para que os historiadores da Arte remetem as primeiras manifestações artísticas com os meandros e as mãos em negativo.
Só um irresponsável e/ou faccioso põe de lado o facto de a república de 10 a 26 ter sido um regime terrorista catastrófico. – É lembrar, tão-só, a inqualificável perseguição à Igreja (na qual o ex-padre e depois geógrafo já mencionado, João Soares, também desempenhou o seu papel…).
Ora, Salazar, um impoluto estadista – com falhas, reitero-o – não podia ignorá-lo. Mais. Sentia que Portugal era maior que o espaço e tempo que lhe era dado viver. E que não pode ser-se outra coisa que não patriota. Mais ainda. “Homo religiosus”, repete-se, era o que Salazar era em essência – donde inexpugnável.
A minha geração universitária, a da década de 60, andava louca. Talvez sob o efeito de Urano, que sei eu. Aliás, que é que um “garôto”, acabado de sair do Liceu e na casa dos 20, sabe? – Nada. Nada de nada. Se amamos, oramos, combatemos, lutamos, estudamos, viajamos, integramos tertúlias, lemos, almejamos estar actualizados – e em amplidão e densidade – e concluímos – ao fim de dezenas e dezenas de anos – que nada sabemos, por que dar alguma consideração à sabedoria dos universitários?
Os meus amigos – e eu antes de mais ninguém – sabem que a minha boa estrela sempre se confirma. E um dia, era eu universitário – embora já com a formidavelmente enriquecedora experiência da tropa e da guerra –, tive que ler o 1º volume dos Discursos do Doutor Salazar. “Fantástico”!! E disse para mim próprio: “Alto!! O que por aí se diz sobre este homem é uma mentira repugnante. Um pobre-diabo ignorante e/ou faccioso é incapaz de alcançar a altura espiritual deste génio”. E lembrar Nietzsche impõe-se: “Quanto mais alto voamos mais pequeninos parecemos aos que não passam do chão”.
Peço licença a Hélio Lopes para acrescentar o seguinte: que os leitores não leiam apenas o discurso de 1957 no Porto – mas todos os Discursos.
Sim. O problema ultramarino – que só era problema porque, abreviando, aos EEUU interessavam o petróleo e as commodities e à URSS propalar a sua “redenção” **– ter-se-ia resolvido de outro modo, “mais vantajoso para quase todos”, excluindo, “naturalmente os grandes interesses do mundo”.
Obrigado, ainda, Hélio Lopes – e obrigado muito – por ter usado a palavra “ultramarino” em vez de “colonial”. Deixem este último termo para os estreitos de espírito sejam eles quem forem. E aqui volta a entrar Adriano Moreira. Como é que alguém que, em 1960, não via “outro caminho que não seja o da firmeza” quanto à defesa do Ultramar e, sublimemente, transbordava de satisfação com as elites goesas “ocupando a cátedra, empunhando o báculo, exercendo as profissões liberais (e) assumindo postos de direcção da economia”, como é que alguém assim, repito, se resigna ao “estado exíguo”!? (Citações em Lucena, idem).
FMI em Portugal !? – Ora, ora… Antes do fatídico 25-IV o escudo era a 6ª mais forte moeda do Mundo e, no já citado PORTUGAL DO MINHO A TIMOR, noticia-se o caso de um português de visita a Itália, na década de 50. Ao querer liras o cambista perguntou-lhe: “Que moeda tem?”. “Dólar e Escudo”, respondeu-lhe o nosso compatriota. “Ah! Eu prefiro o Escudo”, retorquiu-lhe o cambista. Reitero: é outra obra obrigatória – e tão-só porque é uma obra histórica.
É forçoso terminar. Aguardo agora a leitura da tese de doutoramento que o meu amigo José Maria dos Santos Coelho, recentemente, na UBI, sobre o pensamento político de Adriano Moreira, defendeu.
Por maiores que, eventualmente, sejam as diferenças – até somáticas – com Hélio Lopes, é alguém que gostaria de conhecer pessoalmente. Muito obrigado ao Alto da Raia e todas as venturas para o seu Director e quantos nele colaboram. (É no nº 74 que está o artigo que engendrou este meu texto).
**Impossível, todavia, não acrescentar a …… da ONU. No que á Educação tange basta reter as palavras do enviado da UNESCO a Angola. Remeto para a obrigatória obra do nosso conterrâneo Adriano Vasco Rodrigues, De Cabinda ao Namibe – Memórias de Angola. Também Hélio Lopes – e todos quantos pelo Ultramar andaram – a fruirá.
Guarda-16-XI-2015