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Uma brisa fresca e saudável

José Augusto Garcia Marques
Juiz Conselheiro do STJ (Jubilado)

Os dias de agosto na Praia das Maçãs estiveram quase sempre enevoados e impróprios para se desfrutar a praia, salvo em pequenos períodos durante a manhã. As noites, ou, pelo menos, muitas noites estiveram chuvosas e frias. Não estou a exagerar! No ano passado foi o contrário: céu azul, calor, praia apelativa, com um Sol radioso, embora com as limitações próprias daquele micro-clima, que António Lobo Antunes tão bem descreveu nas páginas dos seus livros e nas crónicas em que recorda a infância.
Quem o leu, ficou esclarecido sobre as particularidades pouco convidativas para quem gosta do tempo quente, de Colares e da Praia das Maçãs. Mas este ano foi demais! A minha Filha não pôs os pés na areia; eu fiquei-me pelo jardim, regando, cortando os ramos secos e plantando novos pés de algumas plantas. Ou sentado debaixo do telheiro, virado a sul, a ler um livro ou os jornais diários.
Mas, em contrapartida, todos reconhecem o sossego, a tranquilidade e a paz que se desfrutam naquele cantinho da região de Sintra. A calma dos dias, a frescura da casa fazem tombar o corpo numa dolência agradável e disponível para um descanso repousado. Durmo lá como em nenhum outro sítio. Noites de um sono reparador, só possível pela distância a que estou relativamente aos problemas e incómodos com que, nos restantes meses do ano a vida nunca deixa de me preocupar. Depois, o dia a dia decorre placidamente entre a casa, a jardinagem, os passeios no pinhal, a compra dos jornais, uma ou outra descida a pé à povoação e as deslocações ao restaurante Central da D. Dalila e do Senhor Miranda, no Mucifal, ou, às 5as feiras, na folga do restaurante que, em agosto, nos acolhe há mais de 25 anos, uma viagem um pouco maior até Nafarros, à “Adega do Saraiva”. No “Miranda” deliciamo-nos com um peixe fresco, acabado de pescar, soberbo no seu gosto a mar, ou com um polvo cozinhado de variadas maneiras, um bacalhau à Brás, um arroz de pato, todos pratos preparados com requintes de superação por uma excelsa cozinheira. No “Saraiva” optamos por umas mãozinhas de vaca, umas pataniscas de polvo ou por um bacalhau assado. E, em matéria de doces, a escolha, embora difícil, é desafiadora mas sempre bem sucedida. Pois não é mesmo difícil escolher entre umas profiteroles, um merengue de maçã, uma mousse de avelã ou de limão, ou essa bomba calórica que é o pudim de ovos (especialidades de pastelaria da sábia escolha da D. Dalila) ou entre o bolo de mousse de chocolate, o molotov, o cheese cake, o bolo de bolacha ou de amêndoa, preparados pela D. Maria João, que sempre nos acolhe com renovada simpatia?
Mas a “brisa fresca e saudável” do título, não está ligada ao clima pouco hospitaleiro com que a Praia das Maçãs recebeu, no último mês de agosto, os seus visitantes. Refere-se antes ao que aconteceu no futebol português da 1ª Liga (reconheço que é um mutatis mutandis bastante original…). Mais concretamente, o meu pensamento dirigia-se aos acontecimentos que sacudiram o F. C. Porto (F.C.P.) e à vitória eleitoral retumbante que colocou André Vilas-Boas na presidência do grande clube nortenho e apeou, com estrondo, depois de mais de 40 anos de poder, Jorge Nuno Pinto da Costa do pedestal em que se encontrava instalado. Sem deixar de reconhecer o notável currículo de vitórias de Jorge Nuno, o certo é que era mais que tempo de se colocar um ponto final ao seu império e, principalmente, nas “comodidades” de muitos dos que o rodeavam e que, quais lapas, se agarravam a ele. Estou a lembrar-me designadamente de um homenzinho calvo, que se distinguia no banco do seu clube pela má educação e pelas ameaças a árbitros e ao banco adversário, distinguindo-se pela especialidade de dar pontapés – quase todos no ar, embora alguns atingissem as pernas dos adversários visados(!).
O seu desaparecimento do firmamento competitivo do futebol nacional representou um saudável contributo para a higiene das competições neste País. Num outro patamar, mas também cansativo pelo azedume e pelo discurso bilioso, pode saudar-se a “licença sabática” de Sérgio Conceição. Sem lhe negar, como a Pinto da Costa, os méritos desportivos, com tradução, aliás, em muitos troféus conquistados, todos os desportistas não podem também deixar de reconhecer o seu mau perder, a sua permanente “azia” desportiva, a falta de um sadio espírito competitivo, a sua explosiva má-criação. E que dizer dessa “gentalha” que gravitava em redor da principal claque portista, liderada por um guerreiro/arruaceiro, petulante e violento, conhecido por “Macaco”, que, com a complacência de Pinto da Costa, montou um rendoso comércio de bilhetes, tendo, durante largos anos, revelado um sentido de impunidade e de despudor que envergonharam o desporto e o F.C.P.?
A “Operação Pretoriano” terá contribuído de um modo salutar para a limpeza dos detritos deixados no Dragão, bem visíveis nos negócios da bilhética e nas sucessivas rixas e agressões verbais e físicas desencadeadas por este grupo de “adeptos”.
Não tenho por isso qualquer dúvida em me congratular, como adepto do desporto em geral e do futebol em particular, com esta brisa saudável que veio restituir alguma paz e salubridade entre os três maiores clubes portugueses. Na verdade, André Vilas-Boas é um “senhor” que parece saber rodear-se de gente de bem e com maneiras; Vítor Bruno revela um discurso escorreito e lógico, competência profissional e sentido de ética desportiva. Tudo bem diferente do que aconteceu com excessiva frequência nos últimos mandatos do presidente que agora foi usufruir de um merecido descanso.
Entretanto, no Benfica (SLB), foi finalmente despedido o alemão Roger Schmidt (R.S.). Trata-se de uma situação muito diferente da que abalou o F.C.P. O treinador agora despedido é um homem educado e respeitável enquanto cidadão e desportista. Mas não acertou com a orientação do SLB. A rescisão do seu contrato deve-se assim a razões puramente desportivas. Do ponto de vista pessoal, eu, que, como se sabe, sou adepto do Sporting Clube de Portugal, apenas lhe anotei uma falta não despicienda: a circunstância de, tanto tempo depois de ter chegado a Portugal para treinar o Benfica, não ter feito um esforço para aprender o português, a língua do país onde trabalhava, residia e ganhava os seus altos salários. Foi pena e não é muito desculpável. Até porque muitos antecessores dele, a começar pelo saudoso Sven Goran Erikson, em pouco tempo, terem começado a falar o português. E, ao fazê-lo, tornaram-se melhores treinadores, mais capazes de dialogarem e entenderem os seus jogadores e, assim ganharam o respeito dos adeptos e da comunicação social.
Vem agora de novo à liça Bruno Lage. Apesar de indefectível leonino, o meu coração não deixa de, com sinceridade e com o respeito que sempre me merecem os homens de bem e esforçados bons profissionais, desejar que tenha boa sorte pessoal e que se ponha em linha com os bons exemplos que hoje, noutros clubes nacionais preenchem com felicidade cargos similares.
Lisboa, 7 de setembro de 2024

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