Histórias que a Vida Conta
1 – A visita do Papa Francisco ao Iraque constitui um exemplo excecional de amor pela Humanidade. Viagem difícil e de elevado risco, desgastante para um Homem com evidentes limitações e dificuldades de locomoção, foi um gesto de paz e de reconciliação, além de ser um tributo às minorias cristãs, torturadas e dizimadas. Com esta viagem Francisco deixou um testemunho único contra a intolerância religiosa, uma lição viva do valor da religião que não pode ser pretexto de guerra e ódio mas sim um fator de compreensão e amor entre os crentes das diferentes religiões. Ninguém de boa fé e coração aberto, animado por sentimentos de Justiça e de amor ao próximo, pode deixar de reconhecer este exemplo de grandeza e humanidade. Pense-se, entre os momentos inesquecíveis desta viagem histórica, no valor simbólico do encontro com o Ayatollah Al Sistani, o líder espiritual da grande maioria dos muçulmanos xiitas e recorde-se o sermão proferido entre as ruínas da praça das quatro igrejas, em Mossul (a antiga cidade bíblica de Ninive), que esteve, durante vários anos, sob o jugo dos terroristas do Daesh, onde o Papa expressou a sua dor pela “trágica redução dos discípulos de Cristo, aqui e em todo o Médio Oriente”. Apesar deste “dano irreparável”, Francisco falou de esperança, afirmando que “hoje, apesar de tudo, reafirmamos a nossa convicção de que a fraternidade é mais forte de que o fratricídio, que a esperança é mais forte que a morte, que a paz é mais forte que a guerra”. O arcebispo de Erbil dos caldeus, a capital do Curdistão iraquiano, D. Bashar Matti Warda, enalteceu a “coragem” demonstrada pelo Sumo Pontífice, insistindo na realização da visita que lhe foi desaconselhada a um “conturbado país, uma terra tão cheia de violência, de intermináveis disputas, de deslocamentos e sofrimento para o povo” – cfr. António Rodrigues, “Papa rezou em Mossul pelo regresso dos cristãos”, “Público”, 8 de março, pág. 22.Nestes tempos de pandemia temos assistido a iniciativas reveladoras de um grande empenhamento a favor daqueles que mais precisam. A sociedade civil tem vindo a mobilizar-se em favor daqueles que mais precisam. Avultam as Iniciativas organizadas pelas diferentes Igrejas e confissões religiosas. As paróquias desdobram-se por todo o País, revelando mais uma vez o papel insubstituível da Igreja Católica no esforço de minorar as condições de miséria e de fome daqueles a quem tudo falta. Ainda assim, muitos políticos, jornalistas e comentadores continuam a atacá-la bem como aos crentes, com uma sanha que chega a ser difícil de entender. Na verdade, a(s) Igreja(s) continua(m) a ser um apoio permanente e sempre disponível das famílias, dos velhos e das crianças, dos desempregados e dos sem-abrigo. Acompanhando esse esforço feito de solidariedade e de compaixão, há associações e obras de bem fazer, como o Banco Alimentar Contra a Fome, que prosseguem o seu infatigável trabalho de dar comida a quem mais precisa, ou seja, de valer ao próximo. Por estranho que possa parecer, recebem como resposta por parte de políticos e movimentos radicais de uma esquerda “bem falante” reações de uma sanha persecutória, visando interpretar atos que são de pura humanidade em gestos de hipocrisia e de caridade estéril, quando não em manifestações de protagonismo e formas de vaidade por parte de quem os pratica.Penso que esta agressividade contra iniciativas humanitárias e bem intencionadas radica em causas de sectarismo ideológico e intolerância quando não em problemas pessoais mal resolvidos.2 – Entretanto, Marcelo Rebelo de Sousa tomou posse do segundo mandato presidencial no dia 9 de fevereiro. Fez um discurso muito bem escrito e pensado, que recebeu o aplauso de PS, PSD, CDS e do próprio BE. No entanto, PCP/PEV, PAN, IL e “Chega!” apontaram-lhe omissões. Penso que foram, em geral, injustas e mal recebidas.Destaco do discurso os seguintes trechos, que me parecem mais esclarecedores. Disse O P.R.: “Vivemos em democracia, queremos continuar a viver em democracia e em democracia combater as mais graves pandemias. Preferimos a liberdade à opressão, o diálogo ao monólogo, o pluralismo à censura”. Em clara resposta à última intervenção pública de Cavaco Silva. que afirmou que “a democracia está amordaçada”, M.R.S. lembrou que, mesmo em pandemia, se realizaram duas eleições – presidenciais e regionais dos Açores -, sendo eu desta última resultou uma mudança de governo regional. “Isto é democracia”, sublinhou Marcelo. O Presidente quer ainda “melhor democracia, em que a liberdade não seja esvaziada pela pobreza, ignorância, dependência ou corrupção”. Uma democracia com mais inclusão, tolerância, respeito por todos os portugueses, além do género, do credo, da cor da pele, das convicções políticas e sociais, em que ninguém seja “sacrificado ao mito do português puro”. A nível político, defendeu “convergência no regime e alternativa na governação” (…) estabilidade sem pântano, renovação que evite rutura, antecipação que impeça decadência, proximidade que impossibilite arrogância e abuso de poder”.3 – E, por falar em inclusão, não poderia deixar de “incluir” neste artigo uma referência de muito elogio e satisfação às medalhas de ouro obtidas nos Europeus de Atletismo em Pista Coberta, realizados em Torun, na Polónia, no fim da semana passada.As vitórias e as medalhas alcançadas por Auriol Dongmo, no lançamento do peso feminino, Pedro Pablo Pichardo, e Patrícia Mamona, ambas no triplo salto, foram resultados que colocaram Portugal no segundo lugar da tabela dos países em função do número de medalhas recebidas. Ora, Auriol Dongmo, natural dos Camarões e naturalizada portuguesa em 2020, e Pedro Pichardo, cubano de nascimento, naturalizado em 2017, são exemplos de atletas acolhidos e integrados no nosso País, onde têm tido a oportunidade de desenvolver as suas capacidades, reiterando a tradição de Portugal como nação inclusiva com um povo aberto ao mundo e à diversidade. As suas vitórias alegraram-nos tanto como se tivessem sido obtidas por portugueses nascidos no Continente ou nas Regiões Autónomas. Aliás, Patrícia Mamona nasceu e foi criada em Lisboa, embora tenha ascendência angolana. E, já agora, permita-se-me uma palavra de desconsolo pelo facto de Francisco Belo, atleta de Castelo Branco, ter ficado a três centímetros da medalha de bronze na prova de lançamento do peso, concurso que chegou a liderar.Finalmente, e ainda no Desporto, agora na Liga dos Campeões, seria imperdoável não deixar uma palavra de vibrante felicitação ao F.C. do Porto, que, ontem, numa 2ª mão épica, conseguiu eliminar a poderosa e milionária “Juventus” de Cristiano Ronaldo, apurando-se para os quartos de final da competição mais importante no futebol europeu de clubes. “Bravíssimo Dragões!”, como titulou “A Bola” de 10 de fevereiro.Lisboa, 10 de março de 2021