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“Todas as questões devem tratar-se com delicadeza”, Ortega Y Gasset

Algumas perguntas a Eduardo Lourenço (I)

Os meus melhores cumprimentos antes de mais nada; e os meus mais vivos agradecimentos e parabéns pelo optimismo inerente a mais que nove décadas de vida.
Após o 25-IV um dos próceres da Secção de Filosofia da nossa Faculdade disse-me: “Apareceu aí o Eduardo Lourenço (EL) a pedir que lhe déssemos o Doutoramento e nós respondemos-lhe: ‘Muito bem! Apresente-se a provas’”. Foi das primeiras vezes que ouvi falar de EL.
A informação foi para os recessos da minha consciência, digamos, e, mais tarde, quando integrei a “Comissão Comemorativa dos Cinquenta Anos da Vida Literária de Eduardo Lourenço” é que o conheci pessoalmente. O que, mais tarde, me foi dito acerca da pessoa não coincidia.
O saudoso e escarmentado amigo António Paulouro dissera-me um dia, já não sei a propósito de quê, que “EL era um homem de relacionalidade simpática, acessível, com quem era um gosto falar, estar”. Todavia, o melhor Prof. que tive em toda a minha Vida – e que nunca deixou de o ser até ao seu passamento –, ademais de um amigo supremo que antes de sair definitivamente da Guarda, “que o encantava”, me obsequiou com colecções de História, o Dr. Abílio Alves Bonito Perfeito, personalidade de muito elevada discrição, disse-me – sem qualquer ressentimento – que, não obstante ter sido condiscípulo de EL em Coimbra, quando, após o 25-IV, passava por ele na rua nem a salvação lhe dava. O Dr. Bonito Perfeito – que optou por não seguir carreira universitária – era, soberanamente, a anti-vedeta – a tal ponto que recusou a agraciação com que a Câmara Municipal quis mimoseá-lo.
O certo é que, por ter integrado a dita comissão comemorativa, se suscitou uma proximidade. E, dada a proximidade que assim se engendrou, e por ser, na altura, colaborador do Jornal de Coimbra, desse respeitável e respeitoso jornalista que é o Dr. Jorge Castilho, entrevistei EL para este semanário, que, ademais, chamou a atenção para tal com uma foto de ambos no canto superior direito da 1ª página. É com prazer que, mais uma vez, lhe agradeço a disponibilidade prontamente manifestada.
Sucede é que, na dita entrevista, tendo-o eu, a dada altura, confrontado com a questão de Olivença, esse imperialista esbulho espanhol, me respondeu de imediato: “As fronteiras não são perenes”. A resposta deixou-me transtornado – ainda por cima por parte de alguém que nasceu no heróico e martirizado concelho de Almeida e mesmo a pegar com o imperialismo do vizinho. Salvo melhor contabilidade Portugal foi invadido 18 vezes (três pela França), e o que em pedra está gravado em Escarigo, que foi “saqueada e incendiada”, nada disso me esquece. Não é por acaso que a “Europa” está como está… O transtorno continuou até hoje, claro.
Eu já tinha visitado Olivença,750 quilómetros quadrados infamemente rapinados a Portugal. E tal rapina e infâmia nunca mais deixaram de atormentar-me (não exagero no termo “tormento”). Aliás, uma das glórias que sinto por ter passado pela Academia Sénior foi ter levado a sua Direcção a fazer àquele rincão, tão eloquente, galhardamente português, uma viagem de estudo.
Mais. Em 12-IX-1997, na comemoração dos 700 anos do Tratado de Alcanizes, que fixou definitivamente as nossas fronteiras europeias, no congresso decorrido em Castelo Rodrigo e Santa Maria de Aguiar, a dada altura o então Ministro dos Assuntos Exteriores de Espanha, D. Federico Trillo y Figueroa, ao lado dos Drs. Almeida Santos e António Vitorino declarou que “na questão de Olivença Espanha não tem defesa”. (Dirigi-me ao prócere espanhol e agradeci-lhe em castelhano na presença dos seus acompanhantes do PS).
E tão-só duas breves notas: nem os espanhóis “brincam em serviço” – como acontece do lado de cá da fronteira, como se viu com as miserandas enormidades do reitor de Coimbra proferidas em 2014 quando da atribuição do prémio que leva o nome de EL –, nem D. Federico, repito, é uma qualquer criatura. Baste dizer que nos últimos anos foi o embaixador de Espanha em Londres.
Mais ainda. Sobre o acrisolado, irremovível, portuguesismo dos nossos compatriotas oliventinos puderam ficar bem cientes quantos integraram a viagem de estudo. E, por mim, desde há anos que integro o Grupo dos Amigos de Olivença de que sou o membro nº 703. Honrosa menção é aqui muito gostosamente devida à então Presidente da Academia Sénior, una vera signora, como dizem os italianos. Quanto às citadas enormidades do coimbrão, neste mesmo jornal escrevi um artigo em que, em suma, declarava: “O Iberismo é uma idiotia de intelectuais”. Não fui o único que ficou repugnado com o despautério do reitor, longe disso, e o artigo foi posteriormente republicado no semanário O Diabo.
Aqui chegados, e por um jornal ser – acima de tudo – um instrumento de serviço público posto à disposição dos leitores, há que recordar algo. Questão essencial: Olivença é um território português cativo de Espanha desde que, após o Congresso de Viena (Acta Final de, 7-V-1817, assinada por Espanha), Espanha prometeu restituí-lo e – até agora – ainda não fez.
Guarda-30-III-2016

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