Tempo de lágrimas

Este poderia ser um bom título para os tempos que correm, devido ao sofrimento e às mortes que tantas guerras ocasionam.

Ao ver morrer pessoas indefesas apetece-nos chorar, compadecidos de tanta dor provocada a inocentes. E estas imagens de desolação entram em nossas casas e fazem já parte do nosso quotidiano.
É também tempo de lágrimas porque se aproxima a comemoração dos nossos fiéis defuntos. Participo sempre na romagem até ao cemitério, que sempre tanto me emociona, e não consigo conter as lágrimas vertidas sobre a campa dos meus queridos pais e irmãos que tanto me acarinharam.
Ficamos também impressionados e desarmados quando constatamos que as lágrimas são vertidas por algum dos nossos amigos.
A este propósito, desejaria contar um pequeno episódio porque li há dias num post de um amigo e que me comoveu. É verdade que comunica muito através dos meios modernos, do designado Facebook, apesar de já ter uma idade avançada.
Ele é mais do que aquilo a que se pode designar por “um amigo do Facebook”. Conheci-o pessoalmente, embora não fosse um íntimo, mas sempre o apreciei por ter um itinerário semelhante ao meu. Foi professor universitário de uma universidade estrangeira e quando perdeu a mulher, já reformado, regressou à sua terra natal.
Não perdia nenhum dos seus posts, sempre elucidativos, apreciando sempre o seu saber. Com ele aprendia sempre alguma coisa. Continuava um autêntico professor, sempre didático no domínio da literatura e da língua portuguesa, questionando constantemente as suas raízes e as suas expressões.
Como acontecerá talvez um dia a cada um de nós, reconheceu que, sozinho, a vida tinha os seus limites, e decidiu ir para uma instituição já que, nesta nossa civilização, temos de pagar para tratarem de nós.
Este amigo contava que estava edificado com a maneira como se ocupavam dele. Eram bons profissionais e, na sua qualidade de doente, já em cadeira de rodas, não podia pedir mais atenções.
Contava no referido post, que, após as empregadas lhe terem arrumado o quarto e feito a cama, pediu-lhes para o levarem até à janela de onde, por uns instantes, contemplou a paisagem infinita alentejana e os olhos começaram a ficar-lhe humedecidos e não escondeu as lágrimas que lhe corriam pelas faces, que a empregada mais nova correu a limpar-lhas.
E, interpretando o pensamento deste amigo, disse-lhe:
— É a sua terra?
E mais lágrimas lhe tombaram dos olhos.
Todos nós temos a nossa terra, a nossa casa, o nosso cantinho e quando estamos longe, talvez impedidos para sempre de lá voltar, só as lágrimas nos podem consolar.
E terminava o post afirmando. “Não quero ter vergonha de chorar. Sim, sou homem, mas sou humano, frágil e as lágrimas consolam-me, curam-me na triste situação em que estou”.
E, agora, veio-me também à memória a minha mãe quando teve de ir para a designada casa de repouso. Ao visitá-la, a primeira coisa que me pedia era que a levasse até a sua casa. Quando tinha de a deixar para voltar ao lar, começava logo a chorar. E quando já não a podia levar até à sua morada, não deixava de me suplicar: “leva-me a casa, leva-me a casa”. Mas, nessa ocasião era eu que chorava por não lhe poder fazer a vontade.

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