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Tempo de férias e de repouso

O confinamento deu oportunidade a estudiosos de várias disciplinas de se debruçarem sobre temas que nunca antes teriam imaginado ou se o tivessem feitos anteriormente, tê-los iam abordado de outra maneira.

É interessante também passar pelas livrarias e constatar a quantidade de livros que estão a sair, escritos nesse período, que, para uns, foi um autêntico martírio e, para outros, uma oportunidade para desenvolverem os seus talentos criativos.
Devo dizer que também eu passei um tempo de repouso criativo durante o qual tive vontade de reflectir sobre alguns temas, como o rosto que se oculta detrás de uma máscara, o sorriso que não se chega a identificar, a dificuldade de se exprimir pelas palavras, a impossibilidade de os corpos se tocarem pelos beijos e abraços. A sociedade e nós próprios estávamos como que num compasso de espera, numa espécie de letargia, hibernação, enfim, num estado de repouso.
Também eu fiquei curioso em reflectir sobre o este estado de repouso pela qual todos nós ansiamos.
Associou-se sempre o repouso à posição horizontal. É por isso que o sono repousante, o nocturno, é na cama. É também por isso que os mortos são apresentados na posição horizontal para gozarem do repouso eterno.
Na civilização judaico-cristã, o repouso tinha o seu fundamento na Bíblia. O repouso sabático provinha do livro do Génese que diz que Deus se repousou no sétimo dia, após a criação. Para os cristãos é o domingo, o dia da ressurreição, o primeiro dia da semana, que é consagrado ao Senhor. É por isso que no domingo não se trabalha, tendo sido transcrito como dia de repouso obrigatório nas legislações laborais de quase todos os países.
As férias são um tempo de repouso que equivale a um tempo de não trabalho, de trabalho assalariado. Nas nossas aldeias, os artesãos e os camponeses tomavam o seu tempo de repouso fazendo uma sesta, indo beber um copo com os amigos quer de manhã, quer à tardinha. Nos domingos, dia de repouso por excelência, as pessoas vestiam-se de maneira diferente, com os seus fatos domingueiros. Durante a semana, eram senhores e donos dos seus tempos livres.
Com a industrialização, a pessoa deslocava-se para o atelier ou a fábrica e estava às ordens de um patrão, de uma estrutura onde o tempo de repouso lhe é imposto, através da sirene que se ouve por toda a fábrica, para autorizar a pausa, assim como para designar as horas das refeições, e para o começo e o termo do trabalho.
Pela evolução do formato dos assentos pode ver-se a nossa relação com o repouso. Nos tempos mais recuados, não havia encosto nos assentos. Eram bancos compridos onde se podiam sentar várias pessoas ou indivíduos, também designados por mochos. As cadeiras eram direitas e serviam para determinadas funções passageiras, como comer, assistir a determinados actos ou mesmo trabalhar. Só mais tarde é que o mobiliário se modificou, pois não se desfruta o mesmo repouso numa cadeira direita, numa cadeira longa, numa cadeira de balouçar ou numa cama de rede.
As férias, tempo de não trabalho por excelência, pretende ser um tempo de ocupação activa do tempo: passeios, viagens, prática de desporto de todas as modalidades. Raramente se houve: vou-me repousar durante as férias.
Para uma próxima vez poderei falar do tempo da reforma, da pensão, da aposentação da jubilação e da emeritado, conforme o estatuto e da carreira profissional da pessoa, sendo também esse um tempo de mudança de ocupação e não necessariamente de repouso.

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