O mês de setembro foi sempre e continuará a ser o sinónimo de fim de verão.
Como tal, hoje apetece-me recuar cinquenta anos no tempo e dar a conhecer a uns e recordar aos demais, a azáfama do mês em que sai o verão e se entra no outono. Toda esta agitação vivia-se no meio rural que era onde habitava a maior parte da população das nossas Beiras. Estou a falar em quintas, casais e pequenas aldeias, que era ao tempo também o meu habitat natural.
Na atividade campestre, era, e até certo ponto ainda se mantém em alguns aspetos, tempo de mudança. Terminada a época das colheitas, preparavam-se as forragens para sustento, sobretudo do gado miúdo durante a estação seguinte, que por ser mais fria e tempestuosa, exigia da parte dos rebanhos, maior e melhor tratamento.
Vivia-se num tempo em que a propriedade rural estava muito dividida, forçando por isso o agricultor a ter menos cabeças e a um pastoreio, mais adequado nas zonas onde apenas crescia vegetação silvestre.
Hoje isto é quase uma miragem, pois as cabeças por rebanho passaram para uma dimensão incomparável, o gado farta-se em parques devidamente configurados e bem perto das salas de ordenha, para se evitarem perdas de tempo e na própria alimentação.
Do tempo em que vos falo começou no interior do distrito a vaga de emigração clandestina para França. Se bem que na zona raiana tenha começado uns anos antes, posso afirmar que o ano de 1964, aqui por Celorico e pelos concelhos que o circundam foi o ano de arranque. Os primeiros a partir foram os jornaleiros, pedindo a maioria deles dinheiro emprestado, partiam na clandestinidade sem saber para onde. A chegada acontecia normalmente dez dias depois, com mais de cem horas a palmilhar terreno e orientados pelo nascer da lua. Esta viagem era feita em grupos de relativa dimensão em que cada um tinha de pagar cerca de dez mil escudos o equivalente a quatrocentas jornas na nossa terrinha, pois ao tempo o trabalhador rural ganhava ao dia vinte cinco escudos e a mulher metade dessa importância.
Divaguei aqui um pouco, com o propósito de encorajar esta nova vaga de emigrantes. Se bem que não fosse esse o seu sonho, nem a sua formação, na hora do embarque em avião, têm todo o seu destino programado, enquanto que os primeiros apenas iam entregues à sorte.
Setembro hoje equivale ao início de época, do futebol às escolas, passando por vários setores da vida pública, tudo se muda e tudo recomeça. Mesmo a atividade económica do ano civil que o começo é em janeiro seguinte começa agora a ser debatida e curiosamente a deste ano com alguns rebuçados, por força das urnas que vão falar em dois mil e quinze.
No meio urbano, que é onde hoje se concentra a força da população portuguesa, este mês é por força de certas circunstâncias dos mais pacatos do ano, isto porque depois de certos gastos com as férias de verão e a despesa com manuais escolares obrigam a uma certa parcimónia, evitando por isso certos desmandos.
Quem estiver livre destes compromissos e um rendimento suficiente, também tem por onde viaje, pois é um mês de grandes festejos e grandes feiras, só que no meu entender, na população portuguesa, esta fatia é cada vez menor e mais acautelada pois sempre se desconfia do que aí vem. Também se sabe que os pobres são cada vez mais enquanto que os ricos são cada vez menos embora mais ricos.
A populaça voltará a ter a sua animação um mês e pouco mais tarde e esperar pelo São Martinho, que é quando a natureza nos brinda com as castanhas, um fruto bem suculento e acessível por estas bandas e a divinal jeropiga, que alegra e faz lamber o beiço ao mais pacato dos humanos.
Para todos os que iniciam uma nova temporada, desejo as maiores venturas e que o breu que pronuncia tristeza vire para um tom bem mais claro.