O apóstolo Paulo perguntou um dia a um grupo de discípulos, da cidade de Éfeso:
“recebestes o Espírito Santo, quando abraçastes a fé?” E eles responderam: “nós nem sequer ouvimos dizer que existe o Espírito Santo”. É possível que esta mesma pergunta feita hoje, obtenha de muitos cristãos idêntica resposta. E esta hipótese devia, por si só, inquietar-nos a todos e, sobretudo, levar a uma conversão.
A verdade é só uma: sem o Espírito Santo ninguém pode ser cristão. O mesmo apóstolo Paulo é claro: “ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor senão pela acção do Espírito Santo”, isto é, ninguém pode ter fé, afirmar que Jesus ressuscitou, que é o Filho de Deus, se não for o Espírito Santo a revelá-lo. Sem o Espírito Santo ninguém pode acreditar que Jesus é Deus, e quem não acredita que Jesus é Deus não é cristão.
Desde o Baptismo somos templos do Espírito Santo. No sacramento do Crisma voltamos a recebê-l’O. No sacramento da confissão os nossos pecados só são perdoados porque o Espírito Santo foi dado à Igreja para a remissão dos pecados. E a Eucaristia só existe graças à sua acção: “enviai o Espírito Santo para que o pão e o vinho se transformem no Corpo e no Sangue de Cristo”, suplica o sacerdote antes da consagração. E depois volta a pedir que o Ele venha sobre todos participantes na Eucaristia “para que nos transforme num só corpo”, o corpo místico de Cristo que é a Igreja. Sem o Espírito Santo ninguém pode ter fé autêntica; sem Ele não há Eucaristia; sem Ele não há Igreja.
A Palavra de Deus vem ajudar a tornar mais viva a necessidade absoluta do Espírito Santo em todos os âmbitos da existência cristã. Assim, a primeira leitura apresenta os apóstolos que, mesmo sabendo que Jesus estava vivo, eram incapazes de falar d’Ele. A razão para esta incapacidade encontramo-la numa anterior advertência de Jesus: “permanecei na cidade até serdes revestidos com a força do Alto”. O Espírito Santo é a força do Alto, e sem Ele não é possível a missão da Igreja, iludimo-nos sempre que falamos de Jesus sem primeiro invocarmos e acolhermos o seu Espírito. Só após o Pentecostes teve início a missão da Igreja, depois que “todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas”.
A primeira leitura revela que o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos no dia de Pentecostes, ou seja, cinquenta dia após a Páscoa, e o evangelho afirma que O receberam no próprio dia de Páscoa: “na tarde daquele dia… Jesus soprou sobre eles e disse-lhes: «recebei o Espírito Santo». Isto não é uma contradição, mas sim algo muito significativo para a nossa vida espiritual. O Espírito Santo não é um dom mais que se recebe, de uma vez para sempre, no Sacramento do Baptismo ou do Crisma. O Espírito Santo é Pessoa divina, é Deus como o Pai e o Filho, “com o Pai e o Filho é adorado e glorificado”. A nossa relação com o Espírito Santo, Senhor que dá a vida”, deve ser experiência constante, através da oração e dos sacramentos, para que a sua presença em nós seja viva e vivificante.
Jesus transmite o Espírito Santo aos discípulos “soprando sobre eles”. Gesto tão mais revelador se nos recordamos que assim é descrita a criação do Homem: “Deus formou o homem do pó da terra e soprou nas suas narinas o sopro de vida”. Deus cria e recria, pelo dom do Espírito Santo, “Senhor que dá a vida”.