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Os ‘’longos anos 60”

Os ‘’longos anos 60” foram um período que marcou a segunda metade do século XX, e que teve um impacte maior e que não se cingiu apenas à década de 1960.Na verdade, ‘’os longos anos 60” começaram antes mesmo dos inícios dessa década.

Por volta de 1950, a Europa vivia tempos bastante difíceis, fruto da II Guerra Mundial e das suas consequências negativas no seio da população. Os Estados Unidos da América, um dos países menos afetados com o confronto bélico, não conhecia perturbações de grande índole, e a nível económico estava em franco crescimento. Em termos morais, os jovens iam aceitando os valores culturais e morais vigentes. Nos restantes países, o reconhecimento da situação económica era tal, que a ‘’própria moda procurava poupar nos tecidos e nos acessórios” (Rui Bebiano, O Poder da Imaginação).Contudo, parecia começar a despontar ‘’algo de profundamente diverso” (Rui Bebiano, O Poder da Imaginação) na ordem social americana. A geração nascida do baby boom viria marcar uma nova fase das vidas americanas, e que teria repercussões nos restantes países ocidentais. Tal subida da natalidade deveu-se ao rápido crescimento económico no período pós-guerra, que trouxe bem-estar à população. Nas décadas de 50 e 60, eram raras as famílias com menos de três filhos. Assim, os jovens eram filhos desse crescimento, pessoas que tinham condições de vida um pouco melhor que os seus pais e que podiam viver consumindo mais. Deste modo, do baby boom resultariam ‘’uma série de consequências de impacte na realidade económica e na vida social” (Rui Bebiano, O Poder da Imaginação).Com isto, surgiram alterações morais e culturais, com mudanças dos mais variados tipos, como a vulgarização das blue jeans e do estilo de roupa simples. Uma atitude de anti disciplina perante assuntos ligados desde a política até aos conceitos estéticos marcariam esta nova fase, tendo-se iniciado por volta de 1955. Para além disto, a juventude surgia agora como um estrato social autónomo, algo que anteriormente nunca tinha existido.O crescimento das universidades originou o impacto nas cidades. Os jovens não ficavam em casa dos pais, mas sim nos locais para onde iam estudar. Assim, a sociedade estudantil cresceu, criando-se como grupo social autónomo. O aumento do sexo feminino nestas instituições foi um marco significativo dos anos 60, reflexo da emancipação do sexo feminino. Para os jovens ganharem identidade, adquiriram uma forma de estar, de viver e de se divertir bastante ímpares dos restantes grupos sociais, com características próprias. Os espaços de convívio, por exemplo, eram frequentados pelos jovens no horário pós-escolar. Seriam uma espécie de modelo da sociedade, algo que até então era predominado pelos mais velhos.O cinema viu-se também influenciado, surgindo ‘’também um novo género cinematográfico” (Rui Bebiano, O Poder da Imaginação), o teenpic. Este tipo de filmes era concebido para o público maioritariamente juvenil, que tinha como enredo momentos dessa camada social que se estava a desenvolver, sendo exemplos disso o ‘’Fúria de Viver” e ‘’O Selvagem”.Nos ‘’longos anos 60”, começou também a surgir o Rock and Roll, que criou impacto ao entrar em rutura com a música até então criada. Esta revolução musical só foi possível graças a um conjunto de alterações tecnológicas, como o transístor. Assim, o público tinha a possibilidade de ouvir tipos de música diferentes, porque as pessoas tinham possibilidade de as ouvir. Para além disso, o aparecimento do disco em vinil permitiu também ouvir música de forma mais barata e com mais qualidade, se comparado com os antigos discos de porcelana. Contudo, apenas os filhos da classe média é que podiam comprar este tipo de discos e aparelhos. Elvis Presley seria o principal impulsionador do rock and rol, fazendo músicas que conseguiram atrair grandes quantidades de jovens. A sua postura irreverente foi de tal forma impactante que muitos conservadores consideraram que o cantor significava ‘’sinais de uma conspiração comunista” (Rui Bebiano, O Poder da Imaginação). Surgiram também revistas com novas capacidades gráficas, com cor e especialistas em música. Estas impuseram modas, novos hábitos de vestir, cortes de cabelo, entre outros, através dos músicos que lhes concediam entrevistas. O expoente máximo desta nova cultura de massas foram os Beatles, que faziam da sua própria vida um espetáculo. A abertura dos jovens a estas novas formas de viver desenvolveu a indústria da moda e do espetáculo para a sociedade juvenil.Na Europa, foi o existencialismo francês deturpado que atingiu os mais jovens. Acreditava-se firmemente nesta linha de pensamento filosófico, e teria enorme influência no meio universitário. Em relação ao nosso país, Portugal ‘’não escapará a esta influência” (Rui Bebiano, O Poder da Imaginação). Exemplos desta nova forma de pensar teriam impacto na contestação juvenil, que lutava pelas ideias anticolonialistas, pelos direitos das mulheres e dos homossexuais, pelos direitos civis dos negros e pela cessão de confrontos bélicos, como o caso da guerra do Vietname. Para além disso, vulgarizou-se um estilo mais informal, com roupas coloridas e cabelos longos, assim como o consumo de drogas. A sexualidade é também abordada de uma forma mais aberta, e o corpo feminino mais exposto. Desta forma, surgiu uma nova sociedade que procurava afastar-se da rigidez imposta pela burguesia.Os universitários seriam uma peça fundamental deste movimento, e fizeram surgir um fenómeno de anti disciplina. Esse fenómeno iniciaria numa contestação em Berkley, no ano letivo de 1964/1965, em que um jovem pertencente a um grupo político foi preso, o que levou às inúmeras críticas dos universitários americanos. Os protestos chegariam à Europa, incluindo aos Estados do bloco socialista. A partir de 1968, passaria a existir uma ‘’nova associação da juventude” (Rui Bebiano, O Poder da Imaginação), fruto sobretudo do ‘’Maio francês”, com uma greve geral e uma forte contestação estudantil em Nanterre. Tais acontecimentos chegariam também a todo o mundo, e os movimentos estudantis marcariam uma onda de revoltas em diversos países.Por último, importa referir que estes jovens desenvolveram uma ética de anti trabalho, onde procuravam ‘’um equilíbrio entre o seu exercício como atividade produtiva e experiência do prazer” (Rui Bebiano, O Poder da Imaginação). Esta juventude valorizava bastante a mobilidade, rejeitando a visão tradicional e eurocêntrica. Assim, rejeitavam a rotina e o confinamento ao território nacional, marcando uma visão que ia contra os ideais nacionalistas, voltando-se assim para um espírito mundial.Concluindo, os ‘’longos anos 60” foram um período extremamente importante para se compreender a mudança de mentalidades traçada no mundo ocidental. Desta forma, o pós-guerra traria uma nova forma de pensar bastante presente na maior parte da comunidade juvenil e estudantil, que se conseguiu impor graças à sua adesão em vários países. Importa acima de tudo perceber que este período não se cingiu apenas a uma década, mas esteve compreendido entre a década de 50 até cerca de 1974/1975. O seu fim ficaria sobretudo marcado pela crise petrolífera iniciada em 1973. Assim, enquanto os anos 60 tinham sido um período de consumo e de massas, os anos 80 viriam a ser marcados pela crise económica e pelo desemprego.

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