Agora que começa o sínodo onde se concentram tantas esperanças para mudar a face da igreja,
é bom ouvir a opinião de algumas pessoas que têm responsabilidades na hierarquia da igreja sobre algumas matérias sensíveis no seio do mundo católico. Uma delas é a do bispo de Antuérpia, Johan Bonny, que tem tomado posições corajosas que podem não agradar a muitos crentes, mas que é conveniente ouvir.
A partir do dia quatro de outubro, este bispo estará em Roma e participará na comissão sobre a família. Deu na semana passada uma entrevista a um diário belga, de tendência católica, “La Libre Balgique”, tomando posições que podem surpreender. Nesta entrevista, Johan Bonny pronuncia-se sobre dois temas: a colegialidade e a eutanásia, respondendo às perguntas do jornalista, que abaixo se transcrevem.
A maioria das decisões são tomadas pelo Vaticano. Gostaria que os bispos locais tivessem mais poder, como quer o Papa Francisco? Não haveria um risco para a unidade da Igreja?
Não, considero esta ideia positiva: as realidades são tão diferentes de uma região para outra. É por isso necessário dar muito mais responsabilidade aos bispos locais. Já não podemos esperar que todas as respostas se apliquem da mesma maneira em todo o lado e sejam decididas a partir de Roma. Precisamos, portanto, de refletir sobre uma metodologia que nos permita articular as diferentes responsabilidades na Igreja: as do Papa, as dos bispos e as dos fiéis.
Que novas responsabilidades poderiam ser atribuídas aos bispos nos seus respetivos países?
A possibilidade de ordenar homens casados para o sacerdócio, bem como a possibilidade de atribuir esta ou aquela responsabilidade às mulheres. Mas também a capacidade de responder a certas questões éticas ou familiares: abençoar as uniões homossexuais baseadas na fidelidade e no amor mútuo (é o que pretendem os bispos da Bélgica), dar respostas adequadas aos pedidos de eutanásia.
Poderá então a Igreja adotar posições diferentes sobre a questão da eutanásia? Quererá isto dizer que, aos olhos da Igreja, o valor da vida varia consoante a região do mundo?
A filosofia ensinou-me a nunca me contentar com respostas genéricas a preto e branco. Todas as perguntas merecem respostas adaptadas a uma situação específica: um juízo moral deve ser sempre feito com base na situação concreta, na cultura, nas circunstâncias e no contexto.
Então, para si, a eutanásia não é necessariamente um mal?
Não, não necessariamente como tal.
É a primeira vez que ouvimos um bispo dizer isso…
Seremos sempre a favor dos cuidados paliativos e defendemos sempre o respeito pela vida, mas lamento que, a partir do Vaticano, a Congregação para a Doutrina da Fé diga que a eutanásia é sempre um mal intrínseco, sejam quais forem as circunstâncias. Esta é uma resposta demasiado simples e não deixa espaço para o discernimento. Opor-nos-emos sempre ao desejo de algumas pessoas pôrem termo a uma vida demasiado prematura, mas temos de reconhecer que um pedido de eutanásia de uma pessoa de 40 anos não é equivalente ao de uma pessoa de 90 anos que enfrenta uma doença incurável. Temos de aprender a definir os termos com mais clareza e a distinguir as situações.