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O velho pastor e a sua governança

O desenvolvimento tecnológico da atividade rural deu azo a que certas atividades caíssem em desuso, ou fossem mesmo extintas.

Como tal resolvi hoje falar de uma figura de grande importância no espaço rural durante o século XX. Emboras muitos o vissem como uma pessoa com poucas aptidões, ele tornava-se no seu exercício um profissional proveitoso e rentável.
Virado que estou para o campo, vou falar de quem melhor o conhecia, na época em que vos falo. O pastor! Sim o pastor de gado miúdo, que era o que tinha a seu cargo um rebanho composto por umas quantas ovelhas e algumas cabras. Estou a referir-me a tempos em que predominava o minifúndio e em que a mesma parcela produzia duas colheitas por ano. Ora este camponês era dos que auferia um salário inferior, embora fosse compensado com cama e mesa. Se por ventura conseguisse aguentar o ano sempre tinha umas propinas um pouco generosas.
Todo o pastor que fosse brioso, primava por acarinhar o seu rebanho e apascentá-lo com todo o cuidado, levando sob a sua guarda aos pastos mais recônditos, de modo a que o gado se fartasse, pois sem que ninguém lhe dissesse, ele sabia que à meia-barriga o gado não produzia o que estava ao seu alcance, nem se defendia das epidemias que frequentemente atacam os pequenos ruminantes.
O seu rebanho era o seu espelho, caso fosse uma figura que se destacasse pela positiva, fazia-se obedecer à sinalética de pau e manta e no caso de qualquer desmando por parte de uma qualquer cabeça do rebanho, lá lançava uma pedrada para o lado da mesma, com o propósito de a não atingir, mas sim de a amedrontar e a fazer obedecer. Na deslocação entre as pastagens, o verdadeiro pastor tomava a posição de comando na dianteira e sem qualquer desaguisado era seguido por todo rebanho como que em jeito de desfile.
O rendimento resultante do seu trabalho era a produção de leite, durante a fase de aleitação das fêmeas que compunha a sua “pastoria”, bem como uma criação escorreita, proveniente da parição que por norma acontecia anualmente em finais de verão.
Estou plenamente convicto que estou a falar de águas passadas, hoje já nada é assim, a dimensão dos rebanhos multiplicou-se, deixaram de caber na maioria dos locais, houve necessidade de pastos permanentes e devidamente cercados, havendo só intervenção humana para os conduzir e recolher. Mas é bom que se afirme, o essencial continua, só as boas condições, garantem a melhor produtividade.
Dito isto, e falando de um passado ainda recente, eu pergunto a todos quantos têm por missão o governo deste país, se não podem vir aqui colher os princípios básicos de qualquer governo. Sem a barriga cheia e boas condições de estabilidade ninguém é capaz de garantir a produtividade a que o feitor de São Bento e seus caseiros tanto apelam. Tem que se dar ao povo a segurança necessária, para que ele estime e faça produzir o seu posto de trabalho. Se por ventura os cortes na ração dessem resultado à produção, certamente que o cavalo do espanhol tinha morrido. O povo português é visto em todo o Mundo em que esteja presente, como diligente no trabalho e honrado nos compromissos, só no seu país é que é visto como preguiçoso e trapaceiro.
Para tudo isto há uma razão e bem clara, a meia-barriga fragiliza-o, o que faz com que olhe constantemente para os ponteiros do relógio, na sua segurança laboral trocam-lhe os “Passos”, colocando-o num desânimo permanente, o que o leva a perder a confiança no seu próprio país, bem como em quem usou a fraude para lhe caçar o voto nos dias em que a democracia abriu a boca.
A humildade e a visão do pastor, avaliadas por mim, suplantam todos aqueles que com graus académicos, alguns de Universidades de terceira linha, avaliam a evolução do país, sem largarem o ar condicionado dos seus gabinetes e nem contactaram quem sabe. Apenas sabem descer ao terreno num qualquer evento que lhes seja conveniente.
Aqui deixo os frutos da minha tarimba, sem proveitos de Coimbra.

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