Pontos de Vista
“Desta é que ele se passou de todo!”- dirão os meus leitores. “Os desgostos que o futebol lhe tem dado chegaram-lhe à cabeça e agora confunde o clube com partidos políticos!”.
Ora bem, meus amigos, ainda não é esse o caso. Vamos devagar e por partes, a ver se me faço entender:
UM – É verdade que, como todos os sportinguistas que sentem o clube e que não fazem parte de grupos, grupinhos ou grupelhos, para os quais “quanto pior, melhor!”, tenho sofrido com os péssimos resultados e as indigentes exibições da equipa principal de futebol do meu SCP. Tem sido, na verdade, mau de mais! Agora só faltava sermos justamente eliminados pelo Alverca, uma equipa da 3ª Divisão (para utilizar a nomenclatura antiga), da Taça de Portugal. Depois de, com mais uma derrota na nossa casa, aos pés do Rio Ave, estarmos praticamente eliminados da Taça da Liga, estamos agora definitivamente fora da Taça de Portugal. Ou seja, lá se foram as duas Taças que, com tanto custo, conquistámos na época passada. Entretanto, vamos passeando, ao longo das jornadas do Campeonato (a I Liga) uma chocante falta de fio de jogo e de fulgor competitivo, a par de uma gritante ineficácia. Mudam-se os treinadores e tudo continua na mesma, ou seja, na mais triste e deplorável demonstração de incapacidade.
A Direcção do clube e a tão falada “estrutura” não podem ser dissociadas deste estado de coisas.
A pré-época foi um falhanço clamoroso; a novela da venda/sim, venda/não do Bruno Fernandes, um pesadelo arrastado meses a fio; as decisões de vender à última hora o Rafinha e, em condições difíceis de entender, o Bas Dost, foram actos de gestão desportiva verdadeiramente suicidas, cuja gravidade só uma situação financeira de total descalabro pode ajudar a explicar; a aquisição, no último dia do mercado, de jogadores com graves problemas de ordem física e psicológica, sem o perfil necessário para a substituição dos que tinham saído (Diabé, incluído), revelou uma gestão precipitada e própria de uma direcção errática e imprevisível.
Tudo isto – e muito mais que se poderia dizer – tem sido mau demais e tem deixado os verdadeiros sportinguistas em estado de depressão e ansiedade, permanentemente à beira de um ataque de nervos.
Mas, atenção: não se “tome a nuvem por Juno” nem se passe uma esponja sobre a acção daqueles que conduziram o clube à situação financeira em que está mergulhado. À Direcção de Frederico Varandas, apesar das suas culpas, não lhe cabem responsabilidades relativamente áquilo que herdou: uma gestão populista e demagógica na proclamação constante do ódio a tudo e a todos, na tenebrosa associação às claques, nas cenas de insânia e terror que protagonizaram a administração de Bruno de Carvalho. E nem os resultados desportivos, por mais deprimentes que sejam, podem ser pretexto ou desculpa para os insultos, as ameaças e tentativas de agressão ao presidente do clube legitimamente eleito ou a quaisquer outros elementos da direcção.
A decisão da Direcção do SCP de, neste contexto, cortar com as claques da Juve Leo e do Directivo XXI é, por isso, perfeitamente justificada. E, ao contrário do que muitos jornalistas e comentadores, especialistas no “fartar vilanagem” contra o Sporting, se apressaram a dizer, foi uma decisão corajosa e higiénica, que deveria ser respeitada e louvada por quem vive à volta do mundo-cão que é o futebol(zinho) português e não se revê no populismo irresponsável da anterior administração do meu clube nem em eventos de branqueamento que tingem de suspeita outos grandes clubes. É certo que, dentro do SCP, não faltam opiniões de figuras gradas e ambiciosas, que fazem coro com esses jornalistas e comentadores de outras bandas que vendem o seu ódio ao SCP por jornais e canais televisivos, seguindo no rasto do “mediaticamente correcto” e do “jornalisticamente oportuno”. Sempre foi fácil – e próprio dos cobardes – bater em quem está por baixo, ou de preferência, caído.
É certo que, do outro lado, estão bandos de arruaceiros preguiçosos, que se habituaram a viver à custa dos apoios dos clubes e que levam a vergonha e o ódio aos estádios, aos pavilhões e às ruas. Parece no entanto que tal não impressiona os senhores jornalistas, ditos “especialistas do fenómeno do pontapé na bola”, evidenciando à saciedade que o que mais lhes importa é abater o “rival” propalando aos quatro ventos as suas falências, agoirando-lhe um futuro de derrota permanente, apelando à demissão. ”A demissão já!” é imperativo que lançam e que transborda para estádios e pavilhões, pedida, aos berros e aos pulos selvagens, por mentecaptos, drogados e bêbados intoxicados pela lábia desses parlapatões de bancada.
Tenham alguma circunspecção, meus senhores, e pensem – se disso forem capazes – no papel social da comunicação social, que, em circunstâncias graves, deve constituir um factor de pedagogia e reflexão.
DOIS – E aqui se abre a porta para os partidos políticos indicados no título. É que, tal como com o SCP, o CDS e o PSD estão por baixo e parte significativa dos valorosos escribas e politólogos da nossa praça entretêm-se a zurzir tais partidos sem dó nem piedade. O modo afável e afectuoso como o PS ou o BE são tratados, em flagrante contraste com a forma como é descarregada a ira ou a indiferença jornalística sobre as figuras cimeiras dos referidos partidos é de tal modo “exuberante” que devia fazer corar de vergonha quem se revê na sua carteira profissional de jornalista.
A crítica permanente, violenta e tantas vezes injusta com que Assunção Cristas foi “brindada” ao longo de anos, em contraste com a simpatia e benevolência disponibilizadas para Catarina Martins faz prova bastante de um tratamento discriminatório e parcial. Pode ser que, com a advento de Joacyne Moreira do Livre, apareça no cenário outra figura a repartir com Catarina os favores dos media…
Também Rui Rio foi e continua a ser o “malhadouro” de jornais e canais televisivos, em contraste com a forma como são tratados António Costa e os seus Governos – o da geringonça e o indigitado, apesar da dimensão desproporcionada deste com sobreposições inevitáveis em certas pastas. Não vou dar exemplos nominativos de alguns infatigáveis praticantes desta discriminação por respeito por mim próprio e pelo dever de reserva que continuo a preservar.
Surpresa! Surpresa! Foram os debates na campanha eleitoral, em que Rui Rio revelou uma preparação e um equilíbrio dignos de elogio. Só então, perante a evidência dessas qualidades aos olhos dos portugueses (telespectadores e leitores de jornais) é que esses comentaristas moderaram as críticas e chegaram mesmo a reconhecer nele “alguma(s) qualidade(s)”…
Continua a ser, na política como no futebol, a ditadura do “politicamente correcto”, o provincianismo disciplinado de seguir na “roda” de quem manda, de “mostrar serviço” e de viver um equilíbrio “certificado”. “Princípios” estes que traem o código mais nobre dos valores da comunicação social: a denúncia corajosa, a informação isenta e a defesa incansável da razão e da verdade. Sem heróis talvez, mas sem oportunistas ou rafeiros seguidistas por certo.
Lisboa, 24 de Outubro de 2019