Terminou o Sínodo sobre a sinodalidade, com encerramento presidido pelo Papa Francisco, na Eucaristia da manhã de domingo passado, na Praça de S. Pedro, em Roma.
O documento final foi apresentado na véspera, sábado e não terá exortação apostólica posterior, como tem acontecido com os restantes sínodos até agora realizados. Mas, desde a sua publicação, por vontade expressa do Papa, constitui texto do Magistério oficial da Igreja.
Este documento organiza-se em 5 partes, com uma introdução e uma conclusão.
Todo ele, a avaliar pela introdução e pela e I parte, pretende que a vida sinodal da Igreja esteja baseada na experiência do Ressuscitado, que foi a grande surpresa dos Doze na tarde do primeiro Domingo de Páscoa (Introdução – Jo. 20, 19-20), como já o tinha sido para Maria Madalena, na madrugada daquele mesmo primeiro dia da semana (Jo. 20, 1-2).
Depois de nos colocar diante do coração da sinodalidade (parte I), com suas raízes na Bíblia e na Tradição da Igreja, o documento toma como linha condutora o capítulo 21 do Evangelista S. João, que nos apresenta os apóstolos na barca de Pedro e a partir para a pesca, que não correu bem. Mas a obediência à Palavra de Jesus tudo mudou para melhor.
Reportando-nos, agora, à parte II, a barca de Pedro, que representa a Igreja, é o lugar do encontro, onde se constroem e vivem relações fortes e de comunhão, na pluralidade dos muitos contextos existentes. É o espaço onde se cultivam os diferentes carismas, vocações e ministérios para a missão e também se progride no exercício da corresponsabilidade.
Como Jesus convidou os discípulos a lançarem, de novo, as redes ao mar, apesar da experiência negativa que tinham vivido, também faz, hoje, o mesmo convite para a missão a todos os baptizados.
A parte III convida-nos para a revisão e a conversão dos processos que habitualmente utilizamos e nem sempre com os melhores resultados (Jo. 21, 5-6). Isso implica fazer o discernimento eclesial, sempre em ordem à missão, com permanente esforço de transparência, prestação de contas e avaliação.
Situando-se nos bons resultados da pesca abundante que se seguiu ao mandato de Jesus ( Jo.21, 8.11), a parte IV sublinha a nossa condição de peregrinos, sem deixarmos de estar radicados num lugar determinado.
Somos assim convidados a caminhar juntos, como discípulos de Cristo, partilhando os diferentes dons que recebemos do Espírito Santo. No processo desta partilha, o documento chama a atenção para os importantes instrumentos que são as Conferências Episcopais e o Primado do Papa, como também as variadas assembleias eclesiais.
A parte V e última centra-se no envio dos discípulos por Jesus: “Como Pai me enviou também vos envio a vós” (Jo.20, 21-22). E sublinha a necessidade da formação para todos os discípulos missionários, uma formação que seja integral, contínua e partilhada.
A conclusão fala no banquete preparado para todos os povos, representado naquela refeição de peixe que Jesus prepara para os discípulos, depois da pesca milagrosa (Jo. 21, 9.12.13).
As últimas palavras são para Nossa Senhora, Maria Santíssima, pedindo-lhe que “nos ensine a ser um povo de discípulos missionários, que caminha em conjunto: uma Igreja sinodal”.
No documento final deste Sínodo não constam os 10 casos, cujo tratamento foi encomendado a 10 grupos de estudo conduzido por especialistas. Um deles, o 5º, é sobre “questões teológicas e canónicas que envolvem formas específicas de ministério”, dentro do qual se inclui a resposta à pergunta sobre se as mulheres podem ser chamadas ao exercício da Ordem do Diaconado. O Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé já veio dizer que, apesar de este continuar a ser assunto em aberto, a Igreja continua empenhada em tudo fazer para que seja dado o devido lugar à mulher, tanto na vida da Igreja como na sociedade.
28.10.2024
+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda