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O que faz, o que tem, a que família pertence?

Desde há uns anos para cá, constata-se um crescente aumento na atribuição de rótulos sobre fulano e sicrano,

característico de uma sociedade com um elevado grau de hierarquização que fundamenta a opinião sobre terceiros, com base em graus académicos, nomes de família, ou em património adquirido ou herdado.
Quando conhecemos alguém, inevitavelmente surge a pergunta:  – o que faz?
Ou então: – de que família é?
Ou ainda: – onde vive e o que tem?
Estas perguntas, mais do qualquer curiosidade sobre os outros, denunciam e personificam uma ânsia em categorizar o próximo numa determinada matriz sócio económica, colocando rótulos de forma precipitada e por vezes até leviana.
Digamos que agimos, como se todos os cidadãos estivessem divididos em diferentes categorias, onde se encaixariam os políticos, os doutores, os engenheiros, os arquitectos, os professores, os padeiros, os comerciantes, os cozinheiros, os carpinteiros, os agricultores, os jornalistas, os atores, os gestores e por aí fora.
Num número infindável de colunas, feitas numa folha de Exel mental, “encaixamos as pessoas” consoante o poder que atribuímos ao seu grau académico, ao seu nome de família, ao seu património, que pensamos ser o relevante para o definir enquanto ser humano.
Em suma, sentimos que na generalidade (há excepções, é claro) as pessoas já não querem saber qual foi o livro que mais nos tocou, qual o nosso filme preferido, quais os nossos sonhos para o futuro, ou o que pensamos sobre a evolução da sociedade em que estamos inseridos, pois o que realmente lhes interessa é o que temos em termos materiais, não o que somos enquanto seres humanos únicos, autênticos e inimitáveis.

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Caros (as) leitores(as)
Valores como a nobreza de carácter, a honradez, a simpatia natural e a disponibilidade para ajudar o próximo, parecem estar fora de moda, como se diz agora, estão “out”, pois o que conta para uma grande parte da sociedade portuguesa actual parece ser: – o que fazes, o que tens, em que posso contar contigo para me ajudar a “trepar” (desculpem o calão) na hierarquia social.
São cada vez menos os que ficam impressionados com o facto de alguém ser nobre nos seus actos e sentimentos, pois o que parece interessar à grande maioria é o “pedigree” de família, o sucesso profissional que obteve, os bens ao luar que possui, ou as contas bancárias nos off-shores espalhados pelo mundo.
Esta propensão nacional para a valorização excessiva dos títulos e dos haveres de cada um, pode ter diversas explicações, mas uma das mais plausíveis pode ser encontrada num trabalho desenvolvido pelo sociólogo holandês, Geert Hofstede, no seu livro Culture’s Consequences, publicado em 1980, que se tornou numa obra de referência sobre o distanciamento hierárquico, sobre a propensão em certas sociedades para a hiper valorização dos títulos académicos e outros.
Termino esta reflexão com a frase que se tornou por demais conhecida e viral: – algo vai mal no Reino da Dinamarca (neste caso na República de Portugal)…

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