Hoje venho falar do pito. Mas de qual pito?
Podem perguntar-me com a maior das espontaneidades, uma vez que estou a falar de um termo que gramaticalmente eu considero um substantivo, mas que de região para região a sua interpretação difere. A mais comum é o pito ser uma corruptela de pinto e daí esta pequena ave designar-se por pito, cuja palavra se estende até ao frango. Se nos virarmos para a pastelaria podemos estar-nos a referir a um pastel típico de Vila Real ou a uma das partes mais afamadas do pão-de-ló de Ovar onde o pito é o que melhor se aprecia. No norte de Portugal e na voz do povo, o pito refere-se à vulva com a maior naturalidade, mas sempre com a intenção de evitar um pesado palavrão.
Na zona das Beiras, Minho e Trás-os-Montes, o pito já não é tão interessante, pois refere-se ao âmago da fruta quando está podre, mais ainda quando a mesma fruta está bonita por fora e podre por dentro. De todas as espécies de fruta que conheço, a mais propícia a esta situação é a pera, que por vezes tanta cobiça nos mete e depois de aberta tantos dissabores nos causa.
No Brasil o pito também tem várias versões. Como é um país continental e de grande dimensão, o pito nas variantes da sua linguagem, tanto pode significar reprimenda, como cachimbo ou mesmo cigarro.
No mundo do desporto e nomeadamente no futebol o pito também aparece e com uma leitura curiosa, ouve-se dizer: Foi um pito de todo o tamanho, mas que grande pito! Estas expressões apenas significam que o guarda-redes foi mal batido. Neste sentido ainda se usa a palavra frango, mas que no meu entender está a perder o seu uso em favor do pito.
Como sou beirão e por cá vivo, tenho que me referir ao pito como moléstia talqualmente a da fruta. Pode-se-lhe chamar o pito maligno, aquele que não se vê e que a parte exterior tão bem sabe esconder e até enganar quem está por fora da situação.
Claramente estou-me a referir aos humanos, que tantas vezes quer o vestuário, quer as partes visíveis do corpo dão a entender que vendem saúde, mas que os órgãos internos, estão carcomidos por um qualquer pito a que a medicina dá a devida nomenclatura. Mas que para muitos de nós, não passa de um mal ruim.
Aproveitei esta metáfora em resultado de uma conversa com um amigo. No dia em que dei corpo a este tema, o pito veio à baila com o propósito de designar as doenças que não se sentem, mas que apressam a última viagem. Por isso, é tão vulgar entre nós ouvir esta máxima: “parecia que vendia saúde e de uma hora para a outra foi-se”.
Quem escreve e gosta de pôr em comum o que lhe vai na alma, muitas vezes surpreende os seus leitores, quanto à matéria que aborda, mas o que não deixa de ser certo é que ninguém consegue contrariar o seu coração na perfeição. Se o fizer, aqui e ali, ficam remendos mal deitados, como diz a filosofia do nosso povo. Eu depois de abrir o coração deixo que o punho lhe faça a vontade. A partir deste estado de espírito, eu tenho uma certeza, ninguém melhor do que aqueles que me leem, me conhecem, por aqui digo o que sei e o que sinto, mesmo tendo a noção que não sou o dono da razão.
Face ao que deixo escrito, tenho que vos dizer que também tenho receio do pito. O tal pito a que ainda ninguém divagou seriamente sobre ele, mas dividido em vários ramos científicos, vai encaminhando muita gente para a última viagem. Também vos afirmo com toda sinceridade, sou dos que não tenho pressa.