Ao longo de toda a história, o ser humano teve sempre necessidade de se deslocar.
A mobilidade foi sempre uma necessidade que foi vivida pelo Homem, no sentido de obter a sua sobrevivência e ainda no sentido de melhorar as suas condições de vida.
Desde os longos percursos apeados de que nos falam muitos historiadores, pois temos que ter em linha de conta, que a arte plástica apenas nos mostra em montadas os que lideravam esses movimentos, mesmo por mais apetrechados que estivessem não tinham cavalaria para a décima parte, daí que o movimento apeado por terra fosse o mais utilizado.
Com o decorrer dos tempos apareceu a arte de navegar por rios e mares, bem como os carros de tração na parte terrestre, onde a comodidade e o tempo de deslocação, acabaram por ganhar muitos pontos.
A minha intenção aqui é apenas referir-me a distâncias relativamente curtas, daquelas onde o automóvel se tornou rei. Estou a falar de percursos diários ou esporádicos, de que ainda nos lembramos dos nossos antepassados fazerem a pé, e designarem por légua o que em média palmilhavam numa hora. Também não deixa de ser verdade que na segunda metade do século XX, passou a haver uma rede viária de transportes públicos que nos levavam com muita facilidade às localidades pretendidas. Certo é que esses serviços têm vindo a decrescer, não só pelo despovoamento, que aqui por as nossas bandas tem atingido níveis preocupantes, bem como a vulgarização de viatura própria, nos dias de hoje, aqui pela nossa Beira é o meio de transporte mais utilizado.
Ora como o automóvel, na qualidade de viatura própria, para ser utilizado necessita de uma habilitação legal, o que por vezes se torna difícil, em finais do século que passou, foi lançado no mercado, um veículo muito parecido ao automóvel, embora com as características mais reduzidas e uma velocidade muito limitada. Para a condução do microcar, assim se designa o veículo, apenas são necessárias umas noções muito ligeiras, sempre acessíveis a quem por forças de vária ordem não se conseguia legalizar, para que fosse autónomo nas suas deslocações, com conveniência de levar a companhia ao lado.
Esta viatura, um tanto rudimentar, apareceu no mercado a um preço verdadeiramente exorbitante, mas que não deixava de ter venda, uma vez que os de mais idade, sem habilitação, mas com dinheiro, viam ali um autêntico “Jaguar”. Para além do preço, tinha uma desvalorização galopante, o que leva a que um microcar em segunda mão se adquira a um preço muito acessível. Também temos que ter em conta que o pessoal menos habilitado, com o decorrer do tempo vai diminuindo.
Foi esta máquina que a populaça denominou de papa reformas, por ser caro relativamente à sua qualidade e poder facultar passeios a quem pode. Esta denominação depressa se espalhou de norte a sul, o que dá a entender que o nome foi ouro sobre azul.
Chegados aqui, temos que ver a parte dos reformados, os que são clientes e os que não têm necessidade de o ser por a vida lhes ter sido mais favorável, a devido tempo documentaram-se e vão circulando com o automóvel que a seu gosto a carteira lhes proporciona.
Num primeiro reparo, dá-nos a entender que estes últimos estão melhor de vida, mas pode ser uma observação aparente, pois uma possível majoração de rendimentos na vida ativa, levou-os a assumirem certos encargos, que agora os leva a ficar em palpos de aranha, pois sem que nada o fizesse prever, no seu quotidiano também apareceu alguém, que sem se fazer anunciar lhes vai esmifrando a quantia que lhes é destinada para a sua sobrevivência mensal. Ficaram estes pior com o papa reformas que lhes saiu, do que os que compraram, uma vez que esse não lhes dá prazer nem interesse de qualquer ordem. Esse papa reformas assina com o nome de Pedro Passos Coelho, que pelo que tem feito, é o homem mais vaiado em Portugal.