A vida é princípio do fim. Fim que é princípio para aqueles que acreditam na eternidade da existência.
A vida é viagem. É destino. Mas importa a viagem se não há (ou não se vislumbra) destino? Importa o destino se a viagem é incerta, dura, trágica, tantas vezes?
A vida é presença. É ausência. De facto, a humanidade anseia por presença (física- agora também virtual). Num tempo em que há um afã assoberbado e acrítico pela novidade (suposta), o homem quer estar em todo o lado, a todo o momento com todos e quer que todos, a todo o momento estejam em todo o lado com ele; num excesso de presença que se impacienta, que não se reserva nem se silencia: uma presença de sucessivos presentes… eternos.
A cultura moderna quer sondar, desvelar e revelar intimamente todos os mistérios e submetê-los; agrilhoá-los por meio do conhecimento …total, por meio de uma racionalidade… total- optimista. Uma cultura de Presença, do revelado por oposição à Ausência e ao velado. Como o modelo de racionalidade absoluta não conseguiu (consegue) resolver os principais problemas da humanidade, nem muitos dos seus mistérios, estaremos agora numa cultura de pós-modernidade- pessimista. Sem saber onde se deve ou pode respaldar. E esta mesma cultura que celebra a presença e aquilo que é manifesto coloca de novo a hipótese do invisível, do mistério, do intocável, do insondável, do não revelado … mas não necessariamente Deus nem a cosmovisão que Ele propõe (e a religião impõe); antes microvisões, pequenas narrativas locais, fortemente identitárias, incoerentes e inconsequentes, não raras vezes. Por tal vivemos debaixo destas duas realidades concomitantes: a Presença e a Ausência (complementares e antagónicas ao mesmo tempo).
A própria religião (cristianismo) está fortemente ancorada na Presença- divina (são disso exemplos os sacramentos) e tem dificuldade em falar da ausência e do seu sentido; até porque Deus é, ou pelo menos também é, Ausência. Num tempo em que há uma ausência de sentido e nada faz sentido (o que ajuda e justifica- racionalmente- ao cometimento das maiores atrocidades e desumanidades) era importante que a religião (pese embora tenha sido e seja uma, ou mesmo a maior fonte de sentido existencial nas sociedades), propusesse um sentido para a Ausência.
A ausência, e particularizando nas nossas experiências vivenciais e entendida aqui e agora como a falta de; desaparição de; separação de… revela-se algo custoso, sofrido… sem sentido! Somos seres profundamente relacionais. O desaparecimento de alguém importante que connosco comungou de tantos momentos e de todos os momentos (bons e nem tanto), congrega em si mesmo um acto de profunda reflexão, de uma funda inquietação que nos leva a uma terrível, quase que terrorífica pergunta: Porquê? De resposta nenhuma. E fazemos outra: Para quê? De vislumbre nenhum. E acabam as perguntas… sem acabarem, nunca.
Também aqui precisamos do sentido para a ausência. O que nos leva a mais perguntas: Onde? Quem? Como?.. De resposta sumida. E acabam as perguntas… sem acabarem, nunca.
Ficam as memórias vivas! Vividas!
Ao Amigo TIAGO GONÇALVES.
À minha querida MÃE.
Às contínuas gerações de Vilamendenses que fizeram VILA MENDO e nos fazem (ainda agora) a nós.
A todos os que se amargam e se consomem com a(s) ausência(s)…
Ausência: presença sofrida!