O outono acaba de entrar no seu último mês. Podemos dizer que no aspecto diurno, estamos nos dias mais curtos do ano. Ora com pouca incidência solar e as noites muito mais longas, o frio está aí para cumprir a sua função e na época que lhe é apropriada.
Já passaram os dias mais aprazíveis do outono, pois estou a falar do verão do Santos e do verão do São Martinho. Enquanto que o primeiro o povo acredita que é uma benesse que a natureza nos dá para que o milho, que é o cereal mais serôdio, fique bem seco, já o segundo tem uma base católica onde atribui a são Martinho então bispo de Tours, a partilha do seu agasalho com um pedinte que encontrou enregelado, quando seguia em passo largo na sua montada. Consta-se que a partir desse momento o tempo amainou e segundo a tradição chegou até aos nossos dias, em que pelo São Martinho o tempo ameniza.
Este cenário fez deste Santo o padroeiro dos cavaleiros, a quem presto a devida honra pelo meu passado.
Como estes dias já passaram temos as portas abertas ao frio, pois este outono já cobriu com um manto de neve as zonas mais altas do país, sobretudo no norte. A par da neve, também tem chovido bem, com chuva bastante fria, que nos torna o clima menos cómodo, para quem tem as suas tarefas a descoberto, como é o caso de quem trabalha na agricultura e tem a azeitona para colher. Estou a falar de uma das safras mais difíceis da agricultura de hoje, pois ainda que até certo ponto possa ser mecanizada, a alfaia por mais moderna que seja, não dá qualquer protecção de agasalho ao seu manobrador.
Tudo isto vai evoluindo com a temperatura a descer, para dar entrada ao senhor General Inverno, que com a sua austeridade vai oficializar a sua chegada no seu solstício, que no ano corrente acontece a vinte e um de dezembro.
É evidente que a partir daí e nos dois meses que se seguem o frio ainda mais se faz sentir, o que até se torna propício para a natureza, pois o seu repouso é maior.
Aqui pelas nossas bandas os homens da terra, dizem que janeiro deve ser geadeiro, o que quer dizer que o acentuado arrefecimento nocturno é vantajoso, já fevereiro se quer de rego cheio, para ensopar as terras de água, que se torna o sangue do solo para sustentar as produções dos meses que vêm na estação seguinte.
Por aqui temos a sorte de saber quando o frio começa a fazer as malas para a sua partida. Este anúncio faz por aqui um grande cartão-de-visita, que traz turistas de diversas partes do país para presenciarem ao vivo este fenómeno. Estou a falar da flor da amendoeira que com a sua chegada nos anuncia a queda do rigor do inverno.
Mas até lá o calendário tem os seus dias, temos que passar pelo pior, é como quem faz uma caminhada, a descida só lhe aparece depois de vencer a subida. Também é bom que se diga que o contrário também é verdadeiro.
No entanto esta época fria também nos dá certas vantagens, pois para além dos festejos nela inseridos, também é mais social, pois obriga a ficar mais por casa, convivendo e socializando com a família, que raramente acontece noutras épocas do ano.
Sempre assim foi e não acredito que vá deixar de o ser apesar dos avanços tecnológicos. Muito embora estes venham a contribuir com certas vantagens quanto ao modo de enfrentar os destemperos do clima.
Aqui chegados, tenho que vos dizer que eu sou daqueles que tenho de ter o devido cuidado, pois o frio prejudica a frágil saúde dos doentes e os idosos. Eu como pertenço a estas duas classes, tenho que me proteger a dobrar, pois doutro modo posso complicar a minha situação e até encurtar o tempo que me resta para viver.
Assim vejo o clima que me espera e as precauções que para mim próprio idealizo, muito embora não saiba se são suficientes.
Por aqui vou ficar. Espero que tudo vos corra melhor e que o quadro da vossa vida não se torne tão mau como eu aqui o pinto.
Espero aqui estar a cinco de dezembro. Até lá haja saúde para tos nós.
Zé Albano