Num diálogo é importante saber escutar, prestar atenção, ouvir tudo.
Muito mais quando Aquele que nos fala é o próprio Jesus. No caminho para Jerusalém, o Filho do Homem aproveita todas as ocasiões para entrar em diálogo com os discípulos, para os ensinar e mudar mentalidades. Parece, porém, que eles não sabem ouvir. Por três vezes Jesus falou abertamente da sua paixão, morte e ressurreição. Ignorando o que Ele dizia, os doze preferiram discutir entre si sobre qual deles era o maior; antes, Pedro ouviu só o início, sobre o sofrimento e a morte, e procurou impedir Jesus de seguir esse caminho; agora, Tiago e João parecem só ter ouvido o fim, a ressurreição, e ignorando o sofrimento e a morte, desejam apenas ter lugar destacado na glória.
Tiago e João foram dos primeiros discípulos chamados por Jesus, juntamente com Simão e André. Acompanharam-n’O desde o início e, com Pedro, constituem o núcleo central no grupo dos Doze. Apenas eles assistiram à ressurreição da filha de Jairo, só eles estiveram presentes na transfiguração. Com isso, fizeram uma particular experiência do poder e da glória de Jesus.
Agora, estes dois irmãos já não querem discutir com os outros sobre quem é o maior mas, perdendo a vergonha, vão directamente a Jesus para obterem d’Ele a garantia de que os lugares de maior honra lhes serão reservados. Quando os outros dez souberam disto, indignaram-se com eles, certamente porque tinham a mesma pretensão. Todos parecem ter esquecido o que o Senhor disse anteriormente: o único caminho para a grandeza é o serviço e a participação na sua glória pressupõe participação na sua paixão.
Jesus é o mestre dos mestres, sábio e infinitamente paciente. E pacientemente repete o ensinamento sobre o serviço: “Quem quiser ser o primeiro será o último de todos e o servo de todos”, dizia há quatro domingos. Hoje tem necessidade de insistir: ”quem entre vós quiser tornar-se grande, será vosso servo, e quem quiser entre vós ser o primeiro, será escravo de todos”. Assim, esta regra essencial é sublinhada por Jesus três vezes. Só as predições do seu destino de morte e ressurreição vêm proclamadas com igual frequência. Não existe nenhuma outra coisa que o Senhor nos queira dizer tão expressamente.
Jesus coloca os discípulos no meio de duas referências: o comportamento dos grandes do mundo e o comportamento do Filho do homem. Desse modo, somos colocados entre um exemplo que há que evitar e um exemplo que há que seguir. Pomos os olhos no modo de proceder dos poderosos do mundo, com o eco da palavra de Jesus: “não deve ser assim entre vós”. E voltamos o olhar para “o Filho do homem que não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida pela redenção de todos” e nos manda: “como Eu fiz, fazei vós também”.
A vida de Jesus, toda a sua missão, é um serviço aos homens. Vem para servir e dar a vida pela redenção de todos. Somos escravos do pecado e da morte. E nenhum ser humano tem capacidade para se libertar desta condição. Precisamos de uma terceira pessoa e da sua ajuda. Por isso o serviço de Jesus à humanidade cumpre-se quando nos liberta do pecado e da morte, através da sua cruz e ressurreição, e nos reconcilia com Deus, dando-nos a plenitude da vida. Libertos dessa escravidão, podemos colocar-nos, voluntariamente, ao serviço dos outros. Passámos da servidão ao serviço.