É impossível não ter ouvido falar em Inteligência Artificial (IA ou AI) ou pelo menos na sua forma de manifestação mais popular o ChatGPT.
É possível que essas referências lhe provoquem um misto de entusiasmo, admiração e curiosidade, mas também receio e eventualmente algum medo.
Tive oportunidade de participar nos últimos dias, em 2 Seminários (abertos à comunidade) onde se abordou essa temática: “Inteligência Artificial – ChatGP Quê?” organizado pela Delegação Distrital da Guarda da Ordem dos Engenheiros e “Ciência de Dados, Inteligência Artificial e BlockChain” organizado pela Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico da Guarda.
Quanto mais informação absorvo sobre essas matérias, mais semelhanças encontro entre os ceticismos, as dúvidas e desconfianças que no início dos anos 90 do século passado suscitavam as referências a uma coisa (então) nova, designada por “Internet”.
A “Internet” veio revolucionar a forma como comunicamos, como nos organizamos, como comercializamos, como nos divertimos, como informamos e acedemos à informação e como nos comportamos. É uma ferramenta indispensável ao nosso modo de vida.
E é hoje claro que quem mais cedo despertou para o fenómeno “Internet”, mais cedo o entendeu e mais cedo dele pode tirar proveito.
Tendo em atenção as muitas semelhanças de perceção das duas “coisas” – Internet e IA – considerando o que se passou com a evolução histórica daquela, parece-me claro que a atitude correta a tomar perante as evoluções no desenvolvimento da Inteligência Artificial deveria ser de atenção, curiosidade, sentido critico mas ao mesmo tempo de abertura e disponibilidade para a aceitarmos … como inevitável.
Será que as apreensões, incertezas e ameaças que hoje nos suscitam as alusões à “Inteligência Artificial”, são justificadas? Estou certo que sim, como também estou certo que é importante que não ignoremos ou que apenas não nos desfoquemos do potencial benéfico que este movimento tecnológico revolucionário nos pode trazer.
Tratando-se de uma “ferramenta”, as exigências de produtividade e competitividade que a nossa sociedade incessantemente procura irão obrigar a que seja rápida e universalmente adotada. E quem não o fizer, vai um dia lamentar ter perdido uma grande oportunidade.
Como ouvi hoje ao Prof. Miguel Salgado dizer “quando se tem um fósforo, não se voltam a friccionar pedras”.
Tem perigos? Tem. Mas fugir deles só irá atrasar a evolução da nossa curva de aprendizagem. A solução é enfrenta-los, entende-los e corrigi-los. A sociedade tem de acelerar o processo de aceitação do fenómeno a começar pela Escola, pelo que o recurso à IA tem de passar a fazer rapidamente parte dos projetos educativos. A produção de informação começa a ser de tal forma disruptiva que têm de ser rápida e aceleradamente repensados quer os modelos de ensino quer os modelos de avaliação. Da produção mais ou menos estruturada e com traços de grande coerência de “obras” resultantes do tratamento e compilação de uma grande quantidade de dados pela IA, resultará mais e talvez melhor informação, mais isso não significa que se esteja a produzir mais e melhor conhecimento.
De fato, apesar do meu otimismo, preocupa-me o fato desta revolução implicar uma “aprendizagem” suportada numa enorme quantidade de elementos de informação, não necessariamente validados e corretos, nem criteriosamente selecionados, talvez muitas vezes desrespeitando o direito a ser-se autor e aos fatores exclusivos e distintivos das obras. Dados errados vão necessariamente gerar “aprendizagens erradas”, e assim, primeiro que tudo, há que garantir que a informação que serve de base à “aprendizagem” destas plataformas seja credível e legítima, para não provocar crises de produção e desinteresse pela conceção de trabalho científico e criativo.
Devemos exigir aos detentores das plataformas de IA (e são muito poucos) que acautelem o respeito pelos princípios da ética civilizacional da sociedade onde se integram e, adicionalmente, que garantam acesso universal e não exclusivo às suas plataformas.
Devemos exigir que as autoridades reguladoras cumpram o seu objeto, que tratem dos processos de definição de regras e do controlo do seu cumprimento com a celeridade que esta disrupção tecnológica recomenda, ou seja, em tempo útil.
Devemos exigir que as autoridades políticas, tenham a coragem de agir antecipadamente, garantindo o equilíbrio entre os incrementos de produtividade que a IA pode provocar, a reconversão funcional dos trabalhadores, mas sobretudo o apoio e tratamento digno aos titulares de empregos em risco de desaparecer.
Agradou-me saber que no Instituto Politécnico da Guarda estão atentos e envolvidos com o fenómeno IA e na vanguarda do que de melhor se investiga e ensina nesta área em Portugal. Desejo que os seus Dirigentes, Investigadores e Docentes continuem o bom trabalho e não deixem perder a vantagem comparativa que têm nesta inovadora área, a bem do prestígio da academia e do desenvolvimento da nossa região.