O “repto” que me lançava na sua última carta, “como é possível manter o seu optimismo nestes tempos de amargura?”, tem retinido em mim como um Leitmotiv, digamos (desculpe o germanismo).
O Cosmos é uma entidade tão vastamente inteligente (uso “Cosmos” para não usar a palavra DEUS, que pode feri-lo, ademais de conter, digamos, mais objectividade), tão vastamente inteligente, dizia, que, de nós, apenas quer uma absoluta atenção ao que se passa.
Sucede é que esta absoluta atenção é quase impossível da nossa parte.
Por um lado, nem a nossa largueza de horizontes, nem a nossa cultura, nem a nossa perspicácia são assim tão magnos; por outro, o quotidiano suga, quase em absoluto, a nossa energia para meditarmos.
Quantas vezes nos isolamos para tal meditação, ou, para o mesmo fim, decidimos ir sós pelo campo fora? Ademais para nos oxigenarmos e muscularmos… Criarmos um paradigma espiritual grandioso é, assim, uma postura prévia.
Nada existe por acaso. E quando, como corolário, somos, estamos, aptos a entender mesmo o que aparece como uma enorme estranheza (sobretudo no âmbito do humano), o gozo de estarmos alcandorados a um patamar supremo – que é, também, a sublime ordem cósmica –, portanto de entendermos a plenitude das situações – da Vida, da Totalidade, claro –, assim tudo o resto adquire sentido – fruamos ou responsabilizemo-nos. Adquirir sentido é, destarte, ver a saída para a aporia, sentir que a solução, mais que estar ao nosso alcance, está já na nossa posse. É o absoluto optimismo – sem quaisquer reservas. Os nossos gregarismo, inseparabilidade da comunidade e incoercível auto-respeito postulam, bem entendido, a nossa irrefreável, benevolente, psicagogia.
Certo, certo, é que tudo está conectado com tudo. O que nos incumbe é muito pouco: sermos sérios e trabalharmos incessantemente. De outro modo: pormo-nos em questão, estarmos dispostos à mudança, sermos rocha e bambu simultaneamente. Ainda – e muito simplesmente: “Conhece-te a ti mesmo”.
Em tempo – espantoso – de alienação não é fácil. Sucede é que nós nada temos que ver com ele – somos o (um) escol.
O que assoma, o ruidoso, o oco, é o vácuo. (Muito deste ruidoso e vazio esbraceja e/ou crê-se e afirma-se “moralmente superior”…). No fundo, claro, anseia é por qualidade, luz, paz.
Em tudo isto, não é necessário reiterá-lo, auto-responsabilizarmo-nos, assumirmos a nossa incoercível, indefectível responsabilidade – e limitações – será o alvo primeiro da nossa atenção.
GUARDA-24-III-2015