Meu caro Ano Novo, estou muito apreensivo com o que nos poderá acontecer neste 2022.
Tenho a impressão de que nos prometeram o fim da pandemia, mas, finalmente, mentiram-nos. Tomámos uma dose e pensávamos que já estávamos protegidos. Depois foi necessário uma segunda, que não foi suficiente e, muitos de nós, com uma terceira, terão certamente de se proteger com uma quarta ou outras ainda.Parecia estar tudo controlado, embora com máscaras, desinfetante, distanciação social e vacinação e constatamos mais uma variante do vírus e outras que virão. No verão pudemos retomar uma vida mais ou menos normal e pudemos saborear a liberdade, o convívio, a cultura, enfim, a vida. Como sabes, meu caro Ano Novo, este que acaba de findar, o vinte-vinte-um, foi, apesar de tudo um ano para esquecer. Lembremo-nos de algumas passagens:Há imagens que nos ficaram para sempre nas nossas mentes e que já nos convencemos que são a consequência do nosso pouco respeito pela preservação da nossa mãe natura: os mega incêndios na Califórnia, Estados Unidos da América, que, com a conjugação de anos de seca e altas temperaturas, destruíram habitações e vidas humanas e consumiram quilómetros quadrados de vegetação.Meu caro Novo Ano, mais perto de nós, assistimos aos primeiros refugiados climáticos no seio dos próprios países da Europa, com a destruição de aldeias e sítios que o ímpeto imparável das águas diluvianas varreu literalmente do mapa, pensando que isso só poderia acontecer longe das nossas terras. Lembras-te, certamente, caro Novo Ano, das terríveis imagens de imigrantes que preferem arriscar a vida em travessias marítimas por vezes mortais, na tentativa de realizar o sonho de fugir à miséria e ao desespero, açaimados em países onde impera a ditadura e a falta de respeito pelos elementares direitos humanos. E que pensas tu, Novo Ano, das vítimas de um conflito quase esquecido que se vai perpetuando na Síria sob o regime de Bachar el-Assad que destruiu um país e forçou milhões de habitantes nos caminhos horrorosos de um exílio precário e incerto?Certamente que deste conta, caro Ano Novo, das imagens de uns superbilionários, como Jeff Bezos, da Amazon, Elon Musk, da Tesla, Richard Branson, do grupo Virgin e de outros ainda que gastaram aquilo que nós consideramos fortunas, mas que para eles são uns tostões, unicamente para se divertirem, como verdadeiras crianças. Não sei o que tu pensas, meu caro Ano Novo, mas eu considerei essa infantil aventura como um verdadeiro atentado a todos os que ganham o pão com muito suor e sacrifício. Foste certamente a Glasgow, meu caro Ano Novo, e deste conta da dificuldade de os países se porem de acordo para encontrarem as vias em pôr termo à destruição anunciada do planeta e da espécie humana, coisa demasiadamente séria, mas que parece não incomodar os nossos políticos, a não ser a jovem visionário Greta Thunberg que alguns, para a desacreditar, já a consideram doente mental ou autista. Já não te quero maçar mais, meu caro Ano Novo. Só espero que estejas atento durante o ano que começa e não nos mostres apenas imagens tristes, desoladoras, como as que nos são transmitidas pelas televisões. O que eu mais gostaria, meu caro Ano Novo, era de poder ir livremente ao teatro, ao cinema, à ópera e de participar em actividades culturais que tanto nos faltaram. Também fomos privados dos nossos familiares e gostaríamos de continuar a apreciar o convívio social dos nossos amigos que humanizam o nosso quotidiano.