Ora cá estamos nós em meados do primeiro mês do ano. Bem caracterizado pelo frio como quem vive da terra aqui pela nossa região deseja.
As baixas temperaturas dão mais repouso ao solo, evitam a proliferação de certas ervas daninhas, e ainda exterminam determinada bicharada que é prejudicial às culturas que se vão lançar à terra quando as temperaturas se tornarem mais suaves
O frio de janeiro, em boa verdade custa-nos a suportar, em especial para aqueles que como eu gostam de andar na rua, sem que despendam esforço em qualquer atividade. Sei bem que recolhido teria melhor conforto, mas não é menos verdade que a rua foi a minha escola. Tudo aquilo que eu sei e fiz, embora tenha tido algumas partes teóricas em zonas devidamente abrigadas, foi na rua que eu exerci toda a prática que me levou a ganhar a vida. Daí vem a minha máxima: – A rua foi a minha escola, não sou pássaro de gaiola!
Daí que eu me veja forçado a recorrer a certos agasalhos que já estão fora de moda, mas que identificam com a minha própria maneira de ser. Estou a falar de roupas feitas de um tecido grosseiro e de lã, denominado por burel, muito embora aqui pela nossa região seja mais conhecido por surrobeco. É este material que dá corpo a capote alentejano que por vezes uso, as samarras que tenho e dos fatos completos que gosto de ter. Também vos digo que não faço uso desta roupa todos os dias, apenas a visto quando acho que daí posso tirar alguma vantagem, ou em mostras onde a tradição tenha determinado interesse.
Mas este frio de que vos falo também traz vantagens, nomeadamente a quem vive do fabrico do nosso emblemático queijo da serra da estrela, pois sempre se disse e até agora ninguém o desmentiu, que o melhor queijo é o de janeiro. Estamos a falar no mês da fabricação, atribuindo aí o tempo da cura, podemos verificar que as famosas feiras de queijo, só vêm a ter lugar nos meses de fevereiro e março.
Neste mês de janeiro também se aproveitava por aqui o frio para e em alguns casos ainda se aproveita, mas em reduzida quantidade, no tratamento de enchidos, bem como a salgação de certas partes do porco, tais como os presuntos e outras partes que lhe possam garantir melhores sabores em épocas mais temperadas em que se pode comer fora de casa a comida sem passar pelo lume.
O nosso povo, na sua filosofia popular costuma dizer que o mês de janeiro é o mais comprido do ano. Embora não seja verdade, esta afirmação vem do facto de os dias frios serem mais difíceis de passar e ainda por haver menos dinheiro. Pois vimos da quadra natalícia em que se gastou mais e entramos logo no mês em que tudo sobe de preço desde o primeiro dia, para só se auferir o possível aumento para o nosso bolso no final do mês. Tudo isto faz com que o mês pareça maior. Todavia, e em minha opinião, que ainda ninguém a quis contrariar, o mês mais comprido do ano é de outubro, pois além de ter trinta e um dias como mais seis que o ano tem, temos que que lhe acrescentar mais uma hora, que é aquela que se atrasa no último domingo em que conta com vinte e cinco horas. Será por isso justo dizer que este mês é o que dura mais tempo.
Mas janeiro vai caminhando com a cadência do calendário e à mediada que avança vai deixando para traz os dias mais pequenos, que por costume até são os mais frios, pois é quando o sol incide menos sobre eles.
Como o nosso povo diz, baseado no saber da sua experiência adquirida, em trinta um de janeiro e no que toca a dia solar, quem muito bem contar, hora e meia lhe vai achar. Ora havendo mais noventa minutos no tempo diurno, é tempo que sai do período nocturno, por aí podemos ver que o sol tem mais tempo para aquecer o hemisfério norte, que é aquele em que vivemos. Espero que me tenha feito entender. Se nada contrariar os meus planos aqui voltarei no primeiro do mês que vem.
Haja saúde e paz para tos nós.