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Hara-Kiri à vista?

Pontos de Vista

Há chefes e chefes! Advirto, porém, que estas considerações introdutórias não se referem, necessariamente, às lideranças político-partidárias, estendendo-se à generalidade das chefias nas mais diferentes organizações. Onde quer que haja uma estrutura hierarquizada, há, inevitavelmente, chefias: desde os clubes desportivos, às selecções nacionais, da administração pública às empresas – pequenas, médias, grandes ou monopolistas -, desde as associações recreativas às instituições religiosas, desde os partidos políticos aos órgãos de soberania, há chefes, superiores hierárquicos investidos da correlativa responsabilidade de direcção, disciplina e comando. Independentemente da designação que se lhes dê – mister, professor, director, gerente, patrão, ou administrador, CFO´s ou CEO´s, Bispo, Provincial ou Superior Geral, gestor, coordenador, comandante, governador ou secretário-geral, secretário de Estado ou ministro, primeiro-ministro ou chefe do governo, Presidente da República ou Chefe de Estado, todos eles exercem funções de chefia, com os inerentes direitos e as correspondentes responsabilidades. E, em todas as organizações, os chefes são muito diferentes entre si.
Na verdade, há chefes que não sabem trabalhar em equipa nem gostam de delegar competências, desconfiados dos seus colaboradores que não sejam yes men (ou yes women), acabando por concentrar em si a tomada de todas as decisões, sempre receosos de que outros tentem boicotá-los ou privá-los do protagonismo e dos louros a que se julgam com exclusivo direito; outros há que fogem das situações de risco por poderem envolver consequências de maior melindre ou imprevisibilidade e evitam dar a cara nos momentos mais difíceis; há, pelo contrário, os que são capazes de distribuir tarefas, de empolgar os seus colaboradores e subordinados e que sabem, sem renunciar ao necessário controlo ou supervisão, apresentar e cumprir projectos motivadores; há os que sabem incentivar e louvar, sem deixarem de, sendo caso disso, censurar e punir, que recusam a cartilha dos jobs for the boys, fazendo, pelo contrário, questão de escolher colaboradores competentes e com provas dadas; mas há também os que cultivam e alimentam um permanente clima de ciúme e intimidação, ao serviço de objectivos de promoção pessoal, os que “dividem para reinar”, mais preocupados com as suas ambições do que com o bem geral, que deixam “cair”, nos momentos para eles mais adequados, os funcionários incómodos; há os chefes autoritários, irascíveis e, até, intratáveis, nos modos e na linguagem, que não distinguem a necessária disciplina de gestos evitáveis de comando ou prepotência; mas há também os chefes simpáticos, sorridentes, mediáticos e “fixes”, por vezes só na aparência; há os que são serenos, previsíveis nos seus comportamentos, que primam pela correcção de maneiras e pela boa educação, como também há os chefes “florentinos”, distantes, egoístas e sem sentido do compromisso, com tiques de aparente superioridade; há os que dirigem ou governam segundo a agenda dos media, subordinando a sua acção e as suas promessas a princípios populistas e demagógicos, sem preocupação de coerência ou de verdade. Há, enfim, os competentes e os incompetentes, os cultos e os ignorantes, os que têm carisma e os que, embora pensem o contrário, não nasceram para governar a coisa pública…
Vem tudo isto a propósito da liderança política do actual Executivo e do aparente suicídio eleitoral para que parecem encaminhar-se os partidos da coligação governamental. Os portugueses, nomeadamente os tradicionais eleitores do PSD, interrogam-se com perplexidade sobre a estratégia de Pedro Passos Coelho, questionando a sucessão e a gravidade dos erros que vão minando a credibilidade do Governo, num momento em que o PS já renovou a sua liderança, assim relançando a esperança de uma folgada vitória eleitoral em 2015. Na verdade, a um líder socialista que se revelou incapaz de tirar partido do profundo descontentamento dos portugueses resultante de três anos de austeridade quase draconiana, sucede outro, muito mais frio, racional e experiente, mais capaz de penetrar no eleitorado à esquerda e à direita do PS.
Não se iludam Passos Coelho nem os dirigentes do PSD: o Partido está a ser conduzido para uma situação de não retorno. Divisa-se uma provável débacle eleitoral sem precedentes nas próximas legislativas, agravada pela situação resultante das gravíssimas perturbações ocorridas na Justiça e na Educação. No primeiro caso, assistimos à tentativa de implementação apressada de uma reforma, sem a necessária ponderação prévia e a aconselhável (e aconselhada) prudência, substituídas, uma e outra, por um voluntarismo inadmissível e pelo caos processual resultante da inoperacionalidade da plataforma informática CITIUS. No caso da Educação, assistimos, revoltados, ao espectáculo chocante dos erros sucessivos na colocação dos professores. Alunos sem aulas, professores sem colocação (ou com múltiplas colocações simultâneas ou sucessivas), explicações impróprias, dadas, no Parlamento, por um ministro à deriva num ministério minado, tudo isso veio deteriorar a situação, já muito fragilizada, do governo.
E, perante isto, o que faz o primeiro-ministro? Nada, rigorosamente nada! Mantém a confiança nos ministros…
Não basta que Pedro Passos Coelho (PPC) revele uma postura pessoal psicologicamente equilibrada, maneiras educadas, a que acresce uma voz bem timbrada e uma presença cordata, constituindo, nesse domínio, um perfeito e agradável contraste com o seu antecessor, José Sócrates.
Também não basta que PPC se saiba impor a Paulo Portas, o imprevisível líder do CDS, que, no Verão de 2013, surpreendeu o país com o anúncio da sua “demissão irrevogável”, logo a seguir “revogada”, em grande parte devido à apaziguadora reacção do primeiro-ministro.
Porém, estas características positivas de PPC situam-se ao nível da forma, do comportamento pessoal, embora podendo, até certo ponto, revelar alguma capacidade de liderança. Mas não traduzem competência política nem projecto de liderança ganhadora para 2015.
Soma-se ainda aos descalabros ministeriais, o caso “Tecnoforma”, a que Passos Coelho não soube reagir atempadamente e com a determinação desejável. E, para culminar o cortejo de desgraças que se abateram sobre o país, os casos do colapso dos impérios GES/BES e, agora, a perda chocante de valor por parte da PT!
Não é desculpa o estafado argumento de que o governo não se envolve em negócios privados!
Como escreve o jornalista do “Expresso – Economia”, Luís Marques, “em relação à conturbada fusão PT-Oi, o Governo tem assumido o comportamento de Pôncio Pilatos no julgamento de Jesus Cristo: lava as mãos”. Na verdade, “a relação entre a Oi e a PT foi, é e será um processo político, um negócio tratado entre governos envolvendo empresas dependentes do poder”.
Ou seja, e em conclusão, o PSD que preste atenção: está a acender-se o alerta vermelho!

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