Conheci pessoalmente Günter Grass escassos meses após ter sido galardoado com o Nobel.
Desde, havia anos, que recebia a agenda cultural e informativa – com uma programação notável da qual relevava o acolhimento que lhe era dispensado pelas colónias alemã e forânea residentes no Algarve – a agenda cultural, dizia, emissão desse encantador espaço singular que era o Centro Cultural de S. Lourenço de Almancil, situado ali mesmo ao lado dessa preciosa jóia da azulejaria que é o dito templo.
Foi fácil – é sempre fácil com gente do mais elevado nível – fazer amizade com o casal Volker e Marie Huber, os proprietários do referido Centro.
Quando recebi o convite para a sessão em que Günter Grass iria estar presente – dada a importância do que, para mim, estava em jogo – não hesitei em fazer os 560 quilómetros até lá, com pernoita em Beja.
A Literatura não é propriamente em mim um interesse prioritário. De resto, cada vez mais, me sinto distante dela. A afirmação de Heraclito, “Homero merece ser expulso dos concursos e ser açoitado, bem como Arquíloco”, soa-me quase a música gregoriana. Bem sei. Existe, v.g., um Camões. Mas esse foi, era, é, infinitamente mais que um literato. Há que estudá-lo a fundo.
…Não é propriamente em mim um interesse prioritário. Dizê-lo não é farronca nenhuma. Em princípio não quero que a minha produção poética, há muito interrompida, seja publicada. Da confissão que segue peço desculpa.
O melhor professor que tive em toda a minha vida, o Exº Senhor Dr. Abílio Alves Bonito Perfeito, personalidade de muito avantajada altura espiritual e meu consultor literário, dizia-me: “Afirme-se como uma das vozes mais significativas da poesia portuguesa”.
Mas há várias razões por que não quero que seja publicada.
Não estou para desnudar-me; o tempo necessário para a poesia pode ser infinitamente melhor usado noutras tarefas; pelos vistos a minha poesia apenas se destinaria a um grupo estrito. Aliás lembro também o que, salvo erro em Estudios sobre el Amor, Ortega y Gasset ensinou a tal respeito.
Aos meus amigos Dr. Valbom e Arqº Saraiva, que, há meses, se ofereceram, respectivamente, para apresentar e ilustrar um livro meu, n’ “A Tasquinha” disse mais ou menos isto. Para ambos uma imperecível gratidão.
Contudo, se me alonguei sobre mim (de novo as minhas desculpas), foi apenas para reforçar que não foi a Literatura que me levou a Almancil. De resto fui lá duas vezes, porque a 1ª apresentação, por doença de Grass, gorou-se; transferiu-se para duas semanas depois. Total: 2.240 quilómetros.
A Alemanha, digamos, é uma paixão minha. Ademais porque a adesão dos alemães ao nazismo sempre me pareceu uma história muito mal contada.
Comecei a levantar o véu com um artigo há muitos anos publicado na revista Praça Velha (“A Fatalidade Europeia”). Continuei a bater a tecla com a apresentação do livro do Dr. Adriano Vasco Rodrigues “De Cabinda ao Namibe – Memórias de Angola”, na Casa da Cultura de Coimbra (28-X-2011), e, mais recentemente, com “ E Viva Angola !!”, publicado na revista Nova Águia, um requisitório contra essa infâmia que é o denominado Acordo Ortográfico.