É tempo do azeite

Nesta época do ano e já na parte final do outono, ao longo dos anos aqui pelas minhas bandas

o que se tem manifestado mais no que concerne à agricultura, tem sido a colheita da azeitona e o fabrico do azeite. Desde sempre o azeite foi o nosso mais precioso tempero, pois sem azeite não se apreciavam as couves, nem se valorizavam as batatas, que foram durante várias décadas a base da alimentação do nosso povo mais humilde. A almotolia do azeite na mesa do pobre, bem como o pão eram dois bens que dignificavam a mesa e demonstravam algum bem-estar numa casa modesta.
Hoje o azeite já não tem o valor de outros tempos, a evolução dos conhecimentos culinários, faz com que o mesmo possa ser substituído e até alterar o paladar de modo a que seja apreciado com outros requintes.
O azeite hoje é colhido em grande parte por aqueles que cultivam a terra, ao contrário de outros tempos, em que a terra era cultivada pelos rendeiros, mas o azeite bem como o vinho, eram pertença dos senhorios. Em consequência disso o azeite era muito valorizado relativamente à mão-de-obra que era envolvida na colheita da azeitona. Eu posso afirmar, sem qualquer receio de engano, que nos primeiros anos da década de sessenta do século passado o preço do litro do azeite era de dezoito escudos, equivalente à jorna do trabalhador rural envolvido nessa tarefa. Se por ventura se tratasse de uma jornaleira, esse valor descia para metade. No meu ponto de vista era injusto, mas não deixava de ser verdade.
Acontecia também que em muitas aldeias de montanha aqui da região, o clima não era propício ao cultivo da oliveira, daí que muitos dos jornaleiros optassem por descer às terras mais baixas e trabalharem a jorna a troco de um litro de azeite e para as mulheres a equivalente metade.
Hoje este modo de vida já não acontece, pode acontecer que alguém apanhe a azeitona de outrem, mas de modo diferente. Isto é, divide-se a produção em três partes, duas para quem trabalha e uma para o dono das oliveiras.
Outra solução é quem tem as oliveiras é ter de colher a azeitona. Ouço dizer a muitos dos que têm as oliveiras que entretanto vieram a herdar, que são escravos do que têm. Falam assim aqueles que seguiram uma vida mais desafogada e que agora em tempos de aposentação se veem forçados a trabalhos que em tempo dos pais nunca fizeram.
Também não deixa de ser verdade que aqui existe um valor sentimental, pois damos mais valor ao que era dos nossos pais depois de os ter perdido. Também temos o prazer de saber a origem deste bem precioso, pois quando é adquirido nas cadeias de distribuição desconfiamos sempre da sua origem, mesmo com a leitura muito cuidada do rótulo.
Por outro lado, ter o nosso azeite em casa nesta altura do ano é para nós uma grande satisfação, pois temos que ter em atenção que temos o Natal à porta e que é na noite de consoada que temos a ementa mais enobrecida pelo azeite, pois adoça-nos as couves e enriquece o bacalhau. Pela parte que me toca, ainda vos digo que me dá muito mais prazer saborear a roupa-velha no próprio dia vinte e cinco.
Uma das condições em que o azeite tirou melhor partido, é o modo como ela é acondicionado, pois há sempre aquele cuidado de o defender de qualquer impureza que lhe possa transmitir um mau gosto, que é sempre muito irritante para quem se depara com este falhanço.
Posso dizer que ao longo que sete décadas que vou dando conta de mim, tenho visto tudo à minha volta a evoluir num acelerado galope, mas o uso do azeite esse mantém-se inalterado relativamente ao gosto da minha pessoa. Ainda são os olhos do azeite em cru que dão sabor ao caldo verde e amaciam a alface em salada. Isto para não falar de outras coisas onde não dispenso o uso do galheteiro.
Por aqui fico. Espero voltar a vinte e um dezembro, já com a vida inerente ao Natal numa grande azáfama.
Até lá. Haja saúde para todos nós.

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