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E assim vai o mês de agosto…

José Augusto Garcia Marques

Juiz Conselheiro do STJ (Jubilado)

1 – Agosto começou em festa: decorriam as Olimpíadas de Paris. Devo dizer que não fiquei encantado com a cerimónia de abertura dos Jogos. Mas, uma coisa é certa. Paris foi parte integrante e central das duas semanas por que os mesmos se desdobraram. Os Jogos correram bem, muito bem mesmo no que diz respeito à segurança. Do ponto de vista desportivo saliento os seguintes momentos: as vitórias, na natação, do campeão francês Léon Marchand; o sublime salto à vara de Armand Duplantis, de 6,25 metros, que bateu o record do mundo, deixando a grande distância todos os outros competidores. Uma afirmação fantástica e rara de superioridade de um atleta que faz a admiração unânime do mundo desportivo (MONDO é o petit nom por que Duplantis é conhecido). E, enfim, as medalhas portuguesas de Patrícia Sampaio, que ganhou o bronze no judo, de Pedro Pablo Pichardo, que alcançou a prata no triplo salto e, principalmente do ciclismo em pista, com Iúri Leitão, a ganhar a prata na modalidade Omnium, e do mesmo Iúri e Rui Oliveira, que conquistaram o ouro olímpico na modalidade Madison. Foram exibições de fulgor atlético e de visão estratégica, que deixaram os portugueses entusiasmados.

Apagada a chama olímpica, foi realizada a cerimónia de encerramento, que teve momentos espetaculares, tendo a bandeira olímpica passado para as mãos da maire de Los Angeles, cidade onde decorrerão os Jogos Olímpicos de 2028.

2 –Entretanto,aguerra prossegue, melhor dizendo as guerras prosseguem. Inesperadamente, no começo de agosto, a Rússia foi atacada e invadida por tropas ucranianas. Cansados de serem atacados no seu próprio território e de assistirem à progressiva penetração dos russos pelo Donbass (Lugansk e Donetsk), e dotados finalmente de mais meios militares de ataque fornecidos pelo ocidente, os ucranianos voltaram a surpreender. Tratou-se de uma operação de consequências imprevisíveis, uma vez que a ampliação do teatro de guerra, quando existe uma clara desproporção de meios em benefício da Rússia, não permite ser muito otimista perante a reação inevitável dos agora invadidos. De qualquer modo, os homens de Kiev mostraram uma capacidade de iniciativa que poucos admitiam como possível, capturaram centenas de militares russos, ocuparam dezenas de localidades e obrigaram à deslocação de cerca de 150 mil civis. Em suma humilharam Vladimir Putin, mostrando as limitações do seu regime autocrático e repressivo. Pelas razões já expostas, não é de crer que esta situação de supremacia militar da Ucrânia se mantenha perante a resposta musculada dos exércitos russos, ajudados pela temível tropa tchetchena. A maior preocupação de Vladimir Putin será a reação das famílias dos militares capturados e de todos os que se encontram a cumprir serviço militar obrigatório de um ano. Apesar de Putin sempre ter garantido que estes jovens não seriam envolvidos na invasão da Ucrânia, a verdade é que muitos dos que montavam guarda na região de Kursk são jovens recrutas, pelo que a incursão ucraniana faz sempre levantar as dúvidas sobre as tropas que o Kremlin terá necessidade de mobilizar. Como escreveu no “Público” de 19 de agosto, o seu diretor, David Pontes, “o retrato que ontem publicámos de uma prisão ucraniana cheia de soldados russos capturados é mais uma oportunidade para lembrar que nesta guerra não é só o povo ucraniano que sofre pela ambição insensata de um autocrata que não aceita a existência de democracias à sua porta, especialmente se forem antigos integrantes da URSS, que nostalgicamente ele gostaria de recuperar” – cfr. pág. 6.

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3 – Entretanto,no Médio Oriente, a guerra de Israel contra o Hammas, em vez de se atenuar, tem vindo a escalar, na sequência da liquidação do líder do movimento terrorista pelas forças israelitas, numa operação de espantosa precisão, ao jeito dos serviços secretos israelitas (a Mossad), levada a cabo em Teerão, por ocasião da investidura do novo Presidente eleito do Irão. Sob a ameaça iraniana de, no momento considerado oportuno, ser desencadeado um ataque punitivo contra Israel, com a dimensão e a gravidade proporcionais à execução do líder do Hammas, bem como aos atos de guerra desencadeados na faixa de Gaza contra populações civis, incluindo mulheres e crianças, Israel tem vindo a reagir como de costume: com o troar da artilharia e o lançamento de mísseis contra alvos indiscriminados, assim aumentando a escala e os contornos de um cenário infernal. Trata-se de um comportamento militar que está longe de honrar Israel e que, pelo contrário, vai indignando progressivamente a população mundial solidária com o sofrimento dos palestinianos. Uma coisa é o direito a exercer uma defesa proporcional e respeitadora das leis da guerra; outra é o ataque feroz e desumano contra vítimas indefesas que da sua vida só guardarão memória da fome, do pavor dos ataques incessantes e da morte que, em minutos, lhes leva os filhos, os pais, os amigos deixando-os sem norte num inferno sem fim.

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4 – Entretanto, nos EUA, a campanha para as eleições presidenciais do começo do próximo mês de novembro está a viver um momento fundamental. Na sequência da desistência de Joe Biden e do endosso da sua posição a Kamala Harris, com sentido de Estado e alegria patriótica, as perspetivas de resultado mudaram. Os democratas sentiram que tinha chegado uma nova e inesperada oportunidade: de uma derrota anunciada, passaram a sentir-se numa situação de igualdade ou, até, em posição de favoritos. A Convenção Democrata, a decorrer neste final de agosto, em Chicago, reforçou as esperanças de Kamala e do “companheiro de ticket”, Tim Walz, governador do Minnesota, por ela escolhido para a Vice-Presidência. Os apoios expressivos recebidos em discursos vibrantes da parte de Joe Biden, Hillary Clinton, Michelle e Barack Obama (com dois discursos empolgantes e galvanizadores), Nancy Pelosi, Bill Clinton, Oprah Winfrey e Tim Waltz, que aceitou a nomeação. Hoje, dia 22, será a vez de Kamala usar da palavra e expor as linhas fundamentais do seu programa presidencial. Que aproveite o seu momentum!

Entretanto, nas hostes de Donald Trump e do seu Vice indigitado J.D. Vance, a preocupação tomou o lugar da euforia e do otimismo. Bastou um mês para as expetativas mudarem. As sondagens estão a acompanhar esta inversão de perspetivas. Mas nem tudo está estabilizado. As sondagens continuam muito próximas e em sentidos nem sempre convergentes. Ou seja, continua a haver margem consistente para a vitória de qualquer dos candidatos. Mas a vitória de Kamala/Walz é essencial. Mais que por razões ideológicas, pesa o facto de estar em causa a existência da própria Democracia : se Trump ganhar, iremos assistir à queda do único valor pelo qual vale a pena dar a vida: a igualdade entre os homens, em dignidade e oportunidades, o que significa, em termos ideológicos e mobilizadores, a Liberdade. Aquela que é, em termos genuinamente humanos, e em verdade verdadeira, inteiramente compatível com a PAZ.

Praia das Maçãs, 22 de agosto de 2024

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