A 20 quilómetros de Haselünne está Sögel,
com um espantoso pavilhão de caça rococó, Clemenswerth. Uma vez encontrei aí uma encantadora família de Bielefeld, com três filhos, que viajava de bicicleta, o bebé de colo num atrelado, bicicletas de pedais assinaladas com bandeirinhas coloridas. Uma simpatia de tal ordem que, dado o meu incipiente Alemão, me tornei aluno do filho mais velho, com c.10 anos, que, pacientemente, me emendava nos casos.
Jantámos todos num restaurante (o Francês supria as minhas deficiências quando necessário) e a superioridade espiritual daquela gente acorre-me frequentemente ao espírito. Tal como um idoso oleiro que trabalhava ao lado do pavilhão de caça ao som de maviosa música clássica.
Em Friburgo da Brisgóvia – por onde, há séculos, andou o nosso Damião de Góis – enquanto esperava para atravessar a passadeira, apareceu ao meu lado uma rapariga com calças de ganga e uma bicicleta pela mão. A conversa terminou num restaurante da zona histórica da cidade, num edifício talvez medievo, e, se não fosse a Ute Roeverkamp, economista, não sei como me arranjaria para comer. Mais. Tendo acabado de estagiar na Coreia do Sul e com idas ao Japão foi quem me explicou os apertos por que, financeiramente, há pares de anos, estes países passaram.
Nestes périplos a minha “pão-de-fôrma” era já trintona. 36 anos era quanto tinha quando a vendi. Ao descer os Alpes da Suábia na direcção de Estugarda tive um problema qualquer com o motor de arranque. Parei num parque à beira da A-8,E-52, disse o que se passava a um jovem casal com dois filhos, que acabara de chegar numa VW-CARAVELLE , e, de imediato, levaram-me ao agente de Kircheim-unter-Teck, a escassos quilómetros. Pago sempre do mesmo modo. O Chefe de Serviço de Clientes, Exº Senhor Erwin Hradek (Autohaus Ramsperger), já após encerrada a oficina, com mais dois colaboradores, resolveram-me o problema e – mesmo a instâncias – não quiseram aceitar um “tostão”. Dei uma garrafa de Porto a cada e, quando o meu itinerário é por ali, agora deixo sempre uma caixa de garrafas – no mínimo – e fruta aqui de “baixo” que ele tanto aprecia.
Sair de Berlim é muito fácil – a menos que, no derradeiro momento, nos tenhamos distraído na placa. Foi o que me aconteceu há semanas, à saída, onde já deambulava por bairros residenciais. Explicando a situação a um distinto casal numa carrinha Volvo andaram 15 quilómetros à minha frente até à placa de Potsdam. Há anos, no sul da Baviera, aonde fora visitar o Museu de Köchel-am-See e Linderhof, a buzina não parava de tocar. Bati a uma porta e o rapaz que me abriu, logo me resolveu o problema. Em cada um destes casos recompensei com uma garrafa. Ficam todos tão extremamente surpreendidos como finamente gratos.
Mais. Se o espaço o permitisse podia arrolar outros casos de superioridade, profissionalismo, dedicação, simpatia…, desde Flensburgo, Hamburgo, Quília(Kiel), Munique… Indizível!!
Há semanas, em Hamburgo, numa área de serviços Shell, no centro da cidade, uma empregada, pacientemente, deu-me uma hora da sua vida, tirou fotocópias de planta urbana, assinalou-as com marcador, ofereceu-me um café, revelou ter poderes extra-sensoriais e envolveu-me, juntamente com o jovem empregado, numa potente aura de simpatia. Tudo inesquecível. A garrafa de Porto é sempre o meu escudo e vénia. Os exemplos não têm conta, não há espaço.
Quando, há tempos, precisei de escrever um mini-ensaio contra a infâmia do “Acordo Ortográfico” e carecia de saber sobre as Escolas de Latim na Alemanha, o meu único recurso foi o Exº Senhor Andreas Wolff, da Sociedade Portuguesa de Moedas. Fez-me um trabalho inestimável, perfeito, e nem sei como agradecer-lhe tanta magnanimidade. Não sei se já tem nacionalidade portuguesa. Sei é que a todos os mencionados e não mencionados que Deus os abençoe e a quantos lhes são queridos.
O que fica, para que conste, é uma gratidão indizível para com a grandiosa Alemanha e alemães.
Ignorar a língua, cultura, arte, quotidiano, idiossincrasia… e falar como inteiramente senhor da “matéria” é monstruoso. É, porém, a regra na imprensa portuguesa que vejo. Não saberão estes inscientes que “quem semeia ventos…”. À Embaixada alemã um obséquio: a todas as personalidades mencionadas faça saber quanto apreço me merecem e como dão da Alemanha uma imagem grandiosa. Muito obrigado Exº Senhor Embaixador. Vielen,vielen danke.
O escândalo VW é demasiado global e colossal para não ter menção. O génio alemão saberá superá-lo. Daqui vai toda a minha força.
Guarda-4-X- 2015