A Liturgia da Palavra deste XXXII Domingo do tempo Comum, coloca diante de nós o exemplo dos simples e humildes, na figura da viúva da primeira leitura e do evangelho, como proposta para avaliarmos a nossa atitude de fé e confiança em Deus e o desprendimento material autenticado pela intenção e gesto interior.
Ao terminarmos a Semana de Oração pelos Seminários, em que nos propuseram como tema a interrogação do Salmista, no salmo 39, “Que posso eu esperar?”, para reflexão e oração. A nossa esperança está no Senhor, por isso renovamos as nossas súplicas pelas vocações sacerdotais, pedindo sempre para as comunidades dos Seminários, o empenho de todos para ajudar os jovens e adultos no caminho do discernimento vocacional.
Assim, a Palavra de Deus, proclamada nas assembleias dominicais, dão-nos exemplos de esperança que se expressam na confiança e fé em Deus.
A figura da viúva, naquele tempo e naquela cultura, era alguém que ficando sem marido, ficava sem quem reclamasse os seus direitos e na situação de fragilidade eram tratadas com usura nas suas necessidades económicas. Por isso, as viúvas, que socialmente não eram contadas para nada, representavam as pessoas mais pobres e indefesas da sociedade.
Assim, a Primeira Leitura do Livro dos Reis e o Evangelho de São Marcos, trazem o exemplo destas pobres e indefesas, como exemplo de confiança e fé em Deus, nuns gestos que desmascaram que usa a Religião e a Fé, para se acharem superiores e melhores que os outros,
Por isso, o exemplo da Viúva de Sarepta, que o profeta Elias interpela, na primeira leitura, é demonstrativo da fragilidade, pobreza e esquecimento social, mas que a nível de fé demonstrou ao Profeta a atitude simples e humilde de fazer segundo a sua palavra. Pois quem não tinha para si e para seu filho, foi capaz de acreditar na palavra do profeta e partilhar do findar do azeite na almotolia e do punhado de farinha no fundo da panela, sendo recompensada por Deus que não deixou que se acabasse a farinha na panela e o azeite na almotolia.
Hoje, somos assim interpelados por este exemplo de partilha de quem pouco tem e de confiança na Palavra de Deus, para contrapor à mentalidade que foi crescendo na sociedade de colocar tudo e todos as prioridades do “Eu”: primeiro eu, depois eu, em seguida eu e só quando eu não quiser é que dou para os outros.
A dimensão da Espiritualidade e da Fé, está a fazer falta ao Homem do nosso tempo, para que o mundo seja enriquecido com a fraternidade e solidariedade em vez de empobrecido pelo egoísmo que mata a abertura aos que à nossa volta precisam de ajuda.
No mesmo sentido, a viúva do Evangelho, que Jesus dá como exemplo de desprendimento em contraponto com os cumpridores da lei que ostentavam a sua esmola como sinal de superioridade. Mas como sempre encontramos, nos ensinamentos de Jesus, a valorização da atitude interior, a humildade, a generosidade verdadeira e o desapego ao que é material.
No Templo de Jerusalém, junto da Arca do Tesouro, os Escribas e fariseus tinham o palco para que com as luzes dos holofotes pudessem ser vistos, fazendo eles próprios de propósito para chamarem atenção, num gesto de tocar a campainha, que ali se encontrava e assim serem elogiados pelas quantias avultadas que deitavam na caixa. Deitavam muito, porque lhes sobrava muito.
É neste cenário, que uma pobre viúva, deita duas pequenas moedas na caixa, que sabe tímida e envergonhada pela quantia irrisória que deixava, mas é esta pobre viúva que Jesus apresenta como exemplo aos discípulos, dizendo que ela deitou mais do que todos os outros. Sim, Jesus diz aos seus discípulos que ela deitou mais que todos os outros, justificando com a atitude interior, os outros deitaram do que lhes sobrava, ela deitou tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver.
A atitude interior, marca com um selo indelével as ações de solidariedade e de partilha, de ajuda e de construção da paz, pois a autenticidade interior revelasse na maneira como procedemos perante as interpelações de ajuda que recebemos. Por isso, para ajudar, para partilhar, para do pouco que temos sermos capazes de viver a caridade, sem estar à espera de elogios e de palmas, de primeiras páginas ou fotos do momento.
Gestos invisíveis dignificam que os faz e quem os recebe.
Carlos Manuel Dionísio de Sousa