“AMAR A DEUS E AMAR O PRÓXIMO… Não há nenhum Mandamento maior que estes!”
A Liturgia da Palavra deste XXXI Domingo do tempo Comum, coloca diante de nós o Mandamento do Amor, sempre na dimensão vertical – Amar a Deus e na dimensão horizontal – Amar o próximo.
Assim, refletir sobre o maior mandamento numa perspetiva judaica, tem como fundamento o mandamento mosaico de Amar a Deus, O único Senhor, que fortalecia a fé no Deus único e verdadeiro que o Livro do Deuteronómio nos apresenta. Mas na perspetiva cristã, O Mestre que é interrogado no Evangelho, diz que o amor ao próximo se concretiza na prática, a vivência do amor a Deus.
Por isso, Jesus responde que não há nenhum mandamento maior que estes, amar a Deus e amar o próximo, ficando assim definitivamente unidos e não existindo um sem o outro.
Assim, a primeira leitura, sintetiza a Lei de Deus num só mandamento, “amarás o Senhor teu Deus”, fortalecendo a fé monoteísta, porque para o povo judeu não há outros deuses e por isso a expressão “Shema, Israel” era o início da oração de todos os que pertenciam à fé judaica, para lembrarem em cada dia “Escuta Israel, O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor” (Deut 6,4).
Esta postura orante, fortalecia a fé do povo e ligava com sentido o testemunho da fé que passava de geração em geração: “temerás O Senhor, teu Deus, todos os dias da tua vida, cumprindo todas as Suas leis e preceitos que hoje te ordeno, para que tenhas longa vida, tu, os teus filhos e os teus netos”. (Deut 6,2).
Este mandamento da lei de Deus, vai ter uma perspetiva de perfeição e de concretização, nos ensinamentos de Cristo Jesus, já que o enriquece com a dimensão prática e concreta da vida, que é o amor aos irmãos.
Assim, em Jesus Cristo, o Amor a Deus tem no amor aos irmãos a sua concretização, fundamentada pela reflexão do evangelista João, em que nos diz que ninguém pode dizer que ama a Deus, se não amar o seu irmão.
Por isso, o texto do evangelho deste Domingo, coloca um escriba a perguntar a Jesus sobre qual é o primeiro de todos os mandamentos e a resposta de Jesus leva a lembrar a lei mosaica, com todas características, como “com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças”, mas acrescenta a novidade que quer que seja praticada: “Amarás o teu próximo, como a ti mesmo”, concluindo, que não há nenhum mandamento maior que estes.
Por isso, a nossa fé cristã está intrinsecamente formada nestas dimensões do Amor: “Amar a Deus e Amar o próximo”, para que a vivência dela seja a concretização no dia a dia do Amor vivido na prática e seja o resultado da fé que nos leva a ver a presença de Deus na vida dos irmãos.
Assim, Jesus ao perceber que quem O interrogou, valorizava esta prática, mais que qualquer holocausto e sacrifícios, disse-lhe que não estava do Reino de Deus.
Por isso, hoje, somos chamados a viver a fé com esta atitude de autenticidade revelada nas boas obras praticadas naqueles que são o rosto sofredor, no isolamento, na doença, na velhice, na solidão, nos abandonados e nos “sem pátria” por caus da guerra.
Podemos rezar muito a Deus, dizendo que O amamos, mas se no vizinho que sofre não o socorremos, de nada valem as palavras, porque não são verdadeiras e autênticas.
Os desafios da fé, no nosso tempo, implicam a vivência do mandamento novo que nos deixou: “Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei”. Por isso, como discípulos que seguem o Mestre, sabemos o caminho a percorrer e seremos felizes se o fizermos reconhecendo no nosso próximo a presença de Deus.
Carlos Manuel Dionísio de Sousa